O secretário geral do PCP participou na evocação dos 60 anos de fuga da prisão de Peniche

O secretário geral do PCP, Jerónimo de Sousa, considera que a fuga de 10 presos da Fortaleza de Peniche, em 1960, foi uma das “mais espectaculares evasões de toda a história do fascismo”, que viria a ter consequências na vida política nacional e do próprio partido. Na sessão evocativa desta efeméride, que decorreu a 4 de Janeiro, o dirigente comunista alertou para o crescimento das forças da extrema direita na Europa e no mundo e, por contraponto, a importância do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, que está a ser criado na fortaleza.

No dia 3 de Janeiro de Janeiro de 1960, Álvaro Cunhal e mais nove militantes comunistas fugiram da prisão de alta segurança do Estado Novo, situada na Fortaleza de Peniche, fragilizando o regime que viria a terminar com o 25 de Abril de 1974. Volvidas seis décadas, o secretário geral do PCP, Jerónimo de Sousa, referiu-se a este episódio como um dos “mais relevantes da história da resistência anti-fascista”, que permitiu “abrir uma fenda na muralha do regime”. Também deu origem a uma nova dinâmica no partido, com jornadas de luta por melhores condições de trabalho, contra a guerra colonial e dos estudantes.
“A fuga abalou a imagem de um regime aparentemente inamovível nos seus métodos repressivos e securitários”, disse o dirigente comunista, defendendo que, também nos dias de hoje, “a luta não apenas vale a pena como é indispensável”, agora para assegurar “soluções e respostas” aos problemas estruturais do país, aos seus atrasos e profundas desigualdades sociais e regionais. Em Peniche, e perante uma plateia repleta de militantes e simpatizantes do PCP, Jerónimo de Sousa defendeu o aumento dos ordenados e do salário mínimo nacional, o combate à precariedade, aumento das pensões de reforma, defesa da produção nacional, direito à habitação, um SNS reforçado e capacitado, investimento nos serviços e transportes públicos e alargamento dos apoios sociais.
A evocação da fuga “Rumo à Vitória” aconteceu poucos meses depois de ter sido inaugurada a primeira fase do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, que concretiza “uma muito antiga reivindicação dos antifascistas”, regozijou-se.
Jerónimo de Sousa disse tratar-se de um instrumento importante numa época em que se assiste a “tentativas” de reescrever a história. “Falsifica-se o que foi a ditadura. Adultera-se o que foi a Revolução de Abril, as suas conquistas e o seu significado. Falsifica-se o papel das diversas forças na Resistência e no 25 de Abril e em particular o papel dos comunistas”, concretizou.
Museu da Resistência é um “farol de alerta”

O secretário geral do PCP alertou ainda para o facto das forças de extrema-direita estarem a tomar posições e a crescer na Europa e no mundo, destacando que, por isso, o Museu da Resistência será um “farol de alerta” e um guia no caminho do conhecimento e contra a mistificação e obscurantismo.
Para além da aposta no conhecimento e preservação da memória, o orador defendeu ainda serem necessários programas políticos que defendam os direitos dos trabalhadores, democracia, desenvolvimento e o progresso social, a soberania e independência nacionais.
Ângelo Alves, membro do Comité Central e responsável pela DORLEI, destacou que durante todos estes anos Peniche tem-se “afirmado como terra da resistência e da liberdade”, através da realização de diversas iniciativas.
No mesmo dia, e antes da cerimónia de evocação, foi feita uma visita guiada à Fortaleza, onde alguns dos ex-presos políticos, como Domingos Abrantes, relataram a forma como foi organizada e os pormenores da sua concretização.