António José Seguro, ex secretário-geral do PS nacional, que se encontra afastado das lides partidárias desde que foi desalojado do comando dos socialistas, foi convidado para candidato à Câmara das Caldas da Rainha por todos os partidos e movimentos que se opõem no concelho ao PSD.
Este convite apanhou de surpresa o ex-chefe dos socialistas, que recentemente apresentou nas Caldas, – numa sessão bem concorrida com pessoas de todas as proveniências partidárias – o seu livro “A Reforma do Parlamento Português”, resultante da sua tese de mestrado defendida no ISCTE no início do ano.
Seguro, que tem manifestado nos últimos tempos a todos com quem fala o seu agrado pela recente situação a que foi levado pelo afastamento da vida partidária, passando a viver nas Caldas da Rainha junto da família a maior parte do seu tempo, está a analisar o convite e prometeu que só por razões muito poderosas não o consideraria.
Desta vez, na sequência dos acordos que o seu partido fez à esquerda no Parlamento, António José Seguro poderá capitalizá-los para uma candidatura unitária nas Caldas da Rainha, mas alargado ao CDS que neste concelho mostrou sempre uma viva oposição ao longo dos últimos 40 anos às presidências sociais-democratas. Não foi considerado estranho que na sessão do CCC estivessem presentes os principais dirigentes locais do CDS.
Para mais, Seguro tem uma relação bastante simpática com algumas figuras do CDS que têm alguma ligação à região, como é o caso da actual líder Assunção Cristas, que foi duas vezes candidata por Leiria à Assembleia da República e que tinha um forte apoio dos militantes democratas cristãos caldenses. É ainda amigo de Nuno Melo, que é casado com uma caldense e é visita frequente da cidade.
No Natal de 2012 Seguro manteve uma longa conversa nas Caldas com Nuno Melo, que era já um dos possíveis herdeiros de Paulo Portas, facto a que não terá sido alheia a expectativa criada com a anunciada “irrevogável” demissão do líder do CDS e ministro dos Negócios Estrangeiros. Não tivesse sido a renitência do primeiro ministro Passos Coelho em não aceitar a inusitada decisão de Portas, provavelmente ter-se-ia concretizado no Verão de 2013 um acordo PS-CDS.
Recorde-se ainda que no último ano todas as forças da oposição caldense (com excepção do BE que perdeu a sua representação na Assembleia Municipal) se têm encontrado com frequência para discutirem posições comuns de crítica à governação do PSD, organizando mesmo visitas a serviços e obras camarárias e combinando intervenções em sintonia na Assembleia Municipal. Deram já algumas conferências de imprensa conjuntas, situação que nunca aconteceu antes.
Se António José Seguro aceitar, toda a oposição vai tentar capitalizar algum descontentamento existente localmente pela falta de eficiência do partido maioritário e vai utilizar fortemente o discurso e as intervenções públicas do anterior presidente da Câmara, Fernando Costa, que tem sido nos últimos tempos o principal crítico à maioria camarária, especialmente no que diz respeito à concretização de projectos e ao uso dos dinheiros públicos que ele diz ter deixado nos cofres do município.
Advinha-se, caso este convite tenha sequência, um resto de 2016 muito animado nas Caldas da Rainha do ponto de vista política e uma campanha eleitoral alargada durante os primeiros trimestres do próximo ano.