Secretário de Estado da Defesa diz que 16 de Março deveria constar dos programas escolares

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Os autarcas caldenses com o secretário de Estado da Defesa
Os autarcas caldenses com o secretário de Estado da Defesa e os militares do 16 de Março - Natacha Narciso
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Cinco anos depois de anunciado, foi inaugurado no passado sábado o monumento evocativo do 16 de Março, em frente ao quartel, numa cerimónia presidida pelo secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello. O governante diz que esta data “deveria fazer parte dos programas escolares”. A escultura de José de Santa Bárbara custou 80 mil euros e agradou aos militares do 16 de Março, presentes na inauguração.
Por fazer ficou o anunciado centro de interpretação que, segundo o presidente da Câmara, Tinta Ferreira será apresentado numa das próximas comemorações do 16 de Março, sem contudo, adiantar uma data.

“O 16 de Março, conhecido como o Golpe das Caldas, tem ficado secundarizado na história da nossa democracia”. Palavras do secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello, que no seu discurso valorizou este facto histórico pois “foi um marco e um passo importante para o momento decisivo que foi a Revolução”.
O governante considera que a divulgação sobre o que aconteceu no 16 de Março “não pode ser deixado em exclusivo a cargo das autoridades local, sendo uma tarefa que tem que ser partilhada para todos”. E acrescentou: “era interessante que o 16 de Março fizesse parte dos programas escolares dada importância que teve para o sucesso do 25 de Abril”.
Na sua opinião, os militares do 16 de Março demonstraram “a coragem de correr riscos gravíssimos que poderiam acabar em prisão, como aconteceu em muitos casos”. Essa demonstração revelou que os militares se encontravam em sintonia com o povo português tendo em conta a adesão popular que se registou dias depois ao Movimento dos Capitães.
Marcos Perestrello elogiou também a obra de Santa Bárbara “por ter expressado tão bem e com grande simplicidade o que significava a tristeza do antigo regime e a alegria da Liberdade”.

UM MONUMENTO À CORAGEM

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No momento da inauguração, o presidente da Câmara, Tinta Ferreira, disse que “este é seguramente um dos marcos mais importantes do meu exercício autárquico”. O autarca disse que sentia que a população caldense “queria homenagear os militares do 16 de Março com um monumento condigno que fosse evocativo e perdurasse no tempo”.
Para Tinta Ferreira, foi sobretudo importante a presença do secretário de Estado da Defesa pois, na sua opinião, o Estado português “nem sempre reconheceu estes militares e este movimento”. Acrescentou que, até agora, as iniciativas para assinalar e recordar o 16 de Março, “têm sido feitas apenas a nível local”.
Por isso, a vinda do governante significa “o reconhecimento do Estado” e lamenta que muitos dos que participaram no movimento há 44 anos, “já tenham falecido”. Tinta Ferreira comprometeu-se a continuar a valorizar o 16 de Março “e a fazê-lo chegar aos mais jovens”.
A escultura custou 80 mil euros e já era algo desejado há muito tendo sido inclusivamente referido em finais dos anos 70, durante uma visita de Ramalho Eanes às Caldas da Rainha. “Desde então a Câmara procurou que o Estado tivesse uma colaboração na edificação deste monumento”, disse o edil caldense, satisfeito por a obra ter sido concretizada num dos seus mandatos, reconhecendo o trabalho dos seus antecessores, que mantiveram viva a chama do 16 de Março.
“Acho que é um orgulho para os caldenses que assim cumprem o seu dever de homenagear os seus heróis e foi igualmente importante o Estado ter-se associado à iniciativa”, disse Tinta Ferreira no final da inauguração, referindo-se à vinda do governante.
O presidente considera o monumento de Santa Bárbara “fantástico” e reconheceu que existia a intenção de o instalar em frente ao quartel. A escolha não foi possível pois “ficaria muito mais cara dada a necessidade de infraestruturas”. O edil crê que o promotor do projecto, o ex-deputado municipal Mário Pacheco, “agiu de boa fé com boa intenção, mas nós temos que ter alguma parcimónia com os dinheiros públicos, além de que queríamos inaugurar este ano”. Lamenta pois o tempo que “fiz perder ao promotor e ao seu gabinete”, mas justificou a escolha por um terreno da Câmara por ser uma solução menos dispendiosa e que também se encontra à frente do quartel.
Questionado sobre o Centro de Interpretação 16 de Março, Tinta Ferreira diz que este será desenvolvido nos próximos anos. “Não será um edifício, mas algo que ajudará a interpretar o 16 de Março, numa relação entre o monumento e o quartel”, disse o edil que não quis apontar data, mas garantiu que será numa das próximas comemorações da Intentona.

“Deu-me muito gozo fazer esta obra!”

Militares como Manuel Ferreira da Silva e Gonçalves Novo, que tiveram papéis relevantes no desenrolar do 16 de Março, teceram rasgados elogios ao monumento de Santa Bárbara por este representar bem o contraste entre a opressão da ditadura e a alegria da Liberdade. “Para mim o monumento significa uma explosão e é bem significativo da nossa atitude ao ter saído a caminho de Lisboa”, referiu o militar Gonçalves Novo acrescentando que quem participou no 16 de Março “estava imbuído do mesmo espírito dos que fizeram o 25 de Abril”. Gonçalves Novo diz que quem fez parte da Intentona partiu para a capital “pensando que íamos cumprir a nossa parte do plano de operações do Movimento de Capitães”.
O autor da obra, José de Santa Bárbara, não podia estar mais feliz com este momento em que se celebra a edificação da obra, cinco anos depois e ter sido anunciada pela autarquia.
“É um momento importante dado que me deu muito gozo fazer esta obra”, disse o artista, que aguardou pacientemente pelos avanços e recuos da autarquia neste processo. Ficou também satisfeito com quem executou a obra pois “fê-lo exactamente como eu queria”, disse o artista. José de Santa Bárbara esteve sempre, desde a sua infância, ligado às Caldas da Rainha por motivos familiares. Leccionou no Ramalho Ortigão, na Escola Comercial e Industrial e trabalhou na Secla.
Após a inauguração da obra, houve um convívio no quartel onde se brindou aos militares e ao 16 de Março. Foram também distribuídos vários exemplares do livro “Nascida das Águas e o 16 de Março”, de José Ruy, que foi lançado nas Caldas nesse dia, assinalando os 44 anos da Intentona.

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