Antigo presidente da Câmara das Caldas, Fernando Costa, quer regressar à vida autárquica, mas somente como deputado à Assembleia Municipal. Em entrevista à Gazeta das Caldas e 91FM, garante que é o futuro do Hospital que o move e deixa críticas aos seus sucessores na autarquia
Fernando Costa garante que não vai abandonar a luta pela permanência do hospital nas Caldas e defende a existência de dois hospitais no Oeste
Tem sido um frequentador assíduo das Assembleias Municipais e de outros fóruns onde se tem debatido o futuro Hospital do Oeste. O que defende?
Não posso admitir que o hospital das Caldas feche e que os profissionais e equipamentos vão para outro sítio. O Oeste precisa dos hospitais que tem e que esses sejam melhorados e alargados, e até aceito novas construções.
Não acompanha, então, a autarquia na luta pela construção de um novo hospital nas Caldas?
Nunca fui a favor de um hospital para o Oeste. Sou a favor de um hospital no Oeste Norte e outro no Oeste Sul. Estes hospitais, alargados, melhorados ou novos, devem manter-se. De outra forma, um hospital único no Bombarral é um desastre para as pessoas. É um erro tremendo fazer um grande hospital e depois as pessoas não terem acesso.
O que deve ser feito?
Há um novo ciclo com este Governo, que é o meu e é uma esperança, espero que não seja uma desilusão. No dia em que este Governo decidir fechar o hospital das Caldas eu abandono a militância do meu partido em protesto.
A minha luta é por dois hospitais. Se aparecer um “elefante branco” no Bombarral, o que vai acontecer é aparecerem mais hospitais privados em Torres Vedras e nas Caldas.
Faço um apelo aos autarcas de Torres Vedras para que defendam o hospital em Torres e nós defendemos outro hospital nas Caldas.
O que tem a dizer sobre os estudos que foram feitos?
Os estudos dizem o que quem os paga quer. Este estudo foi encomendado pela Comunidade Intermunicipal, onde a maioria são socialistas, e depois criaram o grupo de trabalho, também liderado pela socialista Ana Jorge, isto é uma aldrabice pegada.
Especialistas em saúde e em ordenamento do território e ex-ministros da saúde disseram que o estudo é uma aldrabice porque, de acordo com o PROT, apenas há dois sítios onde fazer o hospital: Caldas ou Torres Vedras.
O hospital nas Caldas é da nossa história, da nossa essência, foi por causa do hospital que as Caldas nasceram. Podem querer ter lá o hospital [no Bombarral] mas não estão a ter uma visão digna das coisas.
Falou na história do hospital ligada às Caldas e à saúde. O que foi feito nos seus mandatos para fortalecer o cluster?
Muito. Quando entrei para a Câmara havia um projeto já com 20 anos para alargar o hospital das Caldas e, em 1991, foi aprovado um investimento fabuloso para alargar o hospital das Caldas. Para estranheza minha, a administração hospitalar na altura, presidida por Mário Gonçalves, aceitou que se fizesse o alargamento do hospital para o bloco operatório, mas não aceitou o alargamento das camas porque ia invadir os plátanos e conflituar com um furo. Pedi ao ministro para lançar o concurso de construção para o bloco de urgência e alargamento das camas, para passar a ter 250 camas.
Em 2008 o Eng. José Sócrates veio prometer ao Oeste, como compensação pela deslocalização do aeroporto da Ota, a construção de dois hospitais. Também houve um estudo encomendado para dizer que o sítio melhor do hospital Oeste Norte era em Alfeizerão. É evidente que é um erro fazer um hospital no Bombarral, como tinha sido um erro fazer o hospital em Alfeizerão.
Um ano antes de eu sair da Câmara a administração hospitalar concordou em fazer o hospital do Oeste Norte na zona da Matel. Eu preferia até que fosse feito na zona do Cencal, outros preferiam à entrada de Tornada. Ficou decidido em 2012 numa reunião.
Tinta Ferreira, que foi meu vereador e vice-presidente e que foi um excelente vice presidente, foi um mau presidente nesta matéria. Esteve muito mal na matéria do hospital e é o responsável primeiro por toda esta problemática. Tive esperança que Vitor Marques fosse um presidente capaz de enfrentar esta questão, infelizmente não tem feito o que devia ser feito, as Caldas tem estado mal servida de autarcas nesta fase e, sobretudo, nesta questão.
Estou a trabalhar com o deputado [do PSD] Hugo Oliveira e outros para insistir com o Governo que o que é correto é manter o Hospital Caldas-Óbidos e outro em Torres.
Acha que era tempo das várias forças políticas criarem uma convergência e unirem-se para não perderem o hospital nas Caldas?
Ando há meses, vou a todas as assembleias municipais gritar pelo hospital e dizer ao presidente da Câmara que é preciso unir esforços, com todos os partidos e autarcas das Caldas, mas também de Óbidos e de Rio Maior. É preciso fazer uma reunião conjunta, falar a uma só voz.
Que aconteceu a semana passada…
Felizmente. Depois das guerras nas redes sociais do secretário do presidente e de um comunicado infeliz do presidente contra os deputados do PSD, finalmente, na quarta feira respirei de alívio porque reuniram a Câmara das Caldas, de Óbidos e Rio Maior, presidentes e deputados, para falarem a uma só voz e mandar uma carta à ministra em nome das três câmaras.
Falta só uma coisa, faço um apelo aos presidentes de Câmara de Óbidos e Rio Maior, que chamem outros autarcas, que defendam o hospital nas Caldas mas que também defendam o hospital em Torres Vedras.
Brevemente vou tentar convencer os autarcas e população de Torres Vedras a não se vergarem aos interesses dos privados e defenderem um hospital em Torres.
Tive reuniões com José Marques Serralheiro, Delfim Azevedo, António Marques e Manuel Remédios, para fazermos um manifesto que mostre à ministra que são precisos dois hospitais.
Em relação às termas, a génese das Caldas. o que está a ser feito está a ser bem feito?
Mal feito. A Câmara das Caldas assinou em 2015 um contrato de concessão com o Ministério da Saúde, com obrigação de pagar uma renda e assumiu o compromisso de fazer um balneário novo à conta da Câmara. Esse balneário novo seria feito até 2023, mas não vai ser feito nem há dinheiro para o fazer. Muito menos agora, que a Câmara tem esbanjado mal, tanto Tinta Ferreira como Vítor Marques. Neste momento a Câmara só tem 10% de receita disponível para investimento de capital.
Há um masterplan que prevê essa construção…
Eu gosto desses anúncios, mas onde é que está o dinheiro, o projeto? Até hoje nada se fez pelo balneário novo.
O Hospital Termal tem de fazer parte do SNS, porque a Câmara não tem capacidade para ter um hospital. Este contrato de concessão deve ser revogado e alterado, só há termas efetivas, boas para as Caldas, a região e o país, se o governo estiver integrado. Eu, Fernando Costa, não tinha capacidade para o gerir, muito menos estes presidentes de Câmara que andam aqui só atrás das festas…
É esse o ímpeto que o faz não abandonar a política?
Sim, porque dediquei uma vida inteira às Caldas. Fica aqui um aviso para o PSD: façam uma boa lista, com gente capaz, porque se não o fizerem eu não aceito fazer parte da Assembleia Municipal.
Há condições que imponho. Exijo ao futuro presidente da Câmara que acabe com a taxa de saneamento a quem não o tem e que reduza a fatura da água. Peço ao futuro presidente que olhe pela segurança da cidade.
Não posso admitir que a “minha” Foz tenha os bares fechados à noite, a duna de Salir esteja a destruir-se. Para a praia de Salir que estava previsto criar uma piscina artificial no rio, o que se fez?
Há pouco disse: eu tenho andado a gritar… e dia 25 esteve na Assembleia Municipal…
Eu portei-me mal na Assembleia Municipal…
Porque é que isso aconteceu?
Fui à Assembleia Municipal mais uma vez para ouvir falar dos hospitais e qual não é o meu espanto, quando entra na ordem de trabalhos [um pedido de alteração ao PDM] a transformação de toda a zona da PSP, que foi comprada por mim, para a Câmara e que no PDM está como zona de equipamentos públicos, para ser zona habitacional. Comprei aquela zona para ser a Praça do Oeste, agora querem encher aquilo de prédios.
Porquê?
Porque há um senhor que quer encher aquilo de prédios, comprou os terrenos por “tuta e meia” à Caixa Geral de Depósitos. É o “dono disto tudo”, o “Ricardo Salgado do Urbanismo”, que fez também moradias na Foz do Arelho em cima da estrada e que antes eu tinha proibido.
É sua intenção voltar a ter um papel ativo na política local?
É sim. Já me ofereci ao PSD para ser candidato à Assembleia Municipal. Já há quatro anos quis ser candidato à Assembleia…
E porque não foi?
Porque não me quiseram. Convidaram-me para número 1 e depois disseram-me que, se aceitasse, só podia ir em número 2. Eu disse que não, que se me convidam para número 1 e com o estatuto que tenho, não aceito ir em número 2.
Por isso é que eu não integrei listas nem fiz campanha e o Dr. Tinta Ferreira não contou com o meu apoio, nem contará, pelos graves erros que tem cometido.
Quem contará com o seu apoio?
Qualquer candidato novo, gestor novo, ex-presidente de junta das Caldas que tenha o mínimo de capacidade e há vários. Mais importante que o candidato à Câmara é a equipa e o programa. Neste momento estou sobretudo preocupado que seja uma equipa, se quiser a minha ajuda, para salvar o hospital das Caldas.
Também tem sido visto muito próximo de iniciativas do Chega. É o dr. Fernando Costa que se está a aproximar do Chega ou viceversa?
O Chega convidou-me para um almoço para debater a questão do hospital…
Não admite ser candidato por outro partido que não o PSD?
Só serei candidato à Assembleia Municipal e farei tudo para o ser no próximo mandato. Se eu estivesse na Assembleia estas trapalhadas não aconteciam.
O seu intuito é só fazer parte da Assembleia Municipal, no entanto muita gente diz que se comporta como um futuro candidato à Câmara.
Não, sou candidato a candidato para a Assembleia Municipal pelo PSD. Mas, desta vez, se não for candidato pelo PSD, em número 1, vou fazer uma lista de independentes à Assembleia Municipal. Sinto que se estiver na Assembleia Municipal posso ser útil a quem estiver na Câmara. Não quero mandar em quem for presidente, quero ser útil.
Até hoje não me ligam, tenho de ir para as redes sociais e Assembleia Municipal, às vezes fazer figuras tristes como ontem à noite [25 de julho], porque não me ouvem, não me atendem o telefone, não me pedem uma opinião.
Foi protagonista de alguns incidentes. Em Leiria confrontou António Guterres, atual secretário geral da ONU, em Óbidos fez uma espera ao então secretário de Estado do Turismo. Considera que é assim que se obtêm resultados para a região e para as Caldas?
Não temos portagens e temos a linha de caminho de ferro porque fiz barulho, temos o polo da Escola de Hotelaria e Turismo porque fui protestar às portas de Óbidos, que queria tirar de cá a escola. Reconheço que ser troliteiro desta maneira não é o processo mais correto mas quando não há outra solução… Eu dou o peito às balas pelo hospital das Caldas. Um presidente de Câmara tem de assumir as responsabilidades e as Caldas está a afundar-se, de dia para dia. Espero que todos os partidos tenham boas listas. ■
Ouça aqui a entrevista na íntegra.