Executivo e partidos mantêm posição e vão ser ouvidos na Assembleia da República, mas houve munícipes a defender a existência de dois equipamentos de saúde, situados a norte e sul do Oeste. A assembleia de 17 de setembro, ficou marcada pelas intervenções do público, 7 no total.
O munícipe e antigo vereador do PS, Delfim Azevedo, foi à Assembleia contestar a localização do novo Hospital do Oeste na Quinta do Urmal, no Bombarral, justificando que um equipamento desta natureza “não pode, nem deve, ser construído no mínimo a 25 minutos de 90% dos utentes que vai servir”. Chamou a atenção para o declive do terreno e que as infraestruturas a criar devem fazer parte do pacote financeiro. Referindo-se ao protocolo estabelecido entre a autarquia de Torres Vedras e a faculdade de Medicina de Lisboa para a construção de uma unidade de saúde publica naquele concelho, diz que “não fará sentido ter concomitantemente na região mais uma unidade hospitalar para 400 camas”. Defendeu, por isso, a construção de uma unidade no Oeste Norte, “de 250 camas com a complementaridade e diferenciação enunciada para o Oeste Sul e localizada onde faz sentido e no interesse do orçamento geral do Estado, entre Caldas da Rainha e Óbidos”.
Também o antigo presidente da Câmara, Fernando Costa, corroborou da opinião de que o Oeste precisa de dois hospitais, um em Torres Vedras e outro em Caldas-Óbidos. “É um erro defender só um hospital para o Oeste”, disse Fernando Costa, acrescentando que outras personalidades ligadas à saúde, como José Marques Serralheiro também defendem a mesma posição.
O deputado António Curado (VM) apelou à mobilização pela defesa de um hospital nas Caldas, realçando que a defesa de “dois hospitais devia de ter sido há meia dúzia de anos”. Criticou Fernando Costa por, quando esteve na Câmara, “ter estado de costas para o hospital”, palavras que desagradaram ao antigo autarca e a Delfim Azevedo.
Representantes da Assembleia Municipal, juntamente com os presidentes de Câmara das Caldas, Óbidos e Rio Maior, irão no próximo dia 27 à Assembleia da República para serem ouvidos na comissão da saúde. De acordo com o deputado do PS, Pedro Seixas, é necessário “dar o passo seguinte” na estratégia para manter o hospital no seu território, olhando para o masterplan e definindo o que quer ser.
O deputado do VM, Eduardo Matos, explicou que a zona proposta a construção do novo Hospital, no Bombarral, é a mesma para onde esteve um parque temático e que já foi alvo de uma Declaração de Impacte Ambiental. O documento fala no “declive, no conjunto de aterros que ali foram feitos, numa linha de água que não pode ser desviada”, referiu, acrescentando ainda que uma estrutura deste tipo tem de ser construída num centro urbano.
O presidente da Câmara, Vítor Marques, garantiu que irão continuar a lutar pelo hospital mas que “é importante continuar a fazê-lo a uma só voz”. Dirigindo-se a Fernando Costa, acusou-o de se apelidar de defensor do hospital e da união, mas que depois vai para a Assembleia “criar alguma confusão. “Creio que não queremos dois hospitais, não haverá condições para os fazer. Quem é que está a desunir?”, questionou, pedindo a ajuda de todos. “Não me puxem para trás, se não formos em frente e a remar no mesmo sentido não vamos lá chegar”, alertou.
A alteração do PDM
Ainda na sua intervenção Fernando Costa voltou a abordar a proposta de alteração de PDM para a zona junto à PSP, permitindo a criação de uma praça, mas também um estacionamento subterrâneo e prédios. “Se a Assembleia aprovar a alteração do PDM eu irei recorrer ao Ministério Público porque estão ali ilegalidades”, disse, acrescentando que “não é chantagem” o que está a fazer. Com opinião diferente, o munícipe Orlando Pereira vê com bons olhos a construção dos prédios, justificando que é necessária mais habitação, sobretudo social.
Pedro Seixas (PS) partilhou também a sua reserva em relação à alteração do PDM na zona junto à PSP. “Autorizar uma área consolidada é um livro em branco, porque já vi três projetos do que está previsto para lá”, disse, acrescentando que é a favor do espaço público. Já André Santos (PSD) salientou tratar-se do maior parque de estacionamento gratuito na cidade e que, dar outro uso ao espaço, é “também trancar uma entrada para o comércio”.
O presidente da Câmara quis saber a que ilegalidades se referia Fernando Costa, lembrando que os assuntos vão a sessão de Câmara para ser deliberados. “Temos pareceres técnicos e decidimos em conformidade com os mesmos”, disse, acrescentando que “é importante que muitos daqueles que acusam vejam também o que fizeram ao longo do tempo em que decidiram”.
Ofensas e reposição da verdade
Depois de ter sido visado, em duas intervenções na reunião anterior, o secretário de apoio à presidência da Câmara caldense, José Cardoso, foi ao púlpito para uma intervenção “para defesa da honra e reposição da verdade”, reagindo à intervenção do deputado Jaime Neto (PS) que, disse, dirigiu-se a ele “em tons intimidatórios”. Reagiu também à intervenção do presidente da Junta de Freguesia dos Vidais, Rui Henriques, que na discussão do mesmo ponto, disse que foi “ofendido” e “ameaçado” por “alguém que foi nomeado”. José Cardoso contou a sua versão dos factos, referindo que se alguém foi ofendido e ameaçado foi ele e deixando um documento com as mensagens trocadas entre os dois intervenientes, para ser distribuído pelos membros da Assembleia. Em resposta a José Cardoso, o deputado Jaime Neto (PS) afirmou que este entendeu mal as suas palavras, pois “insurgiu-se” com o facto dele ter ido para as redes sociais “sabotar o trabalho que fazemos” em relação à defesa do hospital nas Caldas, sendo “membro do gabinete da presidência da Câmara, nomeado pelo presidente”.
Caldas, a cidade inclusiva?
O munícipe Carlos Ubaldo lembrou a realização da marcha LGBTQI, um “reflexo de uma cidade aberta, de inclusão”, onde adquiriu um saco de pano ilustrado por um jovem da ESAD e com a frase “Caldas da Rainha cidade antifa”, que ofereceu ao presidente da Câmara. Falou ainda da vandalização dos muppies que apelavam à Palestina Livre, criticando estes atos numa “cidade que se orgulha de comemorar o 16 de Março, que se orgulha da sua história de hospitalidade”.
A sua intervenção foi seguida da de Marta Moura, porta voz do grupo Palestina Livre Caldas, que leu uma carta aberta onde apelam ao governo português a reconhecer o estado da Palestina e apela aos caldenses que mostrem o seu apoio e solidariedade com o povo palestiniano. Tendo em conta a adesão recente do município à rede internacional Mayors for Peace, o grupo questiona o que têm feito para “condenar a ocupação, agressão e genocídio que sofre o povo palestiniano”, se o município tem relações com o estado de Israel e se está disposto a instar o governo português a reconhecer o estado palestiniano?
Em resposta, Vítor Marques comprometeu-se a levar a missiva à reunião de câmara para deliberação.
Também as contas do Foz Beats estiveram em discussão na reunião, com o PSD a questionar o executivo sobre a pertinência do evento e a diferença de valores entre os documentos apresentados à comunicação social e aos vereadores. De acordo com Vítor Marques, um dos relatórios do evento destinado ao público jovem não apresentava o valor do IVA, o que foi depois retificado. ■