Folio
O Presidente da República vê com dificuldade o facto das pessoas viverem sem alguma dose de utopia |JLAS
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Marcelo
O presidente experimentou a magia da tipografia tradicional |Fátima Ferreira

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, voltou a Óbidos, ao fim da tarde de domingo (2 de Outubro), para honrar um compromisso com a organização do Folio, mas sobretudo, falar de Utopia. Não concebe a vida sem Utopia e, perante uma sala repleta, partilhou que, uma “utopiazinha” que tinha quando tomou posse era a de que era possível colocar a direita a falar com a esquerda. “Eu não acho que seja impossível e, nessa medida, é uma utopiazinha que escolhi para prosseguir”.

Após uma visita ao Festival Literário na quarta-feira e a previsão de que a agenda não lhe permitiria voltar no domingo (como estava previsto no programa do Folio), Marcelo Rebelo de Sousa, conseguiu encontrar “um intervalo” entre as 17h00 e as 20h00 para voltar a Óbidos e falar de Utopia. No passado domingo chegou à hora prevista conduzindo uma viatura própria em que viajava sozinho e apenas seguido por um carro da segurança.
O cidadão e Presidente da República vê mesmo com dificuldade o facto das pessoas viverem sem alguma dose de utopia e partilhou a sua com os presentes. “Uma utopiazinha pequenina era, na altura em que eu tomei posse, dizer que era possível distender a sociedade portuguesa e pôr a falar a direita com a esquerda, as várias direitas entre si, as várias esquerdas entre si e as várias esquerdas com as várias direitas”, disse.
Acredita que não será impossível de concretizar e, nessa medida, “é uma utopiazinha que escolhi para prosseguir”, disse, sublinhando a necessidade das pessoas falarem mais para se conhecerem.
“Oiço os vários quadrantes da vida nacional e  tenho a noção exacta de como eles se desconhecem”, concretizou o Presidente da República, defendendo um maior diálogo entre as várias sensibilidades políticas.
A própria história de Portugal tem uma componente de utopia, disse, dando como exemplos a sua fundação, os descobrimentos e a sua abertura ao mundo.
O Presidente da República que é pródigo em quebrar o protocolo, reconheceu perante uma sala repleta, que é difícil a sua posição de “fazer estes exercícios”, lembrando que apenas Mário Soares, e Jorge Sampaio, algumas vezes o fizeram. E, voltando a referir-se a este último, destacou a sua capacidade de visão quando, na sua vigência, lançou a iniciativa de acolher no ensino superior jovens imigrantes vindos dos países em guerra, nomeadamente da Síria.
O pioneirismo de Jorge Sampaio foi destacado na resposta a uma questão levantada sobre os refugiados, com Marcelo a realçar também que o país está a fazer um grande trabalho ao nível do acolhimento. Mas não se pode ficar por aqui. “Enfrentar esse problema é enfrentar as causas”, disse, referindo que haverá refugiados enquanto houver guerra e uma situação insustentável para as pessoas viverem nas suas terras.
A nível interno, Marcelo Rebelo de Sousa considera que a descentralização é a resposta para um país menos assimétrico e uma aposta crescente em condições de vida e de implantação naquilo que foi desertificado. Reconheceu que é difícil fazer num período de crise e saída de crise, mas considera que se trata de uma “prioridade nacional”.
Sobre a situação politica do Brasil, em resposta a uma pergunta de uma participante brasileira, salientou que este país sempre viveu e viverá a utopia, em que cada dia é vivido de uma forma muito intensa. Entre as cábulas, trazia uma frase de Drummond de Andrade, que partilhou com os presentes: “tenho de viver já senão esqueço-me”, destacando que se enquadra na maneira de viver dos brasileiros. “Se a sua preocupação é de medo que desapareça a utopia, não se preocupe porque do Brasil será o ultimo local onde ela irá desaparecer”, referiu.
O Presidente respondeu ainda a muitas outras perguntas do público, como os motivos que o levaram a vetar a lei do sigilo bancário, reafirmando o argumento da “inoportunidade política” para deixar passar a lei.

Revolução como tema para o Folio

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[caption id="attachment_68881" align="alignleft" width="366"]Folio A tenda dos autores lotou na tarde de domingo e muitos foram os que quiseram fazer perguntas a Marcelo Rebelo de Sousa |JLAS[/caption]

Um habitué do festival (em que no ano passado participou e este ano esteve por duas vezes), Marcelo Rebelo de Sousa deu dicas do que poderá ser a próxima edição. Em resposta à questão “E agora?” lançada por José Pinho, um dos curadores, respondeu com uma sugestão de tema para o próximo ano: a revolução.
“Quando falei em revolução não podia ser mais provocatório porque normalmente não são os presidentes da República a propor temas como este, nomeadamente em democracias estabilizadas como a nossa”, disse, aconselhando a organização a pensar novos temas, desafios e interpretações. E deixou outras directrizes para o futuro do Folio: “têm que consolidar o que está feito e Utopia não se esgota no ano em que falaram dela”. Marcelo sugeriu que para a próxima edição precisam de música, especialmente a pensar nos mais novos.
“A grande razão por que vim cá hoje foi para dizer que não deixem morrer as vossas utopias. Eu não deixo, mas preciso de ser apoiado, todos nós precisamos”, pediu, perante uma sala repleta que o aplaudia de pé.
Marcelo Rebelo de Sousa já tinha estado em Óbidos, no passado dia 28 de Setembro para “manifestar reconhecimento e apoio” ao festival. Ainda não eram 16h00 quando chegou e só haveria de partir pelas 19h00. Durante esse tempo assistiu a parte de uma aula de Vera San Payo de Lemos, sobre Brecth, e ouviu “utopias sussurradas” através de um tubo por alunos de uma escola do Agrupamento Reynaldo dos Santos (Vila Franca de Xira) que participavam na oficina “Oceanutópicos”. Marcelo Rebelo de Sousa participou também na conversa que juntava Nicolau Santos e André Macedo sobre Jornalismo, Utopia e Economia, visitou várias das exposições e livrarias da vila e conversou com quem encontrava na rua e tirou centenas de selfies.

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