A Arte possui um lado terapêutico

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As artistas Ana e Betânia junto a um painel pintado por utentes | foto: Bernardo Peixoto

Ana Cruz e Maria de Betânia são artistas e mediadoras em instituições de saúde mental. A arte, dizem, ajuda utentes no processo de recuperação

Ana Cruz e Maria de Betânia são duas artistas plásticas que possuem oficina de cerâmica nas Caldas.
Ambas são, há 12 anos, mediadoras em duas instituições de saúde mental em Lisboa: Ana Cruz trabalha na Associação Comunitária de Saúde Mental de Odivelas – que é uma IPSS – enquanto que Maria de Betânia está no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (antigo Hospital Júlio de Matos). Ana Cruz trabalha com 25 utentes, com idades entre os 30 e os 70 anos, com doença mental crónica estabilizada.
Por seu lado, Betânia labora com grupos de jovens – dos 15 aos 25 anos – sempre diferentes. Também trabalha com 30 a 35 utentes das residências, da área dia e que se encontram em reabilitação.

Artistas-mediadoras usam o metódo criativo no processo de recuperação dos doentes

“O nosso trabalho é feito dentro das terapias expressivas e no contexto de reabilitação dos doentes”, disse Maria de Betânia acrescentando que têm comprovado que o processo criativo e artístico tem sido muito útil para a reabilitação dos utentes. As autoras desenvolvem o seu trabalho em equipas multidisciplinares com psicólogos e terapeutas ocupacionais.
“Não há reabilitação sem ateliers de arte”, disseram as autoras que trabalham o processo criativo, uma atividade “super eficaz para treinar uma série de competências: projetar, tomar decisões e materializar uma ideia”.
Os utentes, por vezes, por causas das doenças, esquecem-se dos pequenos poderes que cada um de nós tem: o que se quer desenhar, se colocamos a folha na horizontal ou vertical e, em pequenos passos, “ajudamos a readquirir competências”, contaram as artistas que auxiliam os seus utentes a desenhar, a pintar ou a fazer peças em cerâmica. Explicam a cada doente como se faz e depois cada um materializa a sua ideia. Ao trabalhar o processo criativo “tomam decisões, concentram-se nas tarefas e, no final, há uma grande satisfação e melhoria na autoestima pois conseguiram criar algo sozinhos”, disseram.
Ana Cruz e Maria de Betânia, que até já trabalharam em conjunto, promovendo atividades entre utentes das duas instituições, contam que têm sido benéficas as parcerias também com entidades exteriores.
As saídas e os projetos na comunidade são uma constante na Associação em Odivelas. Fazem parceria com o centro de exposições, com a associação de artesãos ou com biblioteca municipal. “A ideia é usufruir das infrastruturas da comunidade para que os doentes possam voltar ao contato com esses espaços”, disse Ana Cruz.
Maria de Betânia exemplificou que os utentes do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa desenvolveram um projeto com o Museu Bordalo Pinheiro, o que implicou a ida semanal dos utentes durante dois meses às instalações do museu e esse “foi uma iniciativa muito importante para eles”.
Há outros bons exemplos de parcerias com jovens da escola António Arroio que construíram peças de cerâmica em duplas de estudante-utente. E as mediadoras notam que há sempre um grande impacto em todos os que integram estas iniciativas. Muitos inclusivamente mantêm o contato após o términos dos projetos, escrevendo cartas.
“Há cada vez mais jovens a precisar de reabilitação”, disseram as artistas.
“Durante a pandemia muitos sentiram na pele questões bastante complicadas”, disseram as mediadoras a quem surgem pessoas, com profissões de grande responsabilidade, e que ao viverem determinada situação “despoleta uma descompensação”, disseram as autoras que trabalham com utentes que sofrem de vários tipos de esquizofrenia, doença bipolar, depressão e de perturbações esquizoafetivas. e que afirmaram que “ninguém está imune a ter problemas de saúde mental”. ■