A história da imprensa e as Gazetas das Caldas e de Antuérpia

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Ambos se chamam Gazeta e, se o semanário caldense está a comemorar o seu centenário, o seu homónimo de Antuérpia já tem 134 anos. Fazem parte da evolução da imprensa local e regional enquanto veículo de comunicação e atravessam os mesmos desafios.
Uma viagem pelo mundo das “gazetas” que, tanto em Portugal como na Bélgica, têm séculos de história e continuam a contar histórias

A palavra “Gazeta” tem sido utilizada para apelidar publicações periódicas com notícias políticas, literárias, científicas, artísticas e religiosas e que começaram a proliferar na Europa a partir do século XVI. De acordo com Maria Fernanda Casaca Ferreira, da divisão de Serviços Especiais da Biblioteca Nacional, foram surgindo, na Alemanha, na Itália, em França, na Holanda, na Espanha e em Inglaterra, diversas folhas noticiosas impressas que procuravam corresponder aos anseios de uma população cujo interesse por notícias crescia continuamente. “E essas publicações, que eram de início semestrais, passaram rapidamente a mensais, aumentando a sua circulação e os seus conteúdos”, refere.

De acordo com a autora, em Portugal, a primeira “Gazeta” surgiu em 1641, com o título: “Gazeta em que se relatam as novas tôdas, que houve nesta côrte, e que vieram de várias partes no mês de Novembro de 1641, com todas as licenças necessárias”. Noticiava os acontecimentos da guerra com Espanha e da aclamação de D. João IV como Rei de Portugal, procurando também ajudar na consolidação da independência. Esta publicação tem também sido denominada de “Gazeta da Restauração”, explica Maria Fernanda Casaca Ferreira.

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A Gazeta difundia as notícias do país e do estrangeiro, sendo o principal órgão informativo na época da Restauração. Era publicada mensalmente e impressa na oficina do flamengo Lourenço de Antuérpia, tendo o privilégio real.

Este periódico era rico em notícias que chegavam do estrangeiro e, simultâneamente divulgava as notícias do reino, permitindo aos que estavam longe manter-se a par da administração pública portuguesa e da vida da corte.

De 19 de agosto a outubro de 1642, a Gazeta foi suspensa, aparecendo a partir desta data só com notícias do estrangeiro e, em setembro de 1647, foi extinta.

Remonta a 1715 o início da publicação da Gazeta de Lisboa, que ao longo do tempo foi tendo outros títulos como “Gazeta de Lisboa Ocidental” ou só “Lisboa”. Por ordem do Ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, o jornal esteve suspenso de Junho de 1762 a Agosto de 1778, não se tendo publicado mais durante o reinado de D. José. A “Gazeta de Lisboa” reaparece em 1778, no início do reinado de D. Maria I, conservando-se até finais de 1820. “Como aspecto relevante, refira-se que no tempo das invasões francesas, era o Intendente Geral da Polícia, Pierre Lagarde, quem dirigia a “Gazeta”, ditando em francês os artigos que eram depois traduzidos por oficiais portugueses às suas ordens. Foi ele igualmente “quem mandou substituir as armas reais portuguesas no cabeçalho do jornal, pela águia imperial francesa”, refere Maria Fernanda Casaca Ferreira.

No início do governo liberal publicaram-se simultaneamente a “Gazeta de Lisboa” e o “Diário do Governo”. O jornal viria ainda a ter vários nomes e redatores até chegar ao Diário da República, já em 1976, depois do 25 de Abril.

A 1 de outubro de 1925 é publicado o primeiro número da Gazeta das Caldas, que se afirmava como um “jornal regionalista”, e é o mais antigo jornal do distrito de Leiria e da região Oeste. Antes, em 1922, chegou a publicar-se durante algumas semanas um semanário desportivo apelidado de “A Gazeta das Caldas”.

Na sua primeira edição diz ao que vem, afirmando-se “livre, em absoluto, de toda a política de partidarismos” e manifestando o propósito de “servir os interesses da região, chamando a si todas as ideias, venham de onde vierem, que concorram para o seu progresso incessante”. Em 1975 o título foi assumido pela recém criada Cooperativa Editorial Caldense, responsável pela publicação. A direção é assumida por José Luís de Almeida Silva, depois de um curto mandato de Adérito Amora, que manterá a mesma linha de orientação do jornal até aos dias de hoje.

Além da edição semanal, que chega a casa dos assinantes e pode ser adquirida nas bancas, a Gazeta das Caldas está também no digital, no seu site www.gazetadascaldas.pt e nas redes sociais.

Primeira publicação impressa foi na Antuérpia
É, curiosamente, em Antuérpia, que aparece, em 1605, a primeira publicação impressa periódica regular (semanal), o Nieuwe Tijdinghen. Mais recente, embora já conte com 134 anos, a Gazet van Antwerpen (GvA) existe oficialmente desde 3 de novembro de 1891. Entre 1719 e 1804, já era publicada uma Gazette van Antwerpen GvA), mas que já não tem ligação com este jornal diário belga.

A Gazet van Mechelen, que se concentrava em notícias da região de Mechelen, foi fundada em 1896 como um jornal irmão da GvA, no entanto, em 1996 foi totalmente incorporada na GvA. Após a fusão entre os dois grupos jornalísticos flamengos, em 2014, a equipa editorial da Gazet van Antwerpen foi reduzida significativamente.

“Atualmente, ainda contamos com quase 60 membros permanentes na redação e cerca de 30 freelancers, a maioria dos quais trabalha em tempo integral para o GvA”, explica o chefe de redação da GVA, Steven Vankerckhoven, à Gazeta das Caldas. Ainda de acordo com o responsável belga, também trocam muitos artigos com os “jornais irmãos”, o Het Nieuwsblad e, em menor escala, o De Standaard, o que lhes permite continuar a produzir um conjunto completo de notícias para a app e para o jornal impresso, com uma equipa editorial própria, ainda que menor.

Dados do Centre for Media Information (CIM), mostram que chegavam a uma média de 678.000 pessoas por dia em 2024, o que os torna o terceiro maior jornal da Flandres em termos de alcance e o líder de mercado na província de Antuérpia. No entanto, reconhece Steven Vankerckhoven, o número de assinantes da versão impressa continua a diminuir, situando-se agora em cerca de 55.000. “Isso é amplamente compensado por um forte aumento no número de assinantes digitais”, complementa.

Tal como na esmagadora maioria dos jornais regionais, “enfrentamos uma batalha constante para reter a atenção dos leitores no mundo digital onde as redes sociais, o TikTok e o ChatGPT competem cada vez mais por essa atenção”. Mas, “por enquanto, estamos a aguentar-nos e a manter os nossos leitores fiéis”.

O aumento dos custos com mão de obra e distribuição também representam um desafio, o que leva que que estejam a reorganizar a Gazet van Antwerpen e o Het Nieuwsblad. Como resultado, ambas as equipas editoriais estão a ser “amplamente integradas e 14 cargos editoriais serão eliminados nos dois títulos. Ainda assim, esta operação visa garantir que possamos continuar de forma sustentável nos próximos anos”, conclui Steven Vankerckhoven.

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