O maior evento desportivo a acontecer em Portugal em 2024, transmitido para 190 países e chegando a 500 milhões de pessoas é destacado pela Entidade Turismo do Centro, que tem no turismo desportivo um dos eixos da sua estratégia de promoção turística
O presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro, Raul Almeida, fala da estratégia para a região, que engloba 100 municípios, mas que tem sido “um parente pobre” na estratégia de mobilidade nacional
A edição deste ano de La Vuelta passou pelo Centro de Portugal, nomeadamente pelos concelhos do Oeste, mobilizando milhares de pessoas. Qual o impacto desta prova a nível turístico?
É um evento com um enorme impacto mediático para a região. Recordo que este é o maior evento desportivo a acontecer em Portugal em 2024, que é transmitido pela televisão para 190 países, chegando a 500 milhões de pessoas. Nenhuma campanha promocional, por grande que seja o investimento, consegue atingir tantas pessoas. A passagem da Vuelta por este território foi uma oportunidade única de levar imagens do Oeste a todo o mundo.
É importante referir também que este impacto foi ainda mais importante em Espanha. A divulgação mediática no país vizinho de tudo o que seja relacionada com a prova é enorme, pelo que ao associarmo-nos à Vuelta, estamos a promover estes territórios num mercado que é importantíssimo para nós e a multiplicar os valores do investimento.
Qual o apoio que a Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal deu para este evento?
A Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal (TCP) apoiou através da divulgação do evento nas suas plataformas de comunicação, nomeadamente no seu site e nas suas redes sociais. Não houve da nossa parte apoio financeiro à prova; este foi concedido pela Agência Regional de Promoção Turística (ARPT) Centro de Portugal que, embora seja presidida pela TCP, é uma entidade diferente, vocacionada para a promoção externa e que congrega empresas do setor do turismo.
João Almeida, um dos principais ciclistas em prova é natural das Caldas. Que proveitos podem ser tirados, ao nível da promoção turística, também deste concelho e região?
O João Almeida conquistou um lugar de grande destaque no pelotão internacional, sendo um dos ciclistas mais mediáticos. O João começou esta Vuelta como líder de uma das equipas principais e, embora as coisas não lhe tenham corrido como todos desejávamos, em virtude da covid, é um ativo muito importante para as Caldas da Rainha, para a região Centro de Portugal e para o país.
Seguramente que há milhares de adeptos do ciclismo, em particular os adeptos da equipa UAE Emirates, que têm curiosidade em conhecer os locais onde o João começou a pedalar. É uma oportunidade de promoção que, bem implementada, pode ter retornos muito positivos.
A Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal está a preparar alguma promoção turística nesse sentido?
Não está nada decidido a este nível, mas aproveito para sublinhar que o turismo desportivo é um dos eixos da nossa estratégia de promoção turística. A região Centro de Portugal reúne características que a tornam num destino privilegiado para a prática de turismo desportivo, nomeadamente nas modalidades aquáticas, como os desportos com prancha, remo, canoagem ou vela, no ciclismo (o único velódromo nacional está na região), no atletismo ou no pedestrianismo, entre outras.
O turismo desportivo é um produto turístico com grande potencial de crescimento na região e que atrai visitantes diferenciados, com capacidade económica acima da média e que prolongam a sua estada por vários dias, que é o que todos pretendemos.
Na sequência da nova NUT, que está sob a égide da CCDR de Lisboa, por que o Oeste, em termos de turismo, não passou ainda, para esta região?
Não temos informação nesta altura. A Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal tem apoiado alguns dos principais eventos na região Oeste. Qual a estratégia que têm para esta região?
Como diz, a Turismo Centro de Portugal tem apoiado diversos eventos que acontecem na região Oeste, da mesma forma que apoia eventos que decorrem em diferentes destinos do Centro de Portugal.
A estratégia da Turismo Centro de Portugal, a sua missão, é promover toda a região do Centro de Portugal enquanto destino turístico diversificado, na qual o Oeste constitui um território fundamental, mas que está integrado na maior região turística do país. Nesse sentido, privilegiamos a promoção de recursos turísticos e de eventos que tenham um caráter abrangente, que contribuam para a diminuição da sazonalidade e para o aumento da coesão territorial, que permitam o aumento da estada média dos turistas na região, que envolvam vários concelhos e até várias CIMs, que dinamizem infraestruturas existentes e que promovam produtos endógenos.
E o critério para os apoios que são dados?
A Turismo Centro de Portugal tem, ao longo dos anos, vindo a apoiar um conjunto de eventos que tenham a capacidade de aumentar as visitas e a permanência de turistas e de estimular os fluxos turísticos. Entre os critérios tidos em conta, constam a dimensão territorial do evento – privilegiamos eventos que extravasem os limites dos concelhos em que decorrem –; o facto de ocorrerem em territórios de baixa densidade populacional, de forma a promover a coesão territorial; os projetos em rede, que envolvam vários municípios e/ou várias Comunidades Intermunicipais; a captação de novos eventos com elevado potencial; e os eventos que vão encontro da estratégia de reduzir a sazonalidade da atividade turística.
Isto não significa que, pontualmente, não apoiemos eventos que não cumpram todos estes critérios, mas estes são os critérios essenciais.
Nos anos 60/70, do século passado, Caldas da Rainha estava sempre representada na estratégia nacional do turismo. A que se tem devido um desinvestimento progressivo nas últimas décadas, inclusive na divulgação deste concelho em termos turísticos?
A atividade turística é hoje substancialmente diferente da de há 20, 30, 40 e 50 anos atrás. Atualmente, os visitantes procuram experiências diferentes das dos seus pais e avós. Compete, em primeiro lugar, aos municípios estruturarem produtos turísticos que vão ao encontro das novas tendências turísticas, com qualidade e criatividade.
O Centro de Portugal tem, felizmente, muitos bons exemplos de destinos que têm sabido adaptar-se à evolução que se assiste no setor. Caldas da Rainha é, a meu ver, um bom exemplo, pelo que não concordo que haja um “desinvestimento progressivo” na divulgação deste concelho. Da parte da Turismo Centro de Portugal, Caldas da Rainha está sempre presente na nossa estratégia e nas nossas plataformas promocionais, além de que recebe, regularmente, iniciativas organizadas pela Turismo do Centro. Nos 100 municípios que compõem a região, haverá, seguramente, muitos outros com mais razões de queixa.
Quais considera serem os principais atrativos, em termos turísticos, das Caldas da Rainha?
As Caldas da Rainha têm muito para oferecer aos turistas, como temos mostrado em diversas iniciativas. Desde logo, um imenso património cultural ligado à cerâmica, que motivou a UNESCO a distinguir esta cidade como Cidade Criativa do Artesanato e Artes Populares. Muito em breve, as Caldas da Rainha vão receber o Congresso da Academia Internacional de Cerâmica, o que ilustra na perfeição a importância que assume a nível mundial.
Depois, as Caldas da Rainha têm uma vocação termal e terapêutica extraordinária, sendo o berço do hospital termal mais antigo do mundo. Mas tem muito mais: um dos mais belos parques urbanos do país, uma praça da fruta que é um ex-libris reconhecido por todos e uma oferta cultural sem paralelo em cidades com esta dimensão – poucas urbes têm uma oferta museológica tão diversificada como esta. Como se não bastasse, tem uma das melhores praias da região e uma lagoa com características únicas no país, que possibilita a prática de desportos náuticos. Não faltam atrativos turísticos neste município.
Que impacto tem o atraso da modernização e eletrificação da Linha do Oeste, em termos turísticos, na região?
As acessibilidades são uma componente essencial da atividade turística. Infelizmente, como temos repetidamente chamado a atenção ao longo dos anos, a região Centro de Portugal tem sido um parente pobre na estratégia de mobilidade nacional.
O atraso da modernização da Linha do Oeste, que já superou os quatro anos, é mais um exemplo da forma pouco digna como os poderes centrais tratam a região. Numa altura em que cada vez mais turistas internacionais descobrem os destinos através de viagens de comboio, são lamentáveis os constrangimentos que enfrentam quando o querem fazer neste território. Uma linha ferroviária moderna e rápida é sinónimo de mais visitantes, pelo que será essencial que não haja mais derrapagens na calendarização das obras.
Que desafios se colocam ao setor do turismo nesta região?
A atividade turística no Oeste tem crescido a um excelente ritmo. Entre 2022 e 2023, as dormidas na região cresceram 13,6%, e os primeiros dados que temos em 2024 mostram que a procura é já superior ao ano passado.
No entanto, há desafios importantes, tanto no Oeste como no restante território regional e nacional. Os turistas são cada vez mais informados e exigentes e esperam altíssimos níveis de qualidade na oferta de alojamentos, na restauração e nos serviços prestados. É fundamental vencer o desafio da qualidade, acima de tudo. Depois, é muito importante que haja uma estratégia concertada dentro da sub-região Oeste, que promova de forma integrada as suas valências turísticas. O Oeste tem uma identidade vincada e forte e só tem a ganhar se houver uma concertação alargada. ■