O dinamismo “assinalável” que levou à elevação das Caldas a cidade

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Os oradores na cerimónia, Mário Lino, Luís Nuno Rodrigues e Fernando Costa

A história esteve em destaque na cerimónia, com os oradores a contextualizar a elevação, em 1927, e também a atualidade

“26 de agosto é uma data histórica, um marco na História das Caldas”, começou por dizer o historiador caldense Luís Nuno Rodrigues, dando nota do anúncio oficial da elevação a cidade, em 1927, feito por ocasião da célebre V Exposição Agrícola, Pecuária, Industrial e de Automóveis, mas também enfatizando que “estamos a três anos do centenário”.
A elevação a cidade foi o culminar de um “desenvolvimento assinalável” nas décadas anteriores, que o historiador contextualizou, recorrendo a três fontes históricas. O dicionário geográfico e estatístico de todas as cidades, vilas e aldeias de Portugal, datado de 1874, dava conta de uma vila com 450 habitações e cerca de 1700 habitantes, sendo que o concelho teria cerca de 8 mil. O autor, Pinho Leal, destaca a importância das termas e o dinamismo que os banhos traziam às Caldas. Pouco mais de 30 anos depois, em 1906, um dicionário histórico e biográfico dá conta do crescimento acentuado das Caldas, cuja população mais do que duplicou, tendo para isso contribuído fatores como a chegada do comboio, dinamismo trazido para o hospital e câmara por Rodrigo de Berquó e o desenvolvimento da indústria cerâmica. A obra destacava também a modernização da então vila, em termos de equipamentos e de instituições, já “tipicamente urbanas”, no ínicio do século passado.
Em 1934, e já elevada a cidade, as Caldas tinha 7829 habitantes. O dicionário, publicado nesse ano, fala dos equipamentos, serviços e produtos que a cidade já possuía. Luís Nuno Rodrigues fez ainda referência à dimensão política, realçando o “dinamismo e iniciativa” de um grupo de jovens caldenses que, nos anos finais da República, são eleitos para a Câmara. “São anos de atividade muito intensa, sobretudo a segunda metade da década de 20, com um conjunto de iniciativas”, acrescentando que foi este “grupo regionalista” que organizou a célebre V Exposição Agrícola e Industrial. “A estratégia era o aproveitamento máximo das potencialidades da cidade e da sua envolvente”, salientou, acrescentando que este grupo dominava praticamene todas as instituições locais, o que lhes garantia, também, “uma elevada capacidade de negociação com o centro”. O orador lembrou também a “propaganda” da altura para promover a cidade a nível nacional e internacional, para atrair mais pessoas, terminando a sua intervenção com o decreto lei que eleva as Caldas a cidade.
“As Caldas da Rainha já era cidade antes de ser”, começou por afirmar o investigador e diretor do Museu do Ciclismo, Mário Lino, dando conta que esta reunia todas as condições necessárias para a distinção. O orador fez “uma peregrinação ao passado”, através de vários momentos emblemáticos daquele período. Lembrou que esta foi sempre uma cidade que soube acolher, tendo-o mostrado por diversas vezes ao longo da sua história e partilhou algumas curiosidades, como o artigo do Diário de Notícias, de 16 de agosto de 1927, que dava conta da “chegada, da Amadora, de cinco aviões, que aterrarão num campo de Alfeizerão, depois de fazerem evoluções sobre o recinto da esplanada da Mata”, no âmbito da Feira de 1927”. Momentos depois, o antigo autarca, Fernando Costa, disse que era tempo de “tratar desta enciclopédia viva”, referindo-se a Mário Lino, e pedindo ao executivo para tratar dos protocolos para preservação do seu espólio. Fernando Costa fez ainda um resumo da sua atividade camarária, dando nota da resolução de algumas necessidades, ao nível das infraestruturas e equipamentos, trânsito e vias de acesso. Saiu da Câmara a 1 de junho de 2013, mas “já com um amargo de boca”, disse, referindo-se ao facto do Hospital Termal estar fechado. Deu ainda nota da boa situação financeira do executivo durante a sua liderança e criticou a concessão do Hospital Termal que, entre outras contrapartidas, impôs à Câmara a construção de um balneário novo. As críticas estenderam-se aos autarcas que não marcaram presença e, no final, o político pediu que as celebrações do centenário tenham a “dimensão” que merecem. ■