O líder da principal força da oposição, António José Seguro, não tem tido uma boa imprensa desde que ganhou o lugar num processo de directas do seu partido.
Também a nível político e partidário, é acusado à direita e à esquerda, por excesso ou falta de alinhamento com as medidas da maioria governamental, dado o seu partido ter assinado o acordo de entendimento com a troika.
Mas nesta semana tomou uma decisão que parece reunir o aplauso quase generalizado e que segue uma iniciativa tomada também há algumas semanas pelo líder do CDS e ministro do governo, Paulo Portas.
Escreveu uma carta à troika, mas no seu caso, fez a exigência de elevar o nível de negociação na 7ª avaliação a ocorrer nos próximos dias: que tal seja feito com os responsáveis políticos das organizações da troika (FMI, União Europeia e Banco Central Europeu) e não com os três funcionários que já habituaram os portugueses aparecer nas anteriores avaliações.
Para António José Seguro “a próxima avaliação é crucial para a vida dos portugueses. Exige-se que seja uma avaliação política tendo em conta a grave situação económica e social.”
Quando o actual governo de Passos Coelho e de Vítor Gaspar se preparam para assumir a decisão do corte de novos 4 mil milhões de euros, os mais altos responsáveis da troika ficam a saber que se quebrou a maioria qualificada do acordo que levou ao memorando.
Como escreve o líder socialista, ligado familiarmente às Caldas da Rainha e com residência na cidade, o caminho actual de política económica portuguesa significa “mais desemprego, menos economia, mais falências e insolvências, mais pobreza, mais emigração de portugueses qualificados, em particular os jovens”.
Como disse Miguel Sousa Tavares, um crítico de António José Seguro, a decisão foi “uma jogada de mestre”. Zé Povinho que conhece bem o que se passa no seu país, partilha desta opinião e só espera que ainda se vá a tempo de atalhar o caminho.
O presidente do Banco Central Europeu, o italiano Mário Draghi, foi um dos responsáveis por ter sido evitado o agravamento caótico da situação da economia europeia, com as medidas que tomou para permitir o golpe final da especulação financeira internacional contra o Euro e os países intervencionados.
Por isso teve o aplauso quase generalizado pela forma como fez frente à líder alemã Angela Merkhel bem como a outros “justiceiros” na Europa da moeda única.
Contudo, quando se verifica na prática que as medidas impostas pela troika, onde o banco de que é Presidente, está também representado, estão a falhar em toda a linha, Mário Draghi manifestou-se esta semana contra o “abrandamento da consolidação orçamental, mas reconheceu a necessidade de os países mitigarem os efeitos da austeridade assim provocada”.
Ou seja, o Presidente do BCE quer fazer a quadratura do círculo, ou então tem medo em afirmar aquilo que já todos os observadores nacionais e internacionais verificaram: a terapêutica está a falhar em toda a linha.
Não é possível corrigir em três ou quatro anos, erros e dificuldades estruturais de muitos anos, nem as insuficiências, hesitações e erros das próprias autoridades europeias.
Mesmo assim defendeu que “os efeitos da austeridade podem ser mitigados com uma consolidação mais assente em cortes da despesa do que no aumento de impostos e com uma implementação rápida das reformas, nomeadamente do mercado laboral”, mas provavelmente não sabe ou não quer saber o que na prática estas decisões significam.
Como os portugueses estão a verificar na pele pelo aumento constante e progressivo do desemprego e pela degradação do mercado em resultado da ausência de liquidez dos consumidores, estas teorias vão daqui a alguns anos merecer a reprovação generalizada. Pena que não tenha merecido a atenção deste e dos outros responsáveis atempadamente.
Daí a condenação de Zé Povinho por esta incoerência do Mário Draghi.