Bolsa de Terras permitiu a casal de agricultores duplicar a produção

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Bolsa de Terras
Elisabete Matos e Filipe Sábio, junto às novas plantações, feitas na Quinta de S. João, nos Casais da Ponte. As novas plantações vão permitir ao casal de agricultores aumentar a sua produção de maçãs e de pêras. | Natacha Narciso
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A agricultora caldense Elizabete Matos foi a vencedora do primeiro concurso da Bolsa de Terras. Conseguiu, há dois anos, um contrato de arrendamento com o Estado e ficou com o usufruto da terra da Quinta de S. João, nos Casais da Ponte, por 15 anos. Paga uma renda anual de 6500 euros e, com ajuda do marido, já investiu 300 mil euros na renovação e replantação de novos pomares  nos 10 hectares que agora arrendou e que lhe vão permitir duplicar a produção.

“Esta terra, que pertencia à Direcção Regional de Agricultura, estava ao abandono”, contou Elizabete Matos, 37 anos, a agricultora que é do Guisado (Salir de Matos) e que foi a primeira a concorrer   à Bolsa de Terras que lhe permitiu explorar os 10 hectares da Quinta de S. João nos Casais da Ponte (Coto), próximo de Salir de Matos. Ela e o marido, Filipe Sábio (41 anos), tinham um terreno confinante e, por isso, tiveram acesso  ao usufruto do terreno (do tamanho de 10 campos de futebol), pagando uma renda anual de 6500 euros. O casal já possuía 15 hectares,  ficando agora com um total de 25 hectares de área de exploração.
Entre Abril e Maio de 2015 trataram da terra, arrancando as plantas velhas, fazendo drenagens e nivelamentos que lhes permitiram no ano seguinte começar a fazer novas plantações, aumentando a produção de Pêra Rocha e de maçã (Royal Gala e Fuji).
“O  histórico da quinta não nos trouxe mais valias, dado que plantámos tudo de novo”, explicou o casal, que investe forte em novas técnicas e está sempre a par das inovações no que diz respeito a novas variedades e técnicas de produção.
“Procuramos estar na linha da frente”, disse Filipe Sábio, que agora consegue ter 3000 a 3500 plantas por hectare. Trabalham com plantas italianas “e a árvore já vem com dois anos de viveiro”, explicaram. Quando é plantada “já vai na terceira folha”. Cada árvore adquirida a viveiros italianos custa cinco euros, mais cara do que em Portugal, mas assim “tentamos rentabilizar mais rápido o investimento”. Uma árvore plantada há um ano em breve  já estará a dar maçãs.
Este arrendamento de terras possibilitou aos agricultores crescer e “aumentar a produção quase para o dobro”. A verdade é que estes 10 hectares vão permitir uma produção equivalente aos 15 hectares que já possuíam, devido às inovações introduzidas. Com o investimento feito conseguem chegar às 50 a 60 toneladas de fruta por hectare enquanto que pelo sistema antigo ficavam-se pelas 30 a 40 toneladas. Usando máquinas e plataformas “facilmente chegamos a estes valores”, disseram.

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Plantam, embalam e comercializam  

Elizabete e Filipe Sábio plantam, são armazenistas, embalam e comercializam a fruta – pêra e maçã – para o mercado nacional. “Temos clientes de todo o país, sobretudo do Norte”, contaram, explicando que a sua fruta também chega ao estrangeiro, mas de forma indirecta. O pai de Filipe Sábio já vivia da fruticultura e agora o filho continua no mesmo sector, pretendendo manter-se em todo o circuito, desde a plantação à comercialização. A transformação da fruta não está nos seus planos.
Ele é técnico de gestão agrícola e Elizabete preferiu ir trabalhar quando findou o 9º ano. Dão emprego a mais um colaborador durante todo o ano e quando chega a altura da campanha da apanha da fruta podem chegar às 50  pessoas. Graças ao uso de máquinas e plataformas já não utilizam escadotes e foi possível reduzir a mão de obra.
“A ambição é sempre ir crescendo, mas não em demasia”, comentou o casal enquanto dá a conhecer as plantações e a charca que fizeram e que permite contribuir para a rega controlada dos pomares. Deslocam-se com frequência a outros países, sobretudo a Itália, para conhecer as inovações tecnológicas e as máquinas que auxiliam na produção.
Ao todo, na Quinta de S. João já investiram 300 mil euros nas replantações e equipamento.

Preocupado com falta de água

Elizabete e Filipe Sábio dedicam-se à protecção integrada, mas consideram que a agricultura biológica “é o futuro”. O mercado e os consumidores assim o exigem, mas será necessário um período de adaptação e de conversão dos próprios terrenos.
Filipe Sábio está ainda preocupado com as condições climatéricas. Choveu pouco, a Primavera está a ser bastante quente e nas nascentes e rios corre pouca água. “Vamos ter que economizar, eu já estou a fazer 20 minutos de rega por dia quando nesta fase com a chuva e humidade normal não costuma ser necessário”, rematou o agricultor.

 

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