As hortas urbanas das Caldas da Rainha, do projecto Caldas Con[vida], foram inauguradas a 1 de Junho. Nove meses após a abertura todos os talhões individuais estão ocupados, o que vem confirmar a pertinência deste projecto, que já tem mais de 80 utilizadores, contabilizando as hortas sociais.
Gazeta das Caldas conversou com vários utilizadores das hortas urbanas, que estão satisfeitos coma experiência que estas lhes proporcionam. Além dos benefícios do sabor e de qualidade que os produtos que colhem têm em relação aos que compravam no supermercado, consideram que esta actividade é uma óptima para aliviar o stress.
Cultiva um pouco de tudo. Favas, cebola, alface, couve e ervilha são só alguns exemplos. Este ano o inverno não colaborou: a ausência de chuva e o frio extremo em Janeiro fez atrasar o crescimento das plantas. Contudo, ter uma horta implica ter um pouco de criatividade e José Costa contornou o problema com uma solução engenhosa. Como não se podem colocar estufas nos talhões, criou estufas individuais para as suas alfaces com garrafões de água reutilizados. “Avança mais rápido”, afiança.
José Costa elogia o espírito que existe entre os utilizadores das hortas. “É uma família autêntica. Petisca-se, fazem-se convívios, vários grupos no verão passam aqui mais tempo do que na praia”, observa.
Luísa Garcia também foi das primeiras a ter um talhão nas hortas urbanas. Diz que tratar da sua horta “alivia o stress depois do trabalho”. Além disso, “é uma boa sensação ver as coisas que cultivamos crescerem e depois levá-las para casa para as consumir”, acrescenta.
Tal como José Costa, também elogia o espírito que se cria entre os utilizadores da horta, tanto ao nível do convívio como da troca de experiências. “Conversamos sobre os métodos que resultam melhor”, refere. Também fazem caminhadas e quando um “vizinho” vai de férias os outros garantem-lhe a rega.
A experiência que Luísa Garcia tem da agricultura é de ver em criança o pai a tirar da terra o sustento da família. “Gostava muito de ter uma horta e, como moro perto, aproveitei”, conta.
Além de legumes e verduras, tem frutas, como morangos e framboesas, plantas para chá e aromáticas e ainda flores. Diz que só lhe falta zonas de sombra, mas faz construções com canas para que as plantas lhas providenciem. Na sombra aproveita para fazer renda.
Falta melhorar algumas coisas
Apesar do funcionamento das hortas ser geralmente bom, há algumas coisas a melhorar. A salinha dos arrumos devia “estar a aberta para todos guardarmos as coisas”, aponta. E a cozinha quando exposta ao sol fica “demasiado quente”. A estufa também devia “ser maior”, para todos poderem desenvolver as suas sementes, e a vedação deixa passar alguns coelhos, acrescenta.
O casal António e Florbela Mendes também são dos primeiros utilizadores das hortas urbanas. Florbela diz que, apesar de ter Horta no seu nome, “só sabia que as coisas não nascem na prateleira do supermercado” e no início não mexia em nada, mas agora também já dá uma ajuda. Já António Mendes lembra-se do tempo em que ia para a fazenda com o pai.
Estão muito satisfeitos com a experiência. Plantam, tratam, colhem e estão sempre a “inventar” coisas para melhorar a sua horta. “Vimos cá sempre que possível e estamos assim entretidos”, refere António Mendes.
O início foi difícil, admitem, por não conhecerem as características do terreno, mas mudaram a terra e estrumaram-na e a partir daí começou a resultar.
Também têm um pouco de tudo e, curiosamente, todos os canteiros estão etiquetados. “Por um lado ajuda-nos a identificar as plantas porque não conhecemos o formato das folhas, e por outro temos um filho que pergunta sempre o que é cada planta e assim tem a legenda feita”, exclama Florbela Mendes.
O casal também elogia o espírito que se gera entre vizinhos. “Fazemos muitas festas e patuscadas, chegamos a sair daqui às 3h00 da madrugada no verão e jantamos aqui todos os dias”, sublinham.
“É engraçado dizer que é da nossa horta”
António e Florbela Mendes sentem uma grande diferença no sabor dos alimentos, que são totalmente biológicos. De resto, uma das condições das hortas urbanas é a não utilização de produtos químicos. Por outro lado, “é engraçado dizer que é da nossa horta”, diz Florbela Mendes.
Em Setembro do ano passado chegou às hortas urbanas Paula Simões. Quando falou com a Gazeta das Caldas tinha acabado de colher favas, ervilhas e grelos, e tinha morangueiros prontos para começar a dar fruto.
Mora no Bairro da Ponte, soube da existência da horta e candidatou-se. Natural da Serra da Estrela, a agricultura fez parte da sua infância e da juventude, até aos 16 anos. Hoje serve de escape ao stress do dia-a-dia. Trabalha por turnos e não há dia que não cuide das suas plantas, antes ou depois do trabalho. “Serve de escape, o melhor para mim é chegar e pôr os pés na terra”, assegura.
Desde que tem a horta, só comprou cenouras e garante que o que produz é diferente. “É mais verde, tem mais sabor e até o tempo de cozedura é outro”, observa.
Paula Simões é elogiada por outros utilizadores pela forma como cuida do visual da sua horta, na qual tudo tem que estar harmonioso. Tudo o que utiliza para decoração é reutilizado e esse é um trabalho partilhado com a filha, que até tem o seu próprio espaço no talhão. Por outro lado, a presença de outros jovens acaba por ser outro incentivo para os mais novos. “Brincam e aprendem, uma coisa é saber de onde vêm os produtos, outra é vê-los crescer, até se dá mais valor às coisas”, realça Paula Simões.
A “agricultora” diz que para colher é preciso “dedicação”. Tem curiosidade de experimentar produtos diferentes que por norma não se encontram no supermercado, como a couve chinesa, a couve-de-bruxelas, o rábano para saladas ou as acelgas. “Não conhecia este legume e é uma maravilha para saladas ou sopa”, revela.
“A ferramenta google é um aliado”
Setembro foi também o mês em que Valdemar Varanda iniciou a sua horta urbana. Diz que não conhecia nada do meio, mas encontrou na ferramenta Google “um precioso aliado”, que junta aos conselhos que ouve dos vizinhos e dos pais.
Foi através da página de Facebook do vice-presidente da Câmara, Hugo Oliveira, que teve conhecimento da horta urbana, achou interessante e inscreveu-se.
“Já ponderava procurar um terreno que alguém alugasse para me entreter, gosto disto e dá jeito”, conta.
Refere que não é da horta que tira a sua alimentação integral, mas que a actividade lhe serve de terapia para aliviar o stress. “Sou funcionário público, militar, trabalho em Lisboa e quando chego às Caldas, venho logo para aqui”, refere.
Tenta ter um pouco de tudo o que a terra dá em cada fase do ano, frutas, legumes, e flores. É um trabalho de família que envolve ainda a mulher e, por vezes, a filha.
A horta urbana também lhe proporcionou novos amigos. “Gosto imenso das pessoas”, diz, embora realce que o ponto principal não é o convívio, é cuidar das plantas.
Quanto à diferença em relação ao que consumia antes, não tem muitas dúvidas. “É evidente que são muito melhores. A partir do momento em que só utilizamos a terra e produtos orgânicos, não tem comparação”, destaca.
Bem mais recente foi a chegada de Carlos e Neuza Frisado, pai e filha. Quando falaram para a Gazeta das Caldas estavam apenas no segundo dia na horta urbana. Apesar de ainda estarem a fazer os preparativos do terreno e a colocar as cercas, não escondiam o entusiasmo.
Já semeavam algumas coisas em vasos, na varanda de casa, mas é a primeira vez que têm uma horta. Neuza soube da existência deste espaço numa conversa com uma amiga que tem um talhão noutro local. Como também gostava de ter uma horta, decidiu concorrer. Uma ida de Carlos Frisado ao edifício do Centro de Promoção e Divulgação dos Produtos Regionais, junto ao mercado do peixe, foi suficiente para entrar na lista de espera, que apesar de ser longa não conduziu a um grande tempo de espera. “Estive mais tempo com os papéis em casa do que depois à espera”, graceja Neuza Frisado.
Elogia o estado em que os outros utilizadores têm os seus talhões, o que “motiva quem chega de novo”. Os planos para a sementeira já estavam feitos e, como é norma entre os utilizadores da horta, contém produtos o mais variados possível e inclui legumes e flores.
Para Carlos e Neuza Frisado, que já passam grande parte do tempo juntos, este é mais um projecto para desenvolverem em família.