Caixotes do lixo enterrados na cidade não reúnem consenso

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O vereador socialista, Delfim Azevedo está contra a alteração feita pela Câmara de colocar um sistema de recolha de resíduos sólidos enterrado no Largo Heróis de Naulila. O autarca votou contra a proposta (aprovada pela maioria) por considerar que a alteração foi feita e decidida “à revelia” do executivo camarário e não foi colocada para ser discutida e ratificada na primeira reunião após a sua concretização.
“É uma alteração feita contra o senso e contra tudo o que indicam as boas práticas da recolha de resíduos sólidos urbanos em centros históricos”, disse o vereador, de acordo com a acta da reunião de Câmara.
O presidente da Câmara em exercício, Tinta Ferreira, esclarece que certos projectos sofrem alterações quando, no decorrer da obra, são manifestadas novas necessidades pelos comerciantes e habitantes da zona, como foi este caso em concreto. O responsável diz mesmo que o seu executivo não encara as alterações “como um problema mas antes como resultado do diálogo aberto com a comunidade”.
Relativamente à opção pelo sistema de recolha de resíduos sólidos enterrado, Tinta Ferreira destaca as suas vantagens, como o facto de serem mais higiénicos pois, ao acondicionarem os resíduos abaixo do nível do solo e da exposição solar, impede-se a fermentação dos mesmos. Por outro lado, “têm menor impacto visual e contribuem para uma melhor organização urbana”.
Tinta Ferreira explica que o número de equipamentos colocado obedece à dinâmica da zona, nomeadamente o número de habitantes e de estabelecimentos de comércio ali existentes, sendo que em determinadas zonas da cidade “foi implementada uma recolha diária dupla”.
O autarca acredita que se trata de uma opção correcta no respeita à recolha de resíduos sólidos, “cada vez mais utilizada nas cidades portuguesas” e lamenta não ser possível colocar mais equipamentos destes em todas as zonas da cidade intervencionadas. Nos casos em que a existência de outras infra-estruturas no subsolo impeça esta solução, serão mantidos os contentores de superfície.
No âmbito das intervenções da Regeneração Urbana está prevista a colocação na cidade de 50 depósitos subterrâneos, 15 de recolha selectiva, 11 WC caninos, seis oleões e seis pilhões.

O que dizem os comerciantes
Gazeta das Caldas foi ouvir os comerciantes com espaços abertos no Largo Heróis e Naulila e ruas adjacentes sobre a solução encontrada pela autarquia para aquele local e deixa aqui os seus testemunhos possíveis pois alguns não quiseram prestar declarações e outros disseram ainda não ter uma opinião formada sobre o assunto.

“A estética em detrimento da funcionalidade”
João Ferreira, um dos proprietários da Novóptica, não percebe porque alteraram os contentores no Largo Heróis de Naulila. Considera que os contentores anteriores tinham muito menos impacto do ponto de vista dos cheiros e que a recolha era mais célere. “Era muito mais fácil a retirada do lixo porque não havia contentores de lixos separativos e a recolha era feita a outras horas”. De acordo com o comerciante, os aparelhos que vêm para retirar os resíduos são “muito demorados e passam a horas absolutamente incompatíveis com o movimento, de grande fluxo”.
João Ferreira reconhece que a nível estético estará melhor, mas a parte funcional é má porque as entradas dos contentores da reciclagem não são suficientemente largas e as pessoas não conseguem colocar os lixos. “Depois aquilo fica aberto e como o buraco em baixo é comum, liberta o cheiro dos outros lixos”, disse, acrescentando que houve, da parte da Câmara, uma grande preocupação com a parte estética em detrimento da funcionalidade.
João Ferreira criticou também o facto de ter sido colocada calçada numa zona onde existe muito trânsito, o que faz com que a passagem dos carros provoque muito barulho

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“Menos cheiros e moscas”
Opinião diferente tem Vitória Cavalcante, proprietária da padaria e pastelaria Alegre Vitamina, que gostou bastante da intervenção feita no Largo Heróis de Naulila, especialmente da colocação dos contentores subterrâneos. A comerciante destaca que esta solução permite a separação dos lixos e que agora verificam-se menos cheiros e moscas. “Também é mais higiénico porque os animais agora não reviram os caixotes”, disse, acrescentando que com esta solução a cidade fica mais limpa e arrumada. “Foi a melhor coisa que inventaram”, disse.
Vitória Cavalcante considera que foi uma obra que resultou bem. “A zona ficou mais bonita e dá uma ideia de elegância e maior limpeza à cidade”, disse à Gazeta das Caldas.

“Os contentores verdes eram piores”
Também Natércia Marques, proprietária do Talho Jardim, na Rua do Jardim, considera que a colocação de caixotes subterrâneos traduz-se numa melhoria a nível estético, pois agora os contentores estão escondidos. Costuma ir regularmente colocar o lixo nos contentores, mas queixa-se que o cartão é o material mais difícil de colocar devido ao volume pois tem que se dobrar. “As outras coisas colocam-se, fecha-se a tampa e está tudo bem”, disse, acrescentando que só quando o caixote do cartão está mais cheio é que o lixo fica de fora.
“Eu tenho o cuidado de dobrar o papel para tentar colocar lá dentro, mas às vezes já está cheio”, disse, acrescentando que, por outro lado, o “carro do lixo passa regularmente e o chão está sempre limpo”.
Na opinião de Natércia Marques, esta foi uma solução que veio “melhorar a zona pois os contentores verdes eram piores”.

“Prejudicou o comércio e a cidade”
O comerciante Jacinto Tomás, proprietário da ervanária Centro de Biodiética, na Rua do Jardim,  considera que as obras feitas no âmbito da regeneração urbana, especialmente na zona do Largo Heróis de Naulila e da Rua Leão Azedo, “prejudicaram o comércio e a cidade”. O comerciante convidou mesmo a ir ver o que se pode colocar dentro de cada contentor para constatar o seu tamanho diminuto.
“Acaba por se ter ali uma lixeira porque não conseguimos colocar o lixo dentro dos contentores, especialmente o cartão, e tem que ficar na rua”, disse Jacinto Tomás, que não tem outro local onde depositar os lixos do seu estabelecimento comercial.
“Aquilo são mealheiros, não chega para o lixo que aqui é produzido”, opinou, acrescentando que aquele espaço poderia ter sido melhor aproveitado.
Jacinto  Tomás releva que se podia ter aproveitado a intervenção para ali criar alguns lugares de estacionamento, mas de curta duração, que permitisse às pessoas ali deixarem o carro e deslocarem-se às lojas que existem naquelas imediações. “Qual é o estacionamento dos comerciantes?”, pergunta, para logo de seguida dar a resposta: “é a rua”, defendendo mais locais de estacionamento na cidade.
O comerciante reconhece, no entanto, que existe alguma falta de civismo por parte de automobilistas que estacionam, por vezes durante todo o dia, na zona de cargas e descargas, impossibilitando assim a paragem dos carros que precisam descarregar as mercadorias.

Fátima Ferreira
fferreira@gazetadascaldas.pt

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