O Oeste Lusitano é hoje um evento consolidado, que envolve mais de 80 entidades (entre empresas e associações) e que na sua sexta edição conseguiu obter mais público no Parque, apesar de as vacadas terem passado para a Praça de Touros. O programa deste ano não trouxe novidades, mas manteve a diversidade e frequência de espectáculos de outros anos, bem como os concursos hípicos. O regresso dos touros ao Parque foi pedido pelo público e está em estudo pela organização.
As enchentes começaram logo na sexta-feira à noite e demonstram que o Oeste Lusitano já está bem registado nas agendas dos caldenses. A primeira noite reservou logo alguns espectáculos de qualidade e com diversidade. No palco do lago houve uma passagem de modelos que emprestou um colorido especial em volta do plano de água. Na fachada dos Pavilhões do Parque, Natália Cerqueira e Magali Lanriot realizaram dança vertical penduradas em cabos e, pouco depois, vários artistas de renome cantaram músicas eternizadas no Festival da Canção (ver texto na Página Cultural).
É este o conceito vencedor do certame organizado pela sexta vez pela Associação de Criadores de Puro-sangue Lusitano do Oeste (ACPSLO): um pouco por todo o lado há sempre alguma coisa a acontecer e o tempo até parece curto para quem quer usufruir de tudo.
Há exposições, jogos tradicionais, pinturas, exposições showcooking, sessões de fitness, concertos, actuações espontâneas de vária índole… e, claro, cavalos, muitos cavalos.
De ano para ano também aumentam as colectividades que se associam, umas para demonstrar as suas iniciativas, outras para realizar alguma verba. O mesmo acontece com diversas empresas que preenchem, sobretudo, os espaços de restauração. O certame contou também com a presença de várias escolas caldenses que deram a conhecer a oferta formativa e os trabalhos realizados. A cerâmica voltou a ter o seu espaço na Pala.
Mesmo sem grandes novidades em termos de programa, a qualidade deste foi suficiente para aumentar o número de visitantes. Não há números oficiais, mas quem passou muito tempo no evento percebeu que foram raros os momentos em que as ruas do Parque tiveram pouco movimento. E esses momentos foram os períodos da manhã de sábado e domingo e o final de tarde de sexta, quando o certame abriu portas.
“Chegamos ao momento em que o evento está sempre cheio, o feedback que temos dos expositores é que está sempre mais gente a circular”, disse Carlos Rodrigo, presidente da ACPSLO.
A alameda dos plátanos, onde estavam instaladas as boxes dos cavalos em exposição, era sempre das mais concorridas. Miúdos e graúdos não resistiam a fazer algumas festas aos animais e experimentar um primeiro passeio a cavalo.
Nos picadeiros os exemplares de cavalo Lusitano mostravam ao longo do dia e da noite, as suas capacidades. Ao todo foram mais de 200 na feira, garante Carlos Rodrigo, e para isso muito contribuíram os mais de 150 conjuntos no concurso de saltos.
As provas, apesar de estarem algo deslocadas da feira, trouxeram um público muito específico e as bancadas estavam constantemente cheias. A espectacularidade dos saltos foi um grande atractivo.
PICADEIRO À PINHA EM HORÁRIO NOBRE
Mas foi na noite de sábado e no domingo ao final da tarde, durante os espectáculos principais no picadeiro, que foi mais perceptível a grande enchente que o Oeste Lusitano provocou no Parque.
O cartaz era promissor. Na noite de sábado, uma hora antes do espectáculo principal já aquele espaço estava muito composto. Quando a Charanga da GNR deu início ao seu desfile nocturno, dificilmente caberia mais alguém nas bancadas e em redor do recinto.
As expectativas eram elevadas e não foram frustradas. Os militares músicos começaram por interpretar temas do cinema e partiram para o reportório da música tradicional portuguesa, tudo isto enquanto as suas montadas desfilavam pelo picadeiro. As danças verticais de Natália Cerqueira, a dança de Walter Moraes e companhia, o fado de Nuno da Câmara Pereira e as actuações a cavalo com luz e fogo, completaram uma noite de grande qualidade.
No domingo ao final da tarde foi a vez da Reprise da Escola de Mafra conquistar o público com a disciplina e a beleza de movimentos protagonizados pelos seus cavalos lusitanos.
No final do certame, a ACPSLO tem por hábito homenagear um dos sócios que se destacaram. Este ano o galardão foi para Fernando Fonseca, criador com actividade na Benedita e nas Caldas. Em declarações à Gazeta das Caldas o homenageado disse estar agradecido pelo galardão e valorizou o certame e a evolução que teve ao longo das seis edições.
“Foi muito importante ter-se criado este evento, temos uma feira superior a muitos eventos do género a nível nacional”, considera, acrescentando que um dos trunfos é a forma como todas as instituições se unem para o tornar possível.
VISITANTES ELOGIAM AMBIENTE
Hélder Gomes, que mora no Coto, é um habitual frequentador do festival caldense. Apesar de ter sentido a falta das largadas de touros (ver texto à parte) gostou do ambiente do festival. “Está bom, com movimento”, disse.
Francisco Santos, residente em Torres Vedras mas que tem uma filha a estudar na ESAD, aproveita a visita para ver o evento. Já no último ano veio ao festival e desta vez não quis falhar, muito pela Charanga da GNR. “Já os tinha visto aqui no ano passado, foi muito bom”, contou. Este ano não pôde ver a Charanga, mas mesmo assim diz que “o festival está bom, há música, a feira está gira e o tempo também está melhor”, disse Francisco Santos, que só acha que o certame devia ser mais divulgado.
Como vem com frequência às Caldas para visitar a filha, costuma passear pelo Parque D. Carlos I, que “é diferente do parque que temos em Torres, que é um jardim mais moderno… este é mais antigo e mais bonito”.
Rafael Noz e Susana Ferreira são de Alenquer. Chegaram a trabalhar ambos nas Caldas e não perdem uma edição do Oeste Lusitano há quatro anos. Em relação ao ano passado notam uma “zona de vazio” que afectou alguns espaços de restauração que estavam a caminho do parque de merendas. “Não tinham tanto movimento”, observaram.
Mesmo assim, o casal não tem dúvidas em afirmar que esta edição “é a que está melhor. Não tem nada a ver com o de há quatro anos, tem mais empresas, mais restauração envolvida”. No entanto, na altura que estiveram no Parque, na tarde de domingo, não conseguiram ver muitos espectáculos e acharam que os espaços de cultura e cerâmica resultam melhor integrados na feira do que em espaços próprios. Também estavam à espera de voltar a ver o palco submerso que lhes ficou “na retina” na edição de 2016 e que este ano não foi recriado.
Ana Brandão está pela primeira vez nas Caldas, veio de Ovar para ver o filho competir. “Aproveitei para vir e conhecer a cidade, mas ainda não saí do picadeiro”, disse Ana Brandão, notando que o espaço “tem todas as condições, apesar de achar que o banho está muito distante das boxes e que os cavalos estão um pouco mal acondicionados pela pouca sombra e calor”.
Cavalo Pisa mão a uma criança
A edição deste ano do Oeste Lusitano foi a primeira em que se registou um acidente entre um cavalo e espectadores. Aconteceu na tarde de sábado, após um ensaio de Natália Cerqueira no lago do Parque. O cavalo que a artista montou em pleno lago ter-se-á assustado quando estava a sair do plano de água e apesar de estar devidamente restringido, acabou por derrubar uma criança, que se encontrava na zona, e pisar-lhe uma mão.
A criança foi socorrida pela Cruz Vermelha, que se encontrava no local, e depois pelas equipas do INEM e da VMER. Foi transportada ao hospital caldense, consciente e orientada, segundo o comandante dos bombeiros, Nelson Cruz. No momento apresentava uma hemorragia e escoriações ligeiras. Não foi possível confirmar se se verificou alguma fractura porque, contactado o hospital das Caldas, não houve resposta.
Carlos Rodrigo, presidente da ACPSLO, adiantou à Gazeta das Caldas que manteve contacto com os pais e que a criança se encontra bem. “Felizmente foi mais o aparato”, disse, lamentando o ocorrido.
Na tarde de domingo várias pessoas queixavam-se que uma das várias charretes que efectuavam passeios pelo Parque conduzia de forma descuidada e com muita velocidade. “Há pessoas que cometem excessos, providenciámos que tivesse mais cuidado e a pessoa parou de conduzir a charrete”, referiu Carlos Rodrigo.
Na sexta-feira à noite, durante o desfile de moda, houve ainda algumas queixas em relação a falta de iluminação em algumas zonas, sobretudo entre o lago e a alameda dos plátanos. Carlos Rodrigo explicou à Gazeta das Caldas que houve uma decisão dos técnicos de desligar alguns segmentos da iluminação devido ao risco de ocorrer um apagão, uma vez que as necessidades de energia naquela altura foram muito elevadas.
Os cavalos lusitanos pela lente de Melis Yalvac
Na casa dos barcos estava exposta uma mostra das fotografias de cavalos Melis Yalvac, fotógrafa italiana, que nasceu na Alemanha, sendo filha de pais turcos.
Melis é cavaleira e há oito anos começou a fotografar cavalos. “Quando montamos um cavalo ele diz-nos tudo sobre nós, até coisas que não sabemos e quando os fotografamos também”.
Na exposição estão cavalos lusitanos em diferentes locais e contextos. “Têm tanta personalidade e tão expressa, não há outro cavalo que fale tanto connosco”, salientou a artista.
As fotografias foram tiradas em Portugal, em locais como a Lagoa de Óbidos, Sintra, Lezírias e Campo Pequeno, mas também em Itália, Brasil, França e Holanda.
No seu trabalho levou, por exemplo, um cavalo à montanha a ver a neve pela primeira vez. Depois soltou-o e fotografou-o nesse ambiente.
Durante a exposição a autora aproveitou para tirar uma fotografia com dois cavalos na casa dos barcos e as suas fotografias nas paredes. Os quadros estão à venda na Art Gallery de Milão.
Ainda que não goste de fotografar eventos, Melis salienta a localização do festival. “Dá muita energia e não é normal na Europa, apesar de vocês também terem a Golegã”. Além disso, salientou o número e diversidade de actividades. Pela primeira vez no Oeste Lusitano, a artista garantiu estar “muito feliz por estar aqui” e desejou “que para o ano sejam dois fins-de-semana”. I.V./J.R.
Largadas podem voltar ao Parque
Uma das novidades deste ano foi a mudança das largadas para a Praça de Touros. Não foi por isso que esta parte do evento deixou de atrair entusiastas e, principalmente no sábado à noite, foram muitos os que se aventuraram a testar a velocidade na arena caldense para fugir ao touro.
Segundo a organização, terão estado na Praça de Touros cerca de 700 pessoas na sexta à noite e mais de 2000 no sábado. No domingo de manhã realizou-se um treino de forcados. No primeiro dia houve quem pegasse o touro.
Carlos Rodrigo observou que não se registaram incidentes e que as enchentes de público foram satisfatórias. No entanto, “muitas pessoas manifestaram saudade de ter as largadas no parque”, acrescentou, pelo que no próximo ano será equacionado se a festa brava se mantém na praça de touros ou se regressa ao Parque. “É uma parte do evento que traz público para o Parque e também cria ligação, porque este ano gerou-se um hiato entre a feira e o picadeiro das competições”.
Foi essa a opinião de várias pessoas que Gazeta das Caldas abordou no Parque, no domingo. Hélder Gomes, residente no Coto, disse era melhor manter as largadas junto à feira “porque aproximava e dava uma continuidade, apesar de lá [na Praça de Touros] poder ter mais condições”, defendeu.
Já Rafael Noz, de Alenquer, salienta que na sua terra, na Feira da Ascensão, houve um processo idêntico de separação da largada de touros que não resultou.
Ambos os visitantes notaram que os restaurantes que ficaram junto ao parque de merendas estavam mais deslocados do centro do evento e tinham menos movimento que os outros espaços de restauração.
Francisco Santos, de Torres Vedras, também notou a mudança de local da vacada. “Aqui estava tudo junto, a praça fica longe”, apontou. I.V./J.R.