Toneladas de estrume têm vindo a ser depositados num caminho rural entre o Chão de Parada e Salir do Porto destinados a adubar as explorações agrícolas próximas. Provocam maus cheiros e pragas de moscas, mas sobretudo põem em causa os aquíferos e as captações de água dos Serviços Municipalizados que estão a centenas de metros e que são dos mais importantes para abastecer o concelho.
A Câmara das Caldas diz que não sabe de nada e remete o assunto para as entidades competentes. Após queixa de um morador, a GNR já foi ao local.
Em linha recta desde aquele amontoado de dejectos são algumas centenas de metros até às casas mais próximas, no Bouro, junto à antiga estação ferroviária. Logo a seguir está o Chão da Parada, onde vários moradores se queixam dos maus cheiros e das moscas, sobretudo quando há despejos desta natureza e o vento e o calor potenciam o mal estar.
O terreno que acolhe estas toneladas de estrume de aves não está impermeabilizado, nem vedado, nem tem qualquer indicação sobre a origem desta matéria orgânica nem da exploração a que se destina.
O Decreto-lei nº 235/97, de 3 de Setembro, que clarifica as atribuições e responsabilidades relativas à protecção das águas contra a poluição causada por nitratos de origem agrícola, contém um código de boas práticas agrícolas onde refere que para estas situações deverão existir “depósitos de estrume animal com capacidade para evitar a poluição da água pela drenagem e derramamento para as águas subterrâneos ou superficiais de líquidos que contenham estrume animal”.
Mas é o contrário disto que está a acontecer no Chão da Parada onde não há protecção nenhuma no local.
Luís Rolim, engenheiro que já foi o director dos Serviços Municipalizados das Caldas da Rainha, disse à Gazeta das Caldas que aquela zona “é um dos pontos mais importantes de captação de água para consumo humano do concelho das Caldas”. Ao todo são sete captações de água de elevadíssimo caudal que correm riscos de contaminação. Alguns desses furos são de profundidade reduzida (até 100 metros), o que significa que são captações muito vulneráveis a infiltrações.
Henrique Teresa, presidente da União de Freguesias da Tornada e Salir do Porto, num primeiro contacto da Gazeta das Caldas, disse que “já tinha ouvido falar” deste problema e que presumia que se tratava de estrume para fertilizar terras. Mas pouco depois foi ao local e contou ao nosso jornal que a prática de concentrar matéria orgânica naquele local já dura desde há 15 anos, mas que constituiu para ele uma novidade este estrume ser seco e proveniente de aves. “Este tipo de estrume é que eu nunca tinha visto”, disse, adiantando que deve ser de perús ou de outras aves.
Contactada a Câmara das Caldas, esta respondeu que “não tem conhecimento dos factos indicados” e que, se estes se verificam, “devem ser reportados e investigados pelas entidades competentes que serão neste caso a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA)”.
Quanto aos riscos de contaminação do aquífero onde estão as captações camarárias, diz que estas “estão licenciadas pela APA e são monitorizadas por um laboratório externo credenciado para o efeito”.
O município diz ainda que até realiza o dobro do número de análises exigidas por lei e que “os resultados indicam que a água é de elevada qualidade e não tem qualquer problema”.
Gazeta das Caldas apurou que um morador apresentou queixa na GNR e que elementos do SEPNA foram ao local, tendo aberto um processo de averiguações.
População queixa-se do mau cheiro, mas mais ainda das moscas
Vicente Cardoso reside no Reguengo da Parada e contou à Gazeta das Caldas que “de mês a mês há três a quatro dias” em que os odores intensos se fazem sentir na zona habitacional. “É um cheiro que não se pode”, garante, recordando, por exemplo, a situação da passada semana. Diz que a temperatura que se faz sentir e a direcção dos ventos pode influenciar mais ou menos este fenómeno dos cheiros intensos.
Uma das grandes preocupações de Vicente Cardoso é a contaminação dos solos – e consequentemente da água – com os produtos utilizados na agricultura intensiva. E notou também que com o aumento deste tipo de agricultura na região, há uma redução na água disponível. “Eu tenho um poço que se enchia em dois dias e desde há dois ou três anos demora uma semana a encher”, alertou.
Já João Ribeiro, que também reside no Reguengo da Parada, contou que “às vezes está aqui um pivete que não se pode, temos que ter as janelas fechadas para o cheiro não entrar”. Por vezes, notou, “até às Caldas chega”.
Uma grande preocupação para João Ribeiro são os constantes planos para criar um aviário num terreno perto das habitações. “O pessoal tem-se unido e feito abaixo-assinados porque isso não pode ser”, fez notar.
Mas mais do que os maus cheiros, que segundo João Ribeiro, “são recorrentes e muito intensos”, a população do Reguengo da Parada queixa-se de uma praga de moscas.
São elas quem mais incomoda Hugo Luís, proprietário de um café naquela localidade. Este é um problema antigo. Há sete anos, quando abriu o seu negócio, já se debateu com ele e tem feito tudo o que pode para as retirar do seu espaço, mas sem sucesso.
“Não sei de onde vêm, não consigo explicar, mas é uma praga difícil de controlar que incomoda a população”, afiançou. Relativamente aos maus cheiros, afirmou que “são situações esporádicas” e que vêm de uma zona sem casas.
Fredy Seitz, que vive no Bouro e muito perto da zona onde é depositado o estrume também se queixa do mau cheiro e das moscas. Diz que já falou com o presidente da Junta e que já foi à Câmara, mas que não lhe ligam. , queixa-se.
Do mesmo se queixa Luís Anísio, que trabalha em jardinagem e é confrontado frequentemente com os maus cheiros em várias vivendas da zona, sendo testemunha dos desabafos dos seus proprietários.