Clube não tinha fundos para cumprir compromissos com colaboradores, jogadores e também para pagar o IVA da transferência de Miguel Rebelo
A nova direção do Caldas apresentou no passado dia 27 de junho o orçamento para 2024/25, o que aconteceu pela primeira vez antes de o exercício em questão se iniciar. O executivo do clube viu aprovado um orçamento de 936 mil euros, que se foca em redução de alguns gastos e no crescimento da receita por via de aumento do número de sócios e da realização e participação em eventos. Mas a noite ficou marcada pela intervenção de Jaime Feijão, presidente do Conselho Fiscal, que revelou que a equipa comandada por Rodrigo Amaro já teve que solucionar problemas deixados pela anterior direção no valor de 100 mil euros.
Numa declaração que sublinhou estar a fazer, não como presidente do Conselho Fiscal, mas como sócio do clube, Jaime Feijão reiterou que, durante o mandato da direção anterior não encontrou “irregularidades nas contas”, mas deixou chamadas de atenção para a necessidade de realizar reajustes na gestão do clube, por conta do esgotar da “almofada” financeira que existia.
Jaime Feijão recordou ter sugerido, através de uma publicação nas redes sociais, a realização de uma conferência “Pensar Caldas”, a fim de discutir, com ajuda de especialistas, o futuro do clube, “mas tudo funcionou sempre num círculo muito restrito nos últimos anos e parecia não haver interesse que se abrisse a discussão”, afirmou.
Lembrando que, na altura, “ainda havia dinheiro para pagar ordenados a jogadores, colaboradores e fornecedores e a equipa andava num percurso tranquilo na Liga 3”, o que talvez fizesse os adeptos e sócios andarem descansados, o dirigente notou que “os elementos do Conselho Fiscal não andavam a dormir”. Quando os primeiros sinais de problemas começaram a surgir no início deste ano, “foram dois elementos do CF, o Rui Lourenço e o Rui Carneiro, em conjunto com a Carolina Neto, os principais elementos a tentar encontrar soluções para o clube e, não fosse o trabalho e empenhamento deles, as coisas ter-se-iam precipitado muito mais cedo”, afirmou.
Jaime Feijão adiantou que foi entre a assembleia de 5 de dezembro do ano passado e a de 11 de abril deste ano que houve “situações que devem ser do conhecimento dos sócios”. Numa altura em que havia rumores de dificuldades para cumprir com os compromissos financeiros, o CF enviou um e-mail à direção “com várias perguntas que queríamos ver respondidas”, o que conduziu à marcação de uma reunião entre os três órgãos sociais do clube. Nessa reunião “foi-nos dito de forma clara pelo Sr. Presidente da Direção que, com todos os valores que havia a receber, o clube tinha condições de cumprir com as obrigações até ao final da época”, referiu.
No entanto, continuou, não foi isso que se veio a verificar. “Não havendo dívidas que possam ser consideradas passivo, o cenário que foi deixado foi de uma emergência financeira”, disse. “Para o conhecimento de todos, os encargos de curto prazo herdados por este elenco diretivo ascenderam a mais de 100 mil euros, entre funcionários, fornecedores, Município e Estado”, concretizou.
Entre esses encargos estiveram 34.500 euros do IVA pela transferência de Miguel Rebelo, que “foi usado, tendo tido esta direção a necessidade de estabelecer um acordo de pagamento com a Autoridade Tributária para a sua regularização”. Encontravam-se ainda 18 mil euros pendentes ao Município das Caldas da Rainha referentes a três anos de taxas de publicidade dos outdoors. Além destes, Jaime Feijão indicou ainda ter sido gasto uma verba recebida de uma candidatura ao IPDJ, sem que o projeto tenha sido concretizado, o que será necessário fazer “nos próximos meses por forma a não ter de ser devolvido o que já havia sido recebido e gasto”, referiu.
Orçamento aprovado
Voltando ao orçamento, Rodrigo Amaro, presidente do Caldas, sublinhou que pretende iniciar um ciclo com “rigor e ambição na preparação”, de modo a cumprir os pressupostos que apresentou nas eleições de criar condições para modernizar o clube e torná-lo mais sustentável, manter espinha dorsal da equipa sénior e tornar clube eclético.
Para construir o orçamento, a direção adotou uma “visão realista”, com um nível de despesa “de acordo com receita que conseguimos”, afirmou o presidente.
Quanto a números, o clube prevê gastar 936 mil euros, com uma redução de 6% face ao exercício anterior. De destacar que o futebol sénior custará ao clube cerca de 520 mil euros.
O orçamento prevê um aumento da receita, apesar da revisão em baixa dos patrocínios, que a direção espera compensar com aumento de quotização através de campanhas de angariação e recuperação de sócios, aumento da receita de bilheteira, de merchandising e através da exploração de bares nas instalações do clube e em eventos, como será o caso das tasquinhas, onde o clube regressará este ano, embora não com restaurante.
À Gazeta das Caldas, Rodrigo Amaro confirmou que encontrou dificuldades de tesouraria no clube. “Tivemos que resolver rapidamente algumas situações, umas pendentes que já vinham de trás, outras que foram surgindo neste espaço de tempo e que a capacidade de tesouraria não acompanhava. Tivemos que ser criativos e ao mesmo tempo antecipar algumas verbas para não cairmos aqui numa situação crítica, face ao cumprimento com os impostos e também com fornecedores e jogadores”, disse, acrescentando que foi também necessário “apelar ao bom senso e à paciência de alguns fornecedores e colaboradores”.
“Acho que já conseguimos dar quase a volta, mas não quer dizer é que isso não vá implicar no futuro algumas dificuldades, esperemos que não, daí também este orçamento mais reduzido”, concluiu. ■