Directores de hospitais reuniram nas Caldas

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Gazeta das Caldas
Carlos Tomás é caldense e dirige a Associação Portuguesa de Engenharia e Gestão da Saúde
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Os responsáveis dos seis maiores hospitais do país estiveram nas Caldas da Rainha no 19 de Setembro para reflectir sobre os actuais desafios que lhes são colocados. O encontro foi organizado pela Associação Portuguesa de Engenharia e Gestão da Saúde, que é presidida pelo caldense Carlos Tomás. Este afirmou que o perfil do hospital das Caldas “deveria ser repensado de modo a servir melhor esta região”.

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O palco do auditório principal recebeu o debate entre os responsáveis dos maiores hospitais

“Está aqui a nata das natas dos maiores hospitais lusos. Reunimos os médicos e enfermeiros mais influentes e com maior capacidade de decisão, acompanhados pelos seus presidentes dos Conselhos de Administração”, disse o caldense Carlos Tomás, que é actualmente o presidente da Associação Portuguesa de Engenharia e Gestão da Saúde, organizadora deste evento “inovador” que teve lugar durante todo o dia no CCC.
Participaram delegações dos centros hospitalares do Porto, de S. João, de Lisboa Central, Lisboa Norte e Lisboa Ocidental e Universitário de Coimbra.

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Os hospitais, aqui reunidos nas Caldas, somam cerca de três mil milhões de euros do orçamento para a Saúde, deu a conhecer Carlos Tomás.
Os mega-hospitais, de fim de linha clínica, “estão constantemente a sofrer as consequências das mudanças permanentes do mundo actual”, disse Carlos Tomás. Na sua opinião, chegou a hora de reunir de modo a saber o que andam a fazer, o que pensam os responsáveis dos hospitais e que boas páticas podem ser partilhadas.
O debate teve lugar no palco do grande auditório onde foi colocada a plateia que recebeu as 70 pessoas desta iniciativa, que debateram as questões de escala dos hospitais, assim como as ligadas à referenciação dos doentes e à liberdade de escolha. À tarde, discutiram-se os modelos de gestão e os recursos humanos, assim como o investimento e o financiamento destas mega unidades hospitalares.
A vinda do evento para as Caldas resultou de “um desafio que fiz ao presidente da Câmara e que nos facilitou o CCC”, disse Carlos Tomás. Caldas ganhou assim este encontro entre directores hospitalares que estava inicialmente previsto realizar-se na Figueira da Foz.
Um dos convidados do evento, José Soto, presidente da organização espanhola dos Hospitais e Serviços de Saúde e director gerente do Hospital Clinico de S. Carlos, deixou uma mensagem clara aos seus congéneres lusos: o sistema hospitalar terá que se adaptar à inteligência artificial. E contou que o seu hospital teve o seu primeiro robot há 10 anos. O Leonardo da Vinci, como se designa, veio para fazer operações e a administração achava que este duraria 15 anos. “Ao fim de cinco estava obsoleto e a sua actualização vai custar mais do que o inicialmente previsto!”.
Para Carlos Tomás, a inteligência artificial vai mudar muito a maneira como os médicos exercem medicina, embora receie que os hospitais e universidades “se sintam muito pouco preparados para esse impacto”. Na sua opinião, os robots “não vão tirar empregos”, mas sim permitir que sejam feitas tarefas de forma mais rápida. “Na AutoEuropa já vão na terceira geração de robots, cada vez mais fortes e mais modernos, e não diminuíram os empregos pelo contrário, os postos de trabalho têm vindo a aumentar”.
O segundo desafio que enfrentam os hospitais está relacionado com o desenvolvimento das equipas e pessoas. “Há uma rigidez muito grande em lidar com as pessoas”, disse o caldense, dando um exemplo que foi falado na iniciativa. O responsável pelo hospital de S. João “mandou gastar 700 mil euros com um único doente”, mas “sente-se impotente para contratar um assistente operacional”.
Atentos ao pacote financeiro

Como caldense, Carlos Tomás lamenta que a assistência hospitalar nas Caldas “não seja a melhor”. Considera que o Centro Hospitalar do Oeste foi feito a régua e esquadro e que “seria bom repensar a sua lógica dado que o perfil regional tem-se vindo a alterar”.
Aponta que há nas Caldas “carências ao nível das instalações tal como os restantes hospitais do CHO” e deixa o alerta: “o modelo de EPE pode vir a ter vantagens de liberdade contratual e de negociação, mas o que era a dotação orçamental foi substituído por um contrato-programa que se não intervirem, pode ser que a dotação ainda baixe”. Daí que Carlos Tomás ache que a comunidade local deva ser mais participativa e estar atenta ao pacote financeiro que deve acompanhar a mudança do CHO para EPE.
Um novo hospital para o Oeste “até pode ser uma boa ideia”, mas para Carlos Tomás o que efectivamente é preciso ter em conta é a política de recursos humanos. “Sou engenheiro civil e sei que só os edifícios não chegam”, disse o presidente da Associação Portuguesa de Engenharia e Gestão da Saúde, acrescentando que um médico atende doentes em qualquer lado. “O que se deve debater é que tipo de perfil de hospital é que as Caldas necessita”, rematou.

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