És finalista e vais viver sozinho pela primeira vez? Este é o teu kit de sobrevivência.

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Saber fazer uma sopa, coser um botão, mudar um pneu, gerir os gastos de um mês ou mexer num quadro eléctrico em caso de curto-circuito. São estas algumas das dicas que os alunos do 12º ano da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro aprendem nos workshops “Do It Yourself”, um clube que pretende preparar os finalistas para a vida adulta.

O ano lectivo está a acabar e Joana Fortunato, Matilde Sedas e Ricardo Ezequiel ainda não perderam nenhum dos workshops promovidos pelo clube “Do It Yourself” (DIY). Este projecto surgiu o ano passado, dirigido aos alunos do 12º ano da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, com a finalidade de ajudar todos os finalistas que em breve vão para a faculdade. Esta nova etapa significa, na maioria das vezes, mudar de cidade e deixar de viver com os pais.
“Tento não pensar muito nisso, mas confesso que é um bocado assustador saber que vamos viver sozinhos pela primeira vez, saber que vamos partilhar uma casa com pessoas que não conhecemos mas com quem queremos criar uma boa relação de convivência”, afirma Joana Fortunato, que diz sentir-se mais preparada para esta próxima fase desde que frequenta o clube da escola.
Antes de participar nos workshops, Ricardo Ezequiel sabia apenas cozer massa e arroz, quanto muito estrelar um ovo. “Fome não passava, mas agora sei fazer muito mais coisas. Aprendi a cozinhar strogonoff, salmão no forno e tarte de maçã, mas ainda mais importante, passei a sentir-me à vontade com os utensílios e o fogão”, conta o jovem à Gazeta das Caldas, acrescentando que decidiu inscrever-se no clube para ganhar autonomia e independência, objectivo que foi alcançado.
A iniciativa é única no meio escolar e os nomes dos workshops também primam pela originalidade. “Cozinhar, lavar, arrumar e… relaxar”, “Bordalo Car Service”, “Arranjos e desarranjos”, “Adeus faísca” e “O meu rico dinheirinho” são as actividades que compõem o “kit de sobrevivência” dos alunos. Realizam-se a partir do 2º período e contam com 15 alunos por sessão.
Os cenários podem ser vários: Como faço o curativo de uma queimadura? Como mudo o pneu do meu carro? Como sei que o meu seguro automóvel está em dia e que o nível do óleo é o correcto? Como distingo um cartão de crédito de um de débito ou planeio um orçamento com as despesas para um mês? Como leio o contador da electricidade ou resolvo um acidente de curto-circuito? Como coso o botão que me saltou da camisa ou faço uma bainha sem ter que usar uma agulha? Todas estas situações são simuladas nos workshops, que fornecem ferramentas aos jovens para que possam ultrapassar os problemas diários que surgem com a chegada da idade adulta.
Ter noções de etiqueta (como sentar os convidados num jantar à mesa), aprender os nove movimentos para se dobrar uma meia e saber a melhor forma de estender a roupa para que depois não seja necessário passá-la a ferro são outras dicas que entram no “kit”.

AMBIENTE INFORMAL

As actividades do clube realizam-se sempre depois das aulas, a partir das 17h00, fora do horário escolar dos alunos. “É tudo feito com a prata da casa, num ambiente descontraído e informal entre estudantes e professores”, disse Alexandra Sampaio, docente mentora do projecto, salientando que “às vezes os alunos dos cursos profissionais também coordenam as actividades, quando os temas são electricidade ou automóveis, por exemplo”.
Sobre o contacto com colegas do ensino profissional, Ricardo Ezequiel (que também é vice-presidente da Associação de Estudantes), é da opinião que “estes cursos deviam ter mais projecção dentro da escola porque são muito interessantes do ponto de vista curricular”.

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Os inscritos neste clube já tiveram oportunidade de visitar as oficinas de mecânica da escola, conhecer professores com quem antes nunca se tinham cruzado, ou descobrir que a sala do ensino especial está equipada com uma cozinha, onde se realizam os workshops de culinária.
O projecto “Do It Yourself” arrancou no ano lectivo passado, mas a ideia de criar um clube deste género já matutava na cabeça de Alexandra Sampaio há quase oito anos. “Inspirei-me numa visita que fiz a uma escola na Finlândia, onde encontrei uma sala de economia doméstica (com máquina de lavar louça e tábua de passar a ferro), que servia para ensinar os alunos a serem independentes dentro de casa”, explica a professora, realçando que o mais importante nestes workshops é que sejam dinâmicos, divertidos e… nada aborrecidos.