Escrito a Chumbo 33

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17 e 21 de agosto

 

 

“Novamente o judo em Caldas da Rainha” faz manchete da Gazeta das Caldas, num artigo que recorda que “a primeira tentativa do lançamento da modalidade do Judo em Caldas da Rainha através do Futebol Clube das Caldas, abortou, como sabem alguns caldenses, e se dá conhecimento a outros”.

“Após a tomada dos Pavilhões do Parque Rainha D. Leonor pela Administração do Hospital a fim de servirem para a Secção Liceal e para a Escola do Magistério Primário, tendo o Futebol Clube das Caldas perdido as suas instalações nos Pavilhões, onde funcionava a Secção de Judo, esta foi encerrada, ficando as dezenas de judocas sem possibilidades de praticar o seu desporto. Dado que tinha adquirido certa projecção, patente pelo número de adeptos e pelas actividades realizadas (exames de graduação, contactos com outros clubes tais como Sport Clube Sintrense, Associação Académica de Coimbra, Externato de N.a Sr.a da Encarnação, competições e festivais), foi efectivamente lamentável o finalizar nestas circunstâncias. Tendo sido iniciado em Julho de 1971, e encerrada em Outubro de 1972, teve, pois, pouco mais de um ano de duração. Após mais de um ano de interrupção, começou novamente a funcionar o Judo em Caldas da Rainha. Havia já alguns meses que o Sr. Ricardo Rua, praticante e adepto entusiástico da modalidade se prontificara a ajudar economicamente a arrancada do Judo de Caldas, para a instalação de uma sala de Judo. Assim, e com a preciosa ajuda do Sr. Rua, foi alugada uma sala e montado um tapete de Judo, tendo o Judo Clube das Caldas iniciado as suas actividades em Junho do corrente. Dispondo de boas instalações, pratica-se actualmente no Clube, em classes de Homens, Senhoras e Crianças, Judo idêntico ao outras colectividades espalhadas pelo país. Desporto que implica despesas razoavelmente grandes, dado que é necessária uma sala para uso exclusivo, e um tapete especial, e dada a carestia actual das rendas de casa, por toda a gente sobejamente conhecida, é de difícil sobrevivência, só tendo sido possível à sua arrancada mercê da ajuda já citada, esperando-se, no entanto, que o apoio da população caldense torne possível o seu funcionamento em condições desafogadas”.

 

O 15 de agosto

Nas páginas do jornal encontramos o relato da Feira do 15 de agosto deste ano. “Decorreu entre 14 e 18 do corrente mês a tradicional feira anual de Caldas da Rainha. Iniciativa do mais alto interesse, ela contribui de um modo muito positivo para o desenvolvimento económico desta região. Máquinas agrícolas, gado, louças, vestuário, e muitas outras coisas atrairam os visitantes… e os caldenses. Para os mais novos mas não só, que também lá vimos muitos adultos eram os «carrinhos», os «aviões», os tiros», o «Circo» e outros divertimentos. Uma característica da feira foi a animação; sob um fundo musical ou de anúncios, as pessoas conversavam em voz bem elevada; havia quem cantasse… Feira anual de Caldas da Rainha: uma iniciativa que temos de manter e, se possível, melhorar”, conclui.

 

Caldas, onde o viajante não deixa de parar

A Gazeta das Caldas republica um artigo do jornal “A República”, que afirma que “o viajante que percorre a estrada Lisboa-Porto, repleta de locais a merecerem atenta visita, não pode deixar de parar na simpática cidade de Caldas da Rainha. Caldas da Rainha cujo nome ficou de novo na História, ainda há poucos meses, quando da intentona malograda de 16 de Março, que haveria de antecipar o 25 de Abril, foi fundada em 1845, quando a Rainha D. Leonor, mulher de D. João II, promoveu ali a criação do primeiro hospital do país. A razão da criação do hospital filia-se nas excelentes qualidades terapêuticas encontradas nas águas da região, onde se pensa ter havido termas romanas. A reputação das águas de Caldas da Rainha firmou-se através dos séculos. Estas águas, que fariam a fama da cidade são fornecidas por cinco fontes: Pocinho da Copa, Piscina dos Homens, Piscina das Mulheres, Piscina Escura e Arco. Mas em Caldas da Rainha há outros motivos a atraírem o viajante que pára o automóvel e goza por momentos as sombras das árvores do Parque. Exemplo disso é a Igreja Matriz, concluída em 1500; a Casa da Câmara, mandada construir por D. João V; o antigo palácio real, o Tribunal Judicial e o Hospital de D. Leonor, a que já nos referimos. Há também em Caldas, a dar-lhe fama, a sua famosa cerâmica. Ali deixou obra notável para a cultura portuguesa Rafael Bordalo Pinheiro. Boa água, boa fruta, monumentos e excelentes panorâmicas, de tudo isto há no concelho de Caldas da Rainha, que hoje vive na sede um dos seus mais importantes dias. Com feira de gado e festa popular”.

 

O Bairro das Morenas

A Gazeta desta semana retrata ainda um problema sentido na cidade, mais precisamente, no Bairro das Morenas. Conta o jornal que “estiveram na nossa redacção dois moradores do Bairro das Morenas, chamando-nos a atenção para o facto de acontecer que, neste bairro, os carros de praça se recusarem a ir até determinados pontos habitacionais por a estrada (?) não estar em condições. Este facto, disseram, é particularmente delicado para pessoas que vêm em viagem, carregadas com malas, que se vêem obrigadas a marchas difíceis. Salientaram, aliás, que o problema se resolvia com obras em cerca de 200 m da estrada. Enfim, aqui deixamos o apelo”.

 

Pela Câmara

Da Câmara das Caldas vinha a história de um pedido de revendedores da Praça da Fruta que foi indeferido (“e bem” diz o jornal). “O chefe da Secretaria transmitiu à Câmara o pedido formulado pelos revendedores que exercem a sua actividade diária no mercado abastecedor de víveres no sentido de poderem adquirir aos agricultores que vendem no mesmo mercado durante um período das oito às dez horas, por exemplo, artigos hortícolas e outros alimentares que estes têm em venda, para revenda no mesmo mercado, em vez de o fazerem apenas depois das doze horas como vem acontecendo há dezenas de anos. A Câmara, considerando que tal medida afectaria o público consumidor, não deu satisfação à pretensão». Os nossos parabéns!”, lê-se.
Da autarquia vinha também a novidade da deliberação de que “o novo quartel dos Bombeiros Voluntários de Caldas da Rainha fique localizado nos terrenos municipais da Cadeia Comarcã, para o que o Município porá à disposição daquela Corporação dois mil metros quadrados em condições jurídicas a estudar”.
Por outro lado, informava-se de uma expropriação sistemática de terrenos para expansão de localidades. “São considerados para efeitos de expropriação sistemátide terrenos considerados prioritários para a expansão de localidades com planos de urbanização aprovados, as zonas nesta cidade, a norte da Cidade, entre a linha de caminho de ferro e a Estrada Nacional número oito e a anexa ao Matadouro Municipal (…) e bem assim na Foz do Arelho a zona conhecida por Monte do Facho (…)”.
Relativamente ao abastecimento de água, a “Câmara debruçou-se sobre o problema da falta de água nos últimos tempos nesta ta cidade; analisou as causas – excesso de consumo devido ao calor, as regas, diminuição geral de produção dos furos de captação existentes e resolveu tentar solucionar o problema”, refere-se.

 

Orientação

Encontramos ainda um pedido de publicação do atual diretor da Gazeta das Caldas, José Luís de Almeida Silva que manifesta “publicamente a minha discordância com certa orientação que está a ser dada à G.C., que apesar da mudança radical operada depois da substituição de direcção (a defunta-gazeta-fascista nem serve de termo de comparação); esta não se está a tornar num meio de informação e de esclarecimento das camadas trabalhadoras a quem se deveria dirigir, tendo entre outras coisas, sistematicamente ignorada (quais os motivos?) o problema da não oficialização da Comissão Administrativa camarária, os despedimentos efectuados na região, etc. Como último ponto desta nota e sem alguma demagogia, queria rectificar a qualificação que me foi dada nessa «mesa redonda» (estudante). Sou um trabalhador, neste momento exilado em terras de França» aguardando que termine a guerra colonial que Portugal mantém nas colónias, em agressão às mais legítimas aspirações desses povos africanos”.

Nota ainda para um artigo intitulado de “Párocos dificultam campanha de alfabetização”, para um comunicado do Partido Popular Democrático a dar conta de “que se encontra aberta ao público a sua nova sede, na Av. da Independência Nacional, n.º 5, nesta cidade” e para mais um cartoon de Figueiredo Sobral.

Para a semana trazemos mais artigos escritos a chumbo. Até lá.