Estratégias para combater o suicídio deverão ser trabalhadas em rede

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Gazeta das Caldas
José Carlos Gomes vê o suicídio como um problema grave de saúde pública, que tem um enorme impacto emocional e social
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O docente José Carlos Gomes, a vereadora Conceição Pereira, a directora executiva do ACeS Oeste Norte, Ana Pisco, e o psicólogo Nuno Petralha

O suicídio representa anualmente cerca de um milhão de mortes, ou seja, no mundo há uma pessoa a pôr termo à vida em cada 40 segundos. Dados preocupantes que foram apresentados nas Caldas, a 10 de Setembro, data em que se assinalou o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Na região que apresenta uma média de casos superior à nacional, José Carlos Gomes, da Escola Superior de Saúde de Leiria, falou sobre o suicídio e seus mitos e chamou a atenção dos profissionais e familiares para estarem atentos aos sinais, pois na maioria dos casos é possível salvar a vida aos potenciais suicidas.

O suicida em Portugal é principalmente homem, com idade superior a 55 anos, com história de isolamento e, na maior parte das situações, com doença mental diagnosticada. Estima-se que esta seja a 13ª causa de morte em todo o mundo.
Ana Pisco, directora executiva do ACeS Oeste Norte, divulgou que na região abrangida pelo agrupamento a taxa de mortalidade em 2012/2013 foi de 19,1 por 100 mil habitantes, sendo mais elevada nos homens do que nas mulheres. Trata-se de uma taxa superior à da ASR de Lisboa e Vale do Tejo, cujo valor é de 11,2 e à do país, que se situa nos 10,3.
Ao analisar a taxa de suicídio em indivíduos com menos de 75 anos os dados são de 13,3 por 100 mil habitantes no ACES Oeste Norte, de 8,3 na ARS e 7,7 para o país.
Se, por um lado, há registos de que a taxa de suicídio tem vindo a diminuir nos últimos anos, por outro apresentam-se novos indicadores que são preocupantes e que mostram que o suicídio começa a ser mais frequente na adolescência, “onde é ainda mais difícil intervir”, disse Ana Pisco.

De acordo com a responsável, a prevenção do suicídio será uma das áreas de intervenção do ACeS no próximo triénio. A equipa de Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC) das Caldas já está a desenvolver estratégias e Ana Pisco espera que, com a criação do serviço de Saúde Mental do CHO e a continuação do trabalho dos psicólogos e assistentes sociais, possam aprofundar esse trabalho juntamente com a comunidade, em rede.
Sem dados concretos que possam suportar a afirmação, a responsável entende que a fase mais problemática dos jovens será aquando da entrada para a universidade e, mais adiante, quando têm que lidar com o insucesso em termos de emprego e percurso profissional. “Hoje em dia os jovens estão muito sozinhos e refugiam-se em consumos de substâncias menos lícitas (incluindo o álcool) e isso pode arrastar para este tipo de situações, pois a sua personalidade fica mais frágil”, disse, acrescentando que é necessário voltar a dar mais suporte aos adolescentes e jovens.

“Temos que deixar de funcionar como ilhas”

De acordo com José Carlos Gomes, da Escola Superior de Saúde de Leiria, também se sabe que o suicídio está entre as cinco principais causas de morte na faixa etária dos 15 aos 19 anos e sobe ao segundo lugar no grupo etário dos 15 aos 24 anos. É, por isso, uma área de intervenção do SNS que “deve merecer mais atenção”, considera o docente e investigador para quem o suicídio é um problema grave de saúde pública, que tem um enorme impacto emocional e social.
“A intervenção neste problema deve ser abrangente e sólida, começando a actuação ao nível de prevenção primária”, disse o orador, fazendo notar que este não resulta de uma única causa, mas de uma “complexa interacção” de factores biológicos, genéticos, psicológicos, sociais, culturais e ambientais. Contudo, destaca, a maioria dos suicídios pode ser prevenida, com uma maior acção no terreno e a intervenção de várias entidades em conjunto.
“Temos que deixar de funcionar como ilhas, o desafio é criar um arquipélago”. A metáfora foi utilizada pelo orador para chamar a atenção do trabalho em rede e de comunicação entre as várias entidades, desde autarquias, aos cuidados de saúde, escolas, empresas e associações, de modo a chegar às pessoas.
José Carlos Gomes abordou também vários mitos relacionados com o tema, tal como o facto das pessoas que falam sobre suicídio só quererem chamar a atenção, ou de ser um acto impulsivo e que acontece sem aviso. Também não é verdade que os indivíduos suicidas querem mesmo morrer e que após uma tentativa de suicídio, a pessoa nunca mais volta a tentar matar-se.
A ideia comumente aceite de que se alguém falar sobre suicídio a outra pessoa está a transmitir-lhe a ideia de suicídio é falsa, assim como não se deve pensar que quando um indivíduo mostra sinais de melhoria ou sobrevive a uma tentativa, que está fora de perigo. Também não é verdade que a tendência para o suicídio seja sempre hereditária e quem comete este acto tenha, necessariamente, uma perturbação mental.
Estes e outros mitos foram desfeitos na sessão pública sobre “O Suicídio e os seus Mitos – Uma intervenção Comunitária”, dinamizada pela eequipa de Saúde Mental da Unidade de Cuidados à Comunidade das Caldas da Rainha.