Dezoito chefs, críticos gastronómicos, jornalistas e influenciadores internacionais estiveram no Oeste, entre 5 e 7 de Setembro, a fazer uma viagem gastronómica com o objectivo de dar a conhecer as características distintivas da Pêra Rocha. A iniciativa, organizada pela ANP – Associação Nacional de Produtores de Pêra Rocha, incluiu uma visita a um pomar e a uma central de abastecimento de fruta, assim como a degustação de pratos e sabores inspirados na região Oeste e neste produto tipicamente português.
De bata vestida e touca na cabeça, os jornalistas, bloggers, chefs e críticos gastronómicos entraram nas instalações da central fruteira Granfer, na Usseira, ao final da tarde de quinta-feira, para ver “in loco” como se processa o embalamento e distribuição da fruta. Em plena época de colheitas, os visitantes acompanharam o processo de lavagem, preparação e conservação da Pêra Rocha nas câmaras frigoríficas até ser colocada no mercado, quer o nacional, quer o externo, como é o caso do Brasil, Canadá, Alemanha, Inglaterra e Marrocos.
Na parte da manhã, o grupo, que no total contou com a presença de 18 participantes provenientes de cinco dos maiores mercados de exportação da Pêra Rocha, experimentou a apanha da pêra na Quinta da Boavista (Cadaval). Seguiu-se um piquenique no mesmo espaço, com um menu inspirado neste fruto, e uma visita à Serra de Montejunto.
PÊRA AO VINHO DO PORTO EM MADRID
Para Nuno Goucha, um português que reside em Madrid há 14 anos, a participação neste tour gastronómico foi uma experiência “muito enriquecedora”, que lhe permitiu ter um contacto próximo com o campo. Proprietário do restaurante Atlantik Corner, dedicado à culinária atlântica, Nuno Goucha já possui no menu uma salada com pêra, que a partir de agora será Rocha, garantiu à Gazeta das Caldas.
“Um dos objectivos que tenho no restaurante é promover a gastronomia portuguesa e os seus produtos, e se tenho uma salada com pêra ao vinho do Porto, faz todo o sentido que seja Pêra Rocha o fruto utilizado”, explicou.
O empresário português, natural da Batalha, destaca que este é um fruto que tem características muito próprias que pode ter diversas confecções. “A mais clássica é embebida em álcool, mas também há os purés e as compotas, saio daqui com algumas ideias”, disse Nuno Goucha.
O chef de cozinha Oscar Bosh já conhecia a Pêra Rocha, mas no Tanit, o restaurante de cozinha mediterrânea que possui em São Paulo (Brasil) normalmente trabalha com pêra William, que é mais conhecida no país. Ou melhor, trabalhava, precisou à Gazeta das Caldas porque depois desta visita está a pensar adaptar as suas receitas a este fruto tipicamente oestino. “Normalmente cozinhamos a pêra e eu vi que a Rocha é muito boa para cozinhar, pelo que vou passar a utilizar”, disse o premiado chef do ano em 2017 e considerado pela imprensa brasileira como um dos 10 talentos em ascensão no Brasil.
Oscar Bosh já tem, inclusive, algumas ideias de como usar este fruto no seu cardápio: como entrada, com queijo manchego (um queijo espanhol feito com leite de ovelha), ou um carpaccio de pêra, ou ainda aperitivos e como sobremesa.
O chef de origem catalã e a residir há oito anos no Brasil, que já tinha tido uma experiência gastronómica com o azeite no Alentejo, mostrou-se surpreso com o trabalho que envolve a colheita da pêra e dos custos que envolve. “As pessoas também não têm noção dos prejuízos, hoje de manhã fomos ao pomar e vimos muita fruta no chão, que não é aproveitada”, disse, acrescentando que ficou com a percepção que se trata de um sector muito dinâmico e gerador de emprego.
“Acho que Portugal está a fazer um grande trabalho ao nível da promoção da agricultura e que o país hoje em dia está muito valorizado pelos brasileiros”, concluiu.
UMA OPINIÃO ALEMÃ
Também bastante interessada na Pêra Rocha estava a crítica gastronómica alemã, Dorit Schmidt. Normalmente escreve sobre gastronomia e vinhos e diz ter particular curiosidade em ver o processo de produção do fruto, que possui Denominação de Origem Controlada. “É uma fruta especial para o mercado, é fresca, saborosa, e com uma textura firme que lhe permite ser exportada”, disse a autora dos blogs Dorit’s Chateau et Chocolat” e “Aromenspiele | Das Onlinemagazin”.
Na Alemanha costuma encontrar várias variedades de pêra, mas não a Rocha, que só experimentou quando chegou ao Oeste. “Vejo sobretudo muita fruta espanhola e julgo que a pêra portuguesa não está bem identificada”, opinou. Dorit Schmidt considera também que foi importante ver a colheita para perceber a rapidez com que os trabalhadores apanham as pêras e têm a noção dos tamanhos que depois são divididos por calibragem.
Quebra de 15 a 20% na produção
Organizada no âmbito do projecto “Promoção da Pêra Rocha nos Mercados Externos”, que tem como objetivo aumentar a competitividade e visibilidade internacional da pêra Rocha e do país, a iniciativa pretendeu provocar um aumento nas exportações, reforçando a promoção do fruto no exterior e um melhor conhecimento dos mercados-alvo. Presentes estiveram representantes do Brasil, Alemanha, Espanha, França e Reino Unido, para conhecer e dar a conhecer a pêra Rocha.
Co-financiado pelo Compete 2020, no âmbito do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização, este projecto conta com um investimento global de 431 mil euros, sendo que 85% desse valor provém do FEDER e será também direccionado para a realização de acções de promoção e comunicação.
Joana Pereira, secretária geral da ANP, acredita que esta actividade terá bons resultados, tendo em conta que os participantes interagem muito e têm uma grande influência nas redes sociais e querem levar o produto para os restaurantes dos seus países.
O ano passado a produção de pera Rocha foi na ordem das 210 mil toneladas, mas este ano as estimativas são de uma quebra de 15% a 20% por causa das adversidades climatéricas. “A temperatura aumentou muito de repente e a pêra, como não estava preparada para receber esse calor, ficou cozida no seu interior e com queimaduras, mesmo com os produtores a aplicar o protector solar nos frutos”, explicou a responsável. As zonas mais afectadas são os concelhos de Óbidos, Cadaval e Bombarral.
O grosso da campanha este ano está a decorrer duas semanas mais tarde relativamente ao ano passado, tendo começado no final de Agosto, quando no ano passado começaram em meados do mês. Este atraso no início da colheita leva a que os produtores tenham que recorrer mais a mão de obra estrangeira, pois com a proximidade do período de aulas muitos jovens já não participam na campanha.