Ligação paisagística da Ermida de Nossa Senhora do Socorro à aldeia do Bombarral e ao Santuário do Sr. Jesus do Carvalhal é o objetivo
A Ermida de Nossa Senhora do Socorro, capela maneirista e barroca erigida no século XVI junto ao Carvalhal, no concelho do Bombarral, é o ponto de partida para um estudo promovido pela Faculdade de Arquitetura de Lisboa, que pretende um novo olhar da ligação entre o templo e igreja-matriz da aldeia e o Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal.
Fruto de uma parceria estabelecida entre a Câmara do Bombarral, Patriarcado de Lisboa, Junta de Freguesia do Carvalhal e a Sociedade Filarmónica Carvalhense com aquela universidade, um grupo de 26 alunos de arquitetura de dez nacionalidades, ao abrigo do Programa Eramus+, estiveram nesta zona do concelho no último sábado, numa visita orientada pelo professor Jorge Cancela.
Está previsto que em maio seja apresentado publicamente um conjunto de propostas para a proteção da área onde está implantada a ermida, a par do embelezamento das zonas envolventes. Depois, compete à Câmara do Bombarral decidir se avançará ou não com as ideias para que sejam concretizadas no terreno.
Este projeto representa um avanço considerável sobre a proteção e enquadramento paisagístico da Ermida de Nossa Senhora do Socorro, que há dois anos esteve envolta numa polémica com a construção de uma moradia, paredes meias com o templo. Face à pressão popular e apesar dos direitos adquiridos do proprietário do terreno contíguo, que viu licenciada uma habitação pelos serviços autárquicos, a Câmara acabou por adquirir o terreno e assim permitir a salvaguarda da zona envolvente da ermida.
Para o professor Jorge Cancela, este trabalho é muito importante para a Faculdade, porque representa uma grande oportunidade académica para os alunos. ”Temos como missão preparar profissionais que possam realmente intervir na comunidade, promovendo a solidariedade através da técnica porque os arquitetos são guerreiros da paz”, destacou. Sobre este projeto bombarralense, acredita que “vai permitir que um grupo muito diversificado de alunos de várias partes do mundo, possam trabalhar num objetivo comum que tem a ver com a defesa do património nacional e que, com isso, possam ganhar conhecimentos e levar um pouco da nossa história para os seus países”, destacou à Gazeta das Caldas.
No final de maio haverá uma apresentação pública do trabalho final no Carvalhal. “Esperamos que tenha depois utilidade e que seja de continuidade para o futuro”, concretizou.
Sendo a ermida uma joia do património religioso, a proposta de uma valorização coerente vai ser feita com grande cuidado, fazendo a ligação à paisagem de uma forma serena, promovendo as ligações ao santuário e à aldeia por uma rede de caminhos pedonais
A marroquina Rim El Alaoui, o argentino Facundo Carrasco e a italiana Claudia Guerini, partilharam à Gazeta o entusiasmo sobre a participação neste projeto enquanto estudantes de arquitetura, Uma opinião que é transversal aos colegas provenientes do Brasil, Espanha, Inglaterra, Turquia, República Checa e México, para além de alguns alunos portugueses.
Para Guilherme Collares Pereira, da Sociedade Filarmónica Carvalhense, a concretização desta parceria representa uma boa notícia para a comunidade e para o concelho. “É fantástica a alegria dos estudantes neste projeto”. Também o presidente da Câmara do Bombarral elogia a realização deste trabalho académico. Ricardo Fernandes assegurou á Gazeta que a proteção da ermida ficará salvaguardada no novo Plano Diretor Municipal, em fase de aprovação. “Nunca nada será construído [junto à ermida], nem a Norte, nem a Sul”, assegura o autarca. Garante também que é objetivo do seu executivo dar continuidade às propostas que resultarem do trabalho dos estudantes universitários da faculdade lisboeta.
O pequeno templo dedicado a Nossa Senhora do Socorro, situado à entrada da povoação do Carvalhal, foi mandado edificar em 1574 por Salvador Gil e sua mulher Bárbara Henriques. Os painéis de azulejo de Bartolomeu Antunes e Nicolau Freitas alusivos à Vida da Virgem, colocados na capela por volta de 1733 a expensas da povoação do Carvalhal, são autênticas preciosidades. A atribuição da classificação como Imóvel de Interesse Público apenas ocorreu em 1993, apesar do processo ter iniciado em 1980.