Durante dois fins de semana, a ópera regressou a Óbidos com grande êxito. Os espetáculos esgotaram o evento atraiu gente de todas as idades. A parceria entre a autarquia e a ABA foi bem sucedida e a qualidade é para manter
Foi com as aventuras e as desventuras de Don Giovanni que terminou o Festival de Ópera de Óbidos (FOO), na Quinta das Janelas, no passado domingo, 17 de setembro.
Foi pois o fim desde festival, assistido por mais de 2500 pessoas, durante os dois fins de semana e que contou com as apresentações de “La Serva Padrona”, de Pergolesi, “A Voz Humana”, de Francis Poulenc, “Don Giovanni” e a Gala de Ópera “Mulheres: Da paixão à Inocência – Uma dança com o destino”.
O espaço da grande adega lotou, com mais de 500 pessoas que quiseram assistir a esta ópera clássica de Mozart e que data de 1787. A versão, apresentada em Óbidos, contou com vários aspetos contemporâneos, sobretudo no guarda-roupa das personagens do coro que surgiram com tons fluorescentes nas roupas e óculos de sol.
As figuras principais respeitaram a tradição e, como tal, não faltaram os vestidos compridos, as capas e os enfeites que distinguiam as classes sociais.
A peça de dois atos arrancou fortes aplausos dos muitos participantes que encheram a adega daquela quinta cujos espaços encantaram músicos, produção e público pela beleza e, nalguns casos, pelo aspeto romântico que ainda mantém.
A Quinta das Janelas, que fica em Vale das Flores e a pouca distância do Convento de São Miguel, nas Gaeiras, é uma construção que remonta aos princípios do século XVI, e incorpora a antiga Quinta das Flores (onde, segundo se diz, a Rainha D. Leonor ficava quando se deslocava às Caldas). Trata-se pois de um local cheio de história que inclui um Palacete do século XVI, um conjunto de lagares, adegas, um picadeiro e um chafariz. E agora durante o festival estes espaços foram apropriados pelo FOO e usados para funções tão diferenciadas como o picadeiro que serviu para albergar o catering. As cavalariças, por seu lado, foram transformadas em camarins e em salas de ensaio.
Caldense no elenco principal
Soma-se ainda o facto de Donna Anna, uma das principais personagens de Don Giovanni, ter sido a soprano caldense Rita Marques, que não podia estar mais satisfeita por ter feito parte deste elenco.
“Em 2006 eu estreei-me no Festival de Ópera de Óbidos e também na peça Don Giovanni, fazendo parte do coro”, contou a cantora à Gazeta das Caldas, após o final apoteótico, não só do fim desta peça mas também porque marcou o final do festival. Todos os participantes reuniram-se no palco da adega para receber os aplausos de pé e os “Bravos!” que ecoaram em vários momentos.
“Dezassete anos depois cá estou de novo, agora para interpretar Donna Anna”, disse a soprano que encarou o papel com todo o respeito. Participar no retomar desta iniciativa “foi uma grande honra” tendo em conta que “foi um luxo poder estar no meio de amigos “. Para a cantora, a noite de 17 de setembro “foi o culminar de todo este trabalho que, de facto, não poderia ter corrido melhor. Só espero que este festival tenha vindo para ficar!”, rematou a soprano Rita Marques que tem vários projetos onde vai participar ligados ao Teatro de S. Carlos.
Uma grande entrega dos artistas
Para o diretor artístico do festival, André Costa Leal, fazer regressar este Festival de Ópera “era na verdade um sonho antigo, agora realizado”.
E isto porque o Festival de Ópera de Óbidos “foi importante para toda uma geração de cantores e técnicos e era de facto importante que pudesse voltar”, referiu o responsável que considera que foi mesmo em boa hora que a Câmara de Óbidos e a Associação Banda de Alcobaça se uniram para avançar com o retorno do FOO.
André Costa Leal sublinhou o facto de todos os espetáculos terem contado com casa cheia e ainda destacou que todos os artistas “deram tudo de si, numa grande entrega”.
O festival de Óbidos esteve a ser preparado desde agosto em Lisboa e no Porto, numa grande operação logística e cujo balanço é para André Costa Leal “maravilhoso”.
Sobre quem assistiu, o programador referiu que “tivemos um público entendedor, alguns curiosos e constatamos que tivemos também muito gente jovem”.
Segundo o diretor artístico “estamos também a criar aqui uma nova centralidade”. Na sua opinião, Óbidos poderá ter um papel fundamental no Oeste se se tornar numa referência nesta área cultural da música.
Um futuro teatro para ópera
Além desta região possuir “um dos patrimónios mais ricos do país” com quintas como a das Janelas que proporcionam “belos cenários para a ópera”, Óbidos poderia pensar também na futura construção de um futuro teatro de ópera.
“O que assistimos no FOO Quinta das Janelas está a o mesmo nível do que se assiste na Ópera de Viena ou em Convent Garden”, sublinhou o diretor, também ligado a vários projetos que estão relacionados com a ópera e a música clássica, de entidades como a RTP e Antena 2, e é também diretor artístico da Égide – Associação Portuguesa das Artes.
“Estamos a menos de uma hora de Lisboa, e esta é uma região linda…Se, no futuro, tiver um equipamento cultural destes… Então a região vai explodir!”, disse o diretor artístico que quer que o FOO do próximo ano consegue ultrapassar a fasquia que ficou tão alta logo na edição de estreia. Promete que não faltarão novos espaços que vão surpreender todos, tal como aconteceu com a Quinta das Janelas.
André Costa Leal quer ainda que o FOO possa ter uma dimensão internacional e que, no futuro, se transforme num centro de produção e circulação de ópera com alcance global. Pretende-se que possa atrair público internacional e, desta forma, possa ajudar a impulsionar também o turismo cultural da região. ■