
É assim todos os anos. No primeiro sábado de Maio, o grupo de antigos alunos da Escola Industrial e Comercial das Caldas da Rainha encontra-se para rever velhas amizades e fazer um brinde às boas memórias que partilharam naquele espaço. Este ano, cerca de 190 pessoas marcaram presença no restaurante A Lareira naquele que foi o 24º encontro destes ex-alunos.
O grande desejo da organização é também atrair novas gerações de estudantes com o objectivo de desmistificar a ideia que estes eventos são só para “velhos”.

O ambiente é de entusiasmo à porta da Casa dos Barcos, no Parque. Foi este o ponto de encontro escolhido para dar início ao encontro, que antes do almoço no restaurante A Lareira começa com uma exposição que compila em fotografias vários momentos vividos na Escola Industrial e Comercial das Caldas dos anos 30 aos anos 70. Os ex-alunos reconhecem-se nas postais de turma, nas fotografias das equipas desportivas, das viagens de finalistas e visitas de estudo. E reconhecem também antigos colegas. Logo aqui o ambiente é propício à recordação de histórias passadas.
Este é o 24º encontro de antigos alunos desta escola e já há algum tempo que a organização promove iniciativas além do almoço-convívio. A maioria são culturais. O objectivo é que este evento seja mais do que uma refeição, daí que depois do almoço também haja animação musical. Sobretudo, este é um dia de festa.
Inscreveram-se este ano 186 alunos. Vêm de quase todos os pontos do país, mas também do estrangeiro. Estados Unidos, Canadá, França e Espanha são alguns exemplos e há mesmo quem planeie as suas férias em Portugal de modo a que coincidam com o encontro.
Fernando Santos, por exemplo, vem de Olhão. Curiosamente não foi aluno da Escola Industrial e Comercial das Caldas, mas sim em Lisboa, onde tirou o curso de electricista. Só que aos 15 anos mudou-se para as Caldas e desde logo travou amizade com os alunos desta escola. “Tornei-me filho adoptivo das Caldas, tanto que quando me perguntam de onde sou, digo que sou daqui!”, conta, acrescentando que descobriu este grupo através da internet quando aprendeu a trabalhar com as novas tecnologias. Com 83 anos, participa nos encontros desde os 76. “Venho essencialmente para encontrar amigos do meu tempo. O principal prazer é o convívio, mais do que o almoço em si”, realça.
De Vila Nova de Gaia, lado oposto do mapa, chega Manuel Maia, 75 anos. O antigo aluno chegou às Caldas com nove anos, partiria para Angola com 16. Da Escola Industrial e Comercial recorda as namoradas, as excursões e o bom ambiente, mas também um professor de Matemática a quem atribui a responsabilidade de lhe ter retirado o gosto pelos estudos. “Mas é claro que isso nada tem a ver com a escola… porque quanto à escola, é impossível esquecer todos os bons momentos que ali passei”, afirma.
Não só os ex-estudantes marcam presença nestes encontros. Também há antigos professores. Este ano são pelo menos oito. Um deles é António Realinho, 78 anos, que foi mestre de serralharia na escola por mais de uma década. Como professor, sempre defendeu o método de ensino “aprender fazendo” e uma relação de proximidade com os alunos. Quanto à Escola Industrial e Comercial das Caldas, reconhece-lhe o papel fundamental que teve na formação de pessoas que após terminarem os seus cursos decidiram fixar nas Caldas os seus negócios e a quem eram valorizadas as suas competências.
“Espero que a escola nunca perca a sua vertente de formação profissional, pois é muito importante para gerar emprego na região”, acrescenta, realçando que nestes encontros revê antigos alunos que entretanto se tornaram seus grandes amigos.
“HOJE OS PROFESSORES SÃO MAIS PREOCUPADOS”
A actual directora da Escola Secundária Bordalo Pinheiro (antiga Escola Comercial e Industrial) foi também sua aluna de 1972 a 1988. “Das primeiras memórias que tenho é que no ciclo preparatório tínhamos aulas nuns pavilhões pré-fabricados. À excepção das aulas de Matemática que eram dadas no edifício central. Lembro-me de como nos sentíamos importantes porque aquele espaço só era frequentado pelos alunos mais velhos”, recorda Maria do Céu Santos.
A directora lembra-se também do espírito de camaradagem, das partidas que os colegas faziam uns aos outros e dos boicotes que se faziam às aulas – faltava toda a turma para ir assistir ao rally de Montejunto. E ainda das reuniões gerais de alunos, que após o 25 de Abril eram muito acesas e marcadas sob quaisquer pretextos.
Para a ex-aluna, estes encontros são mais do que um reencontro de velhos amigos, mas também uma prova da sua afectividade para com a própria escola.
Quanto à relação que existia entre professores e estudantes, Maria do Céu Santos considera que naqueles tempos era mais distante. “Hoje os professores preocupam-se verdadeiramente com os alunos, com o facto de terem ou não tomado o pequeno-almoço ou de não terem um par de sapatilhas para Educação Física. Há uma preocupação que transcende a sala de aula”, afirma.
“PRECISAMOS DE NOVAS GERAÇÕES”
Há 24 anos que surgiu a ideia de promover encontros entre antigos alunos da Escola Comercial e Industrial das Caldas e desde 2005 que o caldense José Ventura integra a organização desta iniciativa. “Temos neste momento uma base de dados com 1200 alunos, hoje estamos 186 mas já houve anos em que vieram 300 pessoas”, diz, acrescentando que o “maior drama” que enfrentam é “que se criou a ideia de que isto é um almoço para velhos”.
Actualmente, o principal objectivo da organização é atrair novas gerações, ex-alunos que terminaram os seus cursos entre 1975 e 1980. Isabel Santos, 54 anos, é uma das 32 pessoas que veio ao encontro e só concluiu o estudos nesta escola depois de 1975.
“Sou de Peniche mas vim para as Caldas estudar Contabilidade. Foram só dois anos, mas posso dizer que foram os melhores anos da minha adolescência e tempos muito marcantes”, conta a ex-aluna, realçando que estes encontros permitem reencontrar caras conhecidas mas também conhecer novas pessoas. Além disso, são também uma oportunidade para manter vivas as amizades, pois a “muitos destes alunos têm prioridades como a família e o trabalho, foram morar para longe, e por isso este é dos únicos momentos ao longo do ano em que se podem encontrar”.