A tradicional tourada do 15 de Agosto foi novamente acompanhada por um protesto contra as touradas. Mas, pela terceira vez, a manifestação foi desviada para a Rua Heróis da Grande Guerra por estar convocada outra de apoio às touradas em frente à Praça de Touros que, contudo, não se chegou a realizar.
O protesto, que acabou por acontecer junto aos CTT, contou com cerca de 40 manifestantes.
Esta foi a terceira vez que os manifestantes anti-tourada se viram impedidos de se manifestar em frente à Praça de Touros devido à alegada existência de uma outra manifestação que acaba por ser fantasma.
Diogo Bolinhas foi o activista que marcou a manifestação contra a tourada, que teve o apoio das associações CREA e Animal. “Avisei da nossa iniciativa com 72 horas de antecedência, por fax, a PSP e em mão a Câmara Municipal, porque o fax estava avariado”, conta à Gazeta das Caldas.
A acção teve um primeiro momento, de manhã, na Rua Cândido dos Reis, com distribuição de informação sobre a causa. “Nessa altura perguntei a dois agentes da PSP se estava tudo em ordem para a tarde e responderam que sim”, adianta Diogo Bolinhas.
Foi, por isso, com algum espanto que constatou ao chegar ao local, às 17h00, que não estavam criadas as condições para o perímetro de segurança, nem qualquer força policial presente. “Chegaram dois minutos depois da hora, dois agentes”, acrescentou.
Os agentes mostraram-lhe um despacho assinado pelo presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, que alterava o local da manifestação para junto dos CTT a fim de evitar conflitos.
No entanto, Diogo Bolinhas sublinha que não recebeu qualquer documento e notou aí alguma opressão das forças policiais. “Tentaram intimidar, que se não fossemos para o outro local seríamos forçados”, acrescentou.
No entanto- e pelo terceiro ano – não aconteceu qualquer manifestação a favotr das touradas entre as 17 e as 18 horas junto à Praça de Touros.
“Foi uma situação que nos deixou revoltados, por não nos deixarem manifestar no local onde queríamos”, desabafa o activista.
Fonte da PSP disse à Gazeta das Caldas que foi a Câmara, “no uso das suas competências legais”, que impôs aos organizadores restrições quanto ao espaço de realização das manifestações. E que os agentes se limitaram “a fazer cumprir tais imposições, de forma a prevenir eventuais alterações da ordem pública”, acrecentou.
Diogo Bolinhas fala de “má vontade” da autarquia, que acusa de defender as touradas. “Mas esta opressão dá-nos mais força”, realça.
O organizador ficou, de qualquer modo, satisfeito com o protesto. “Tivemos cerca de 40 pessoas, fizemos muito barulho e aquele episódio acabou por nos dar mais força”, observa, acrescentando que foi um protesto maior que alguns levados a cabo em Lisboa.
Diogo Bolinhas contou que, apesar das associações que apoiaram a manifestação estarem ligadas ao veganismo, a manifestação contra as touradas não tem esse cariz.
“A tourada é um processo de tortura e a maioria dos portugueses percebe isso e é contra, só que poucos se manifestam. Estes protestos também servem para que essas pessoas se manifestem, para que no futuro em vez de 40 pessoas termos 40 mil”, refere o activista.
Actualmente existem várias campanhas e petições, umas para que as touradas sejam abolidas, outras para que acabem os apoios públicos a estes espectáculos e outras ainda para que sejam interditos a crianças. “Não faz sentido ser proibido uma criança ver um filme de terror e poder assistir a uma tourada”, concluiu.
Cidadã inglesa apanhada a tirar fotos a crianças
Uma senhora inglesa que se manifestava contra as touradas, à margem da manifestação que acontecia na Rua Heróis da Grande Guerra, foi identificada por estar a tirar fotografias a crianças junto à Praça de Touros das Caldas da Rainha.
Os factos ocorreram junto à bilheteira do recinto e foram testemunhados por pelo menos duas pessoas. Sara Lopes, que apresentou queixa da mulher por captação ilícita de imagens, apercebeu-se da presença desta pela forma como se expressava em relação às pessoas que aguardavam vez para entrar para o espectáculo. Mas foi só quando a mulher tirou uma fotografia em grande plano da sua filha, que esta se apercebeu do que se estava a passar.
“Confrontada por alguns pais, incluindo eu, ela tentou afastar-se mas sem apagar as fotos”, refere a testemunha. Sara Lopes explicou à mulher (em inglês uma vez que esta não percebia português) que não podia tirar fotos às crianças e pediu-lhe que as apagasse.
O episódio repetiu-se pouco tempo depois com Raquel Cardeal. “Estava à porta da praça, com a minha filha de mão dada, e apareceu uma mulher a tirar fotografias à cara da minha filha”, conta a testemunha. Para além da filha menor, estava acompanhada por mais dois filhos, o marido e alguns amigos.
“Fui atrás dela, perguntei-lhe para que eram as fotografias e ela disse que era para publicar no Facebook dos anti-touradas. Obriguei-a a apagar as fotos e chamei a polícia”, conta Raquel Cardeal.
Foi a própria Raquel quem apagou as fotos do telefone, mas enquanto o fazia viu fotografias de outra criança, que reconheceu ser a filha de Sara Lopes. Chamou-a também ao local.
“A polícia foi impecável, identificou a senhora, que nem tinha documentos no local”, e também analisou o telefone da mulher, confirmando a existência de fotografias captadas de forma ilícita.
“Pensamos logo no pior, ouvimos falar de tanta coisa e pensamos que só acontece aos outros, mas pode acontecer a qualquer pessoa”, refere Raquel Cardeal.
Sara Lopes acrescenta que foi explicado à senhora que podia juntar-se à manifestação que estava a decorrer noutro local, “mas não podia de forma alguma assediar e ofender as pessoas que tinham pago bilhete para o espectáculo, e muito menos tirar fotografias sem qualquer tipo de autorização dos pais, para qualquer tipo de fim”.
Joel Ribeiro
jribeiro@gazetadascaldas.pt