Mercado diário ao ar livre: a Praça da Fruta das Caldas é única em Portugal?

0
9038
- publicidade -

CENTRAIS_8Os caldenses dão o facto de barato, e como é tão normal e banal, nem se interrogam sobre o tema. Provavelmente a Praça da Fruta das Caldas da Rainha é a única que se faz ao ar livre em todo o país, diariamente ao longo dos quase 365 dias do ano civil. Excepções são no dia de Natal e pouco mais.
Como é dito na mais moderna e propagada enciclopédia virtual global – a Wikipedia – “na Praça da República (conhecida popularmente como “Praça da Fruta”) realiza-se todos os dias, da parte da manhã, ao ar livre, o único mercado diário horto-frutícola do país, praticamente inalterável desde o final do século XIX.
De uma pesquisa que realizámos, bem como das visitas que temos feito por todo o país, quase com absoluta segurança, podemos concordar com esta afirmação, uma vez que nas cidades e vilas portuguesas proliferam os mercados fechados (quando ainda existem), na maioria dos casos nem funcionando todos os dias, uma vez que bastantes se encontram encerrados pelo menos ao domingo.
Recordamos há muitos anos, especialmente a partir da década de 60, com as célebres campanhas de promoção turística internacional do SNI do “Abril em Portugal” que implicaram o surgimento de muitos turistas no nosso país, os roteiros turísticos a partir da capital, que saíam de Lisboa, passavam por Óbidos, em direcção a Alcobaça, Nazaré, Batalha e Fátima, com regresso à capital ao final da tarde. Os mesmos tinham uma passagem, com paragem ou não, na Praça da Fruta.
Na passagem pela nossa cidade, a Citirama e Capristanos Turismo, que eram das empresas turísticas de maior peso a nível nacional com origem remota nas Caldas, tentavam sempre uma paragem apesar das dificuldades criadas pelas autoridades policiais com o estacionamento. Queriam obrigá-los a desviarem-se para o Largo do Hospital, obrigando os turistas a subirem a hoje rua da Liberdade, o que atrasava o percurso.
O grande objectivo desses turistas era fotografarem os tradicionais rurais da região que vendiam directamente na praça, com as suas vestimentas típicas, com a carga e descarga dos burros e outros transportes puxados por animais, bem como as frutas e hortaliças vindas directamente da terra, assim como as tradicionais louças caldenses e objectos feitos em vimes.
Com o agravamento das condições de circulação na cidade, a criação de vias alternativas e a desvalorização do mercado caldense pelos operadores, este tráfego turístico que hoje pode totalizar algumas centenas de autocarros mensalmente, foram afastados das Caldas da Rainha.
Contudo, conheço bem a experiência quando estão cá grupos de ceramistas estrangeiros a fazerem ou a darem cursos de cerâmica. Quase diariamente vão à Praça da Fruta, bem cedo, fazer as suas compras de produtos locais para comerem durante o dia ou para levarem para os seus países.
Como o leitor poderá ver nesta edição, um grupo de americanos que esteve no Cencal quase duas semanas em formação de azulejaria, diariamente às sete da manhã estava a fazer as suas compras no mercado e a tomar as suas bebidas matinais na esplanada que agora lá existe. Recordo há uns anos, quando Mirta Morigi, uma conhecida ceramista italiana, esteve também neste centro de formação, todos os dias ela ia ao mercado comprar frutos que depois distribuía pelos alunos.
Pena nossa que não haja consciência suficiente entre as autoridades locais por este fenómeno curioso e que poderia voltar a ter grande impacto no turismo, pois como acontece noutros países e especialmente na Europa Central e Mediterrânica,  os mercado locais com produtos locais, têm grande atractivo e são uma importante fonte de receita e de emprego.
Num recente roteiro sobre o país lançado pelo Expresso, quando se falava das Caldas, no meio de imensa informação sobre aspectos relevantes nas várias regiões do país, dizia-se, com uma fotografia dos Pavilhões do Parque: “Central Park – Percorra o Parque D. Carlos I de uma ponta à outra e observe as mais de 70 espécies de flora, assim como a diversificada avifauna, oriunda dos quatro cantos do mundo. Passe também pelo Museu José Malhoa e pelo lago onde pode usar os barcos a remo”. Que escolha tão pobre da cidade e do concelho das Caldas da Rainha.
Mas para inverter esta situação a autarquia teria de convencer-se que não basta lavar a cara à Praça da Fruta. É necessário criar-lhe uma imagem e promovê-la com os modernos meios de informação existentes, convidando o público nacional e internacional para vir ao mais característico e antigo mercado em funcionamento a céu aberto do país, já com uma tradição a caminho dos dois séculos.
Há dias a SIC fazia uma reportagem com toda a pompa e circunstância do mercado do Livramento (o mercado fechado de Setúbal) que uma revista internacional USA Today colocou entre os mais famosos do mundo.
Como se colocaria o das Caldas se a autarquia cumprisse a sua missão condignamente?  JLAS

- publicidade -