Este Carnaval nas Caldas teve um pouco de tudo: um forte sol na tarde de domingo levou a que milhares de pessoas ali assistissem ao corso. No entanto, na terça-feira a chuva fez-se sentir, ainda que não tenha afastado os mais resistentes foliões
Os buracos na cidade devido às obras de regeneração urbana, a Linha do Oeste a Lagoa de Óbidos e a falta de condições nos cuidados de saúde foram os motivos de sátira mais marcantes do Carnaval de 2020 nas Caldas. A folia dos desfiles começou, como tem sido hábito, no sábado à noite, com um muito participado corso nocturno, que beneficiou de uma noite agradável. Na tarde de domingo o forte sol que se fazia sentir era propício para a festa do Carnaval e milhares de pessoas acorreram à Avenida 1º de Maio para ver passar os carros alegóricos seguidos, nalguns casos, por centenas de marchantes. “Há buracos muito maus na terra dos pirilaus”, lia-se no carro da Associação do Monte Olivett, que trazia uma máquina para tapar os buracos da cidade. Quem também brincava com a situação era o carro do Arneirense, que trazia o casal dos Flinstones a conversar sobre um passeio nas Caldas. “Amor, vamos passear? Nesta cidade esburacada nem pensar!”, conversavam. “Lagoa de Óbidos? Qualquer dia nem ao Nadadouro chega!” e “Estou tão seca que um dia destes fazem de mim um aeroporto” eram algumas das frases que se podiam ler no carro do Nadadouro, que a intitulava de “Lagoa Esquecida”. Os Pinóquios do Carvalhal Benfeito, satirizavam os governantes, com mensagens para António Costa, Mário Centeno e Marta Temido. Já os astronautas, do Peso mandavam o primeiro-ministro para Marte. Entre os temas polémicos do último ano, o Landal fazia referência a Tancos e à relação entre os Estados Unidos da América e o Irão. As preocupações ambientais foram representadas por Santa Helena, com um Zé Povinho, cansado, a puxar um mundo de plástico às costas. “Neste RIO de lixo, não há COSTA limpa”, dizia o carro, brincando com o nome dos líderes dos dois principais partidos. “Não me roubem os sonhos!” e “Salvem este planeta pois é o único que tem chocolate” eram algumas das mensagens dos “manifestantes”.
A preocupação com os cuidados de saúde e com o Coronavírus eram reflectidas no carro da ARECO (Coto), enquanto Os Pimpões faziam notar a importância do tempo.
Depois havia os hippies de Coto, os Minnions do rancho folclórico Os Oleiros, os Astérix, Obélix e Cleopatras do Superflash. Entre os participantes estavam ainda os pavões de Santa Catarina e do Guisado, mas também o Campo, num regresso florido. Os Vilanovenses lembravam a importância das abelhas e Alvorninha trazia Jorge Jesus como génio da lâmpada. Da Ramalhosa vieram os Vikings e do Bairro Azul os Super-Heróis, numa comitiva integrava o carro da Confraria do Príapo que era, claro, um das Caldas de grandes dimensões e altamente robotizado, e que terminava com as Matrafonas.
Resistentes na terça-feira
Na tarde de terça-feira a chuva levou a que apenas os mais resistentes participassem, criando ainda assim uma grande e colorida moldura humana. Apesar da chuva, juntaram-se centenas de pessoas na Avenida 1º de Maio, umas abrigadas nas arcadas, outras debaixo de chapéus de chuva, a assistir ao desfile, com os corajosos marchantes. No final, os foliões juntaram-se em frente à Câmara para uma fotografia em conjunto e para bailar ao som do Dj Gabi. Este ano participaram nos desfiles quatro grupos musicais e um total de 22 carros. A câmara investiu cerca de 90 mil euros em toda a programação. Tinta Ferreira, presidente da Câmara das Caldas, mostrou-se bem-humorado e levou com fair-play as brincadeiras a propósito das obras de reabilitação urbana. “Temos consciência de que estamos a esburacar para depois arranjar, mas é perfeitamente normal e acho imensa graça a estas brincadeiras”, disse o autarca. Tinta Ferreira disse subscrever as reclamações acerca das dragagens na Lagoa de Óbidos e a modernização da Linha do Oeste. “São reclamações muito lógicas”, caracterizou. “Para o próximo ano vamos tentar melhorar os carros, envolvendo alguma assistência técnica e materiais”, mas continuando a ser as associações a fazer as coisas. “Quem participa no Carnaval das Caldas está verdadeiramente a divertir-se”, fez notar.