
Percurso escolar: Escola Superior de Artes e Design de Caldas da Rainha, Faculdade de Belas Artes Universidade de Lisboa, Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria
O que mais gosta do país onde vive?
O que mais gosto neste pequeno país é essencialmente o sistema de saúde, de educação, social e económico.
É um país extremamente bem organizado, as ruas estão sempre limpas e os jardins sempre arranjados com muitas flores, muitos espaços verdes, e não se vêem prédios ao abandono.
As pessoas são na maioria simpáticas e com uma qualidade de vida muito superior à de Portugal.
O Grão Ducado do Luxemburgo encontra-se no centro da Europa e com vários aeroportos aqui perto o que é ótimo para viajar.
O que menos aprecia?
Sem dúvida que o tempo, chuva, frio e o céu geralmente sempre encoberto. Passam dias e não se vê o sol.
A falta de praia para mim também é um aspeto negativo.
A praia mais perto é na Bélgica, que fica a aproximadamente 300 quilómetros.
De que é que tem mais saudades de Portugal?
O que sinto mais saudades é da minha família e amigos, do sol e da praia. Felizmente existe Skype, Viber e Facebook, que faz com que a distância não pareça tão grande.
A sua vida vai continuar por aí ou espera regressar?
Neste momento não sei responder se vou ficar por aqui muitos anos, mas por agora é onde estou e tenho trabalho e consigo ter mais perspectivas do que em Portugal.
Vejo muitos amigos meus a saírem de Portugal, portanto penso que o país ainda não tem as condições necessárias para receber os jovens.
“Costumo dizer que os portugueses que vivem aqui não são os portugueses que vivem em Portugal”
Estou a trabalhar como designer, a criar objetos com uma impressora 3D com objetivo de auxiliar os deficientes visuais a conhecerem melhor o mundo, no Institut pour Deficients Visuels.
Três vezes por semana, durante o horário laboral vou ao Institut National des Langues estudar luxemburguês.
Não há trabalhos perfeitos, mas posso gabar-me que tenho um ótimo emprego e um excelente ambiente de trabalho. Nunca o meu trabalho e os meus estudos tiveram tanto valor como aqui.
Aqui existem três línguas oficiais: francês, alemão e luxemburguês.
Quando cheguei, há pouco mais de um ano, falava simplesmente inglês, mas tenho-me empenhado bastante na aprendizagem das línguas e neste momento misturo as línguas todas quando falo!
Os salários são muito altos, mas a habitação também é extremamente cara.
Recentemente mudei de apartamento o que me facilita muito as viagens para o trabalho. Apesar de ser um país pequeno, tem muito trânsito. Antigamente chegava a demorar mais de 1h30 ao trabalho, sempre no pára-arranca no trânsito. As auto-estradas estão completamente cheias devido às pessoas dos países vizinhos que vêm trabalhar para o Luxemburgo.
Os carros e o gasóleo são muito mais baratos do que em Portugal e não há portagens. Então, geralmente ao fim de semana, costumo viajar pelos países vizinhos.
Sinto falta de um grande shopping com as lojas todas. Normalmente aproveito para comprar roupa quando vou a Portugal ou na Alemanha, ou então compro online.
O preço da comida é como em Portugal, excepto o da carne e peixe que é bastante mais elevado. O restaurante, cabeleireiro, café, lavandaria… também.
O Grão Ducado do Luxemburgo tem meio milhão de habitantes e 20% são portugueses. Então ouve-se falar português em qualquer lado. A zona sul é onde existem mais portugueses e vê-se muito nas janelas as típicas parabólicas a dizer Meo e Zon.
Muitos portugueses conseguem viver aqui durante mais de 20 anos e falar pouco francês. Vão a supermercados e cafés portugueses e trabalham para empresas portuguesas integrando-se pouco na sociedade luxemburguesa. Encontro muitos portugueses com uma pobre cultura e baixa educação, o que muitas vezes não me faz orgulhar ser portuguesa. Costumo dizer que os portugueses que vivem aqui não são os portugueses que vivem em Portugal.
A chuva, o céu encoberto, a neve e gelo não faz do Grão-Ducado do Luxemburgo o paraíso, mas como os meus colegas dizem “podemos comprar o sol viajando”.
Fátima Gonçalves