Uma alteração ao traçado da Linha do Oeste, que permita um desvio e ligação à cintura de transportes de Lisboa, sem passar pela linha de Sintra, terá importantes ganhos de tempo. Esta é a proposta que os deputados por Leiria, do PSD, já fizeram ao ministro das Infraestruturas e que é acompanhada também pelos autarcas oestinos, que vêem nesta solução a verdadeira alternativa à rodovia, e com ganhos ambientais
A aspiração é antiga, mas está a ganhar novo fôlego. A alteração do traçado da Linha do Oeste, com desvio para Loures e a ligação à cintura de transportes de Lisboa foi defendida pelo deputado na Assembleia da República, eleito por Leiria, Telmo Faria, e reúne consenso dos autarcas oestinos.
“Continuamos muito limitados nas nossas soluções de mobilidade na relação entre o centro litoral com a capital do país”, considera o deputado social-democrata, sublinhando que há um “subaproveitamento brutal” deste território. “Em 25 anos, desde que abrimos a A8, praticamente não tivemos nenhuma evolução na Linha do Oeste”, disse, fazendo notar que a linha férrea “devia copiar” aquela autoestrada em termos de traçado. Lembra que há mais de uma década que os autarcas defendem uma linha férrea com ligação à zona do Oriente e às alternativas de mobilidade que aí existem. Caso essa não seja uma opção a considerar, tendo em conta os custos, Telmo Faria propõe que seja estudada uma solução técnica que permita ganhos em termos de tempo e uma melhor ligação à capital. E lança uma hipótese: a criação de um desvio para Loures e a possibilidade de ligação ao metro de superfície, que está previsto começar a funcionar em final de 2025 ligando o Hospital Beatriz Ângelo à rede do metro de Lisboa.
A proposta já chegou ao ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, que “foi recetivo à ideia de estudar a ligação da Linha do Oeste à cintura de transportes de Lisboa”, explica Telmo Faria, acrescentando que terão de ser os especialistas a estudar o local onde deverá ser feito o desvio.
Numa pergunta dirigida ao governante, na audição parlamentar no âmbito do Orçamento, os deputados do distrito lembraram que a linha “não conhece ainda com maturidade, todo o potencial estratégico que encerra, podendo ser uma solução de mobilidade com impacto extraordinário no tecido empresarial do Oeste e Leiria se passar a ser uma solução de futuro no quadro de uma visão de mobilidade integrada e sustentável com Lisboa”. E sustentam que uma linha férrea “preparada para mercadorias e pensada para contribuir para a descarbonização da nossa exportação permitirá mais competitividade e internacionalização às nossas empresas e pensada para passageiros para mais atratividade aos quadros e a população vai fomentar o mercado interno, a resposta da habitação e a coesão territorial”.
Também no Congresso Empresarial, que decorreu nas Caldas a 13 de novembro, Telmo Faria se referiu à mobilidade como a grande política pública estratégica do futuro, destacando a importância das ligações externas e o “anúncio feliz” do TGV com ligação a Madrid, que liga o país à Europa e constituirá uma nova oportunidade também para a região. “Mas temos já menos de 10 anos para nos prepararmos e tirarmos partido desta nossa geografia”, alertou.
O deputado, que já articulou esta matéria com os seus colegas eleitos por Leiria e Área Oeste, realça ainda que é importante pensar quem irá fazer a obra, se o Estado ou empresas privadas através de concessão como se fez na rodovia, e pede a união dos autarcas, chamando à discussão especialistas, elaborando documentos e fazendo trabalho político. E não será preciso muito tempo. “Não é preciso mais do que um ano para se montar uma solução e, no orçamento do ano que vem, já termos alguma capacidade para execução deste modelo”, argumentou.
Dar competitividade à ferrovia
A proposta de um traçado alternativo à circulação por Meleças- Sintra, há muito que é defendida também no seio da OesteCIM. O seu presidente, Pedro Folgado, considera que a linha, para ser competitiva, tem de ter uma ligação a Lisboa diferente da que existe atualmente. “O então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, já tinha preconizado uma ligação entre a Linha do Norte a do Oeste. Entretanto, já falei com o atual ministro [Miguel Pinto Luz], que me disse que estão a fazer esse estudo, mas que ainda não estava suficientemente desenvolvido para implementar essa alternativa”. E acrescenta: “ainda não está fechado qual será o traçado e para quando”.
Caso não haja ganhos em termos de tempo, mesmo com a “modernização e eletrificação da Linha, a rodovia acaba por ganhar à ferrovia”, salienta o também presidente da Câmara de Alenquer.
Também o presidente da Câmara das Caldas, Vítor Marques, considera que a ligação a Lisboa, nomeadamente à Gare do Oriente, seria muito importante porque “reduz o tempo de viagem e cria mais oportunidades de mobilidade aos utilizadores da linha”. A Câmara já tinha argumentado esta solução ao governo anterior, sem sucesso, e agora pretende fazê-lo com o atual ministro das Infraestruturas, a quem tem solicitada uma reunião. O pedido foi feito, em conjunto com a Câmara de Rio Maior, pois os autarcas pretendem também abordar questões da rodovia, nomeadamente o estado em que se encontra a EN114, que une os dois concelhos.
O autarca de Óbidos, Filipe Daniel, também concorda “em absoluto” com a alteração ao traçado, que vem em linha do que têm defendido ao nível da eficiência na mobilidade e resposta que se quer para a ferrovia em detrimento da rodovia. Lembra, contudo, que não é uma ideia nova, partilhando que há cerca de dois anos, na CCDR Centro (em Coimbra), o anterior governo falou nesta proposta relativamente ao polígono do novo aeroporto de Lisboa e que esta consta também do Plano Ferroviário. Salienta a possibilidade de redução de tempo na ligação do Oeste, e nomeadamente de Óbidos, à capital, “onde está grande parte da capacidade de emprego e com contributo para as metas de descarbonização”.
Filipe Daniel realça que, em sede da OesteCIM, têm defendido a redução da tarifa na utilização da linha férrea e a redução em tempo, do investimento que tem vindo a ser feito na modernização e eletrificação da Linha do Oeste.
Para o presidente da Câmara do Bombarral, Ricardo Fernandes, para que a ferrovia seja um modo de transporte público verdadeiramente alternativo ao autocarro, a “solução tem de passar obrigatoriamente por um novo traçado a partir da zona onde a linha do caminho de ferro começa a infletir para a linha de Sintra, ou seja, nas imediações da Venda do Pinheiro. Tem toda a lógica uma ligação à futura estação de metro de Loures. De outra forma, o ganho do caminho de ferro, mesmo após a eletrificação da Linha do Oeste, será residual”. O autarca considera que esta alteração ao traçado teria um “grande impacto” na forma como as pessoas se fazem deslocar para Lisboa, com as consequentes vantagens do ponto de vista ambiental e até mesmo de poupança de tempo.
O próprio Plano Regional de Ordenamento do Território do Oeste e Vale do Tejo, datado de 2009, já defendia o estudo da viabilidade de ligação da Linha do Oeste diretamente a Lisboa, a partir da zona da Malveira, independente da linha de Sintra. ■
O que dizem os autarcas
Pedro Folgado
OesteCIM
Caso não haja ganhos em termos de tempo, mesmo com a “modernização e eletrificação da Linha, a rodovia acaba por ganhar à ferrovia”. ■
Vítor Marques
Câmara das Caldas
Alteração do traçado com ligação à Gare do Oriente “reduz o tempo de viagem e cria mais oportunidades de mobilidade aos utilizadores da Linha”. ■
Filipe Daniel
Câmara de Óbidos
Redução de tempo na ligação à capital, “onde está grande parte da capacidade de emprego e com contributo para as metas de descarbonização”. ■
Ricardo Fernandes
Câmara do Bombarral
A alteração ao traçado teria um “grande impacto” na forma que as pessoas escolhem para se deslocar para Lisboa. ■