O Quiosque do Bernardino fechou quase 50 anos depois

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Américo Bernardino, em 2018, no seu quiosque, a assinalar os mais de 40 anos do espaço

O quiosque no topo da Praça da Fruta, que era o mais antigo das Caldas em funcionamento e uma marca da cidade, encerrou no final de julho

Na imagem comum que tem quem conhece a zona da Praça da Fruta das Caldas está um quiosque verde no topo, em frente à ermida de São Sebastião. E nesse quisque está Américo Bernardino, sempre pronto para uma conversa ou uma brincadeira.
Em 2018 a Gazeta das Caldas fez uma reportagem sobre os mais de 40 anos daquele espaço onde salientava, precisamente, esse facto: é que apesar das mudanças, “o quiosque é outro e já não há burros, cavalos e vacas a trazer as carroças para o mercado, mas o Quiosque do Bernardino continua a ser um ponto de encontro”, notava-se. Mas desde o final de julho que o estabelecimento verde está encerrado. O proprietário, com 74 anos, decidiu reformar-se. O futuro do quiosque, propriamente dito, esse é, para já, incerto. Já o de Américo Bernardino é gozar a vida e viajar, como sempre gostou de fazer.
A vida no quiosque era extremamente exigente. A rotina começava às 5h30 e a chegada uma hora depois para receber os jornais, cortar os maços, contar os exemplares e colocá-los no interior. O trabalho prendia-o até depois das 19h00 no quiosque, com uma breve saída para almoçar, a correr.
O facto de estar sujeito à metereologia, o estofo físico necessário e a capacidade para lidar com as pessoas eram exigências deste negócio. E Américo Bernardino sabia fazer esse papel de estar sempre ali para conversar, como dizia, “sobre tudo, das coisas boas e das más”. A bola era também tema recorrente deste sportinguista ferrenho, que tantas vezes tinha uma piada ou uma brincadeira à espera dos clientes, que em torno dele se juntavam diariamente para conviver.
Sobre as brincadeiras e partidas que pregava, certo dia, Américo Bernardino decidiu colar uma moeda no passeio em frente ao quiosque, vendo depois as pessoas que por ali passavam tentarem, sem sucesso, apanhar a moeda, numa situação que gerava muitos sorrisos e gargalhadas. Outra vez fez uma cópia de uma nota para deixar no chão para pregar uma partida aos amigos.
Pela época do Carnaval, gostava de colocar uma imitação de um pé, preso na porta do porta-bagagens, de maneira a parecer que dentro da bagageira estaria uma pessoa morta.
Depois, quando estacionava o carro em frente ao quiosque para carregar ou descarregar, muita gente assustava-se ou ficava a olhar, antes das gargalhadas com que terminavam as brincadeiras.

Um século de quiosque
O quiosque atual tem cerca de 30 anos, mas antes já Américo Bernardino vendia numa outra estrutura, junta das escadas da capela, e feita com chapas de metal. O início do Bernardino a vender naquele local deu-se aos 28 anos, em meados da década de 70 do século passado, com livros e revistas numa pequena barraca de madeira uns metros mais abaixo. Por essa época havia também em frente à ermida, um quiosque de madeira de um engraxador, que Américo Bernardino viria a comprar e, posteriormente, a substituir pelo tal de chapa, que viria, há cerca de 30 anos, a ser desmantelado para dar lugar ao atual.
Contas feitas, há mais de 100 anos que existe um quiosque nesta localização.
Com a Gazeta das Caldas, Américo e Helena Bernardino mantiveram sempre uma relação de grande proximidade. Além de venderem, semanalmente, os jornais, o quiosque promoveu com o jornal, durante mais de 20 anos, o troféu de melhor marcador dos vários escalões do Caldas Sport Clube. ■