
Conceição Zagalo, de 67 anos, e João Alves, de 70 anos, mostraram que há vida depois da reforma. Na palestra “Envelhecimento Activo”, que decorreu a 13 de Fevereiro nas Caldas da Rainha, partilharam as suas experiências ao nível do voluntariado e deixaram conselhos para quem está a deixar o mercado de trabalho e se pretende manter activo nos anos que se seguem
“Tenho só 67 anos e creio que tenho uma vida inteira à minha frente”, começou por dizer Conceição Zagalo, realçando que há vida para além da reforma.
Começou a trabalhar com 20 anos na IBM (multinacional ligada à informática) e permaneceu na mesma até que se reformou, em 2011. “Uma vida muito cheia”, conta a oradora, que, durante 38 anos, desenvolveu a sua carreira na multinacional, tanto em Portugal como no estrangeiro, e aprendeu o verdadeiro espírito de cidadania. Entre as muitas formações que lhe foram disponibilizadas, Conceição Zagalo teve oportunidade de fazer cidadania empresarial, participando no Grace – Grupo de Reflexão de Apoio à Cidadania Empresarial.
Quis sair da IBM ao fim de 38 anos com a possibilidade de aplicar tudo o que aprendeu nas comunidades. “Não foi fácil, era a única mulher na administração e acabava por funcionar como exemplo para o universo das mais mulheres na casa”, recordou a oradora, que passou a dedicar o seu tempo ao Grace. Para além disso, dá aulas de comunicação em cursos de pós-graduação e mestrados e é vereadora na Câmara de Lisboa. “Vou tendo, no dia a dia, sinais de que não estou velha. Aos 67 anos estou cheia de força para continuar a contribuir, seja enquanto avó seja enquanto mulher, profissional, professora e voluntária”, garante Conceição Zagalo.
No campo do voluntariado, a oradora partilhou a experiência que teve no Vietname, em 2010 e ainda através da empresa, onde geriu um projecto de comunicação e marketing numa empresa de produção de peixe em aquacultura, assim como as missões mais recentes, em Cabo Verde e Moçambique.
Perfeccionista, Conceição Zagalo considera que o voluntariado tem que ser feito com muito profissionalismo, pois “os outros não têm culpa nenhuma de querermos ser voluntários”.
Reforma sem tédio e sem stress
João Alves, também reformado depois de ter trabalhado durante 38 anos em multinacionais na área do marketing e comunicação, deixou conselhos para uma reforma activa sem tédio e sem stress. Perante uma plateia repleta, o orador explicou que actualmente um número significativo de pessoas deixa o emprego antes de atingir o limite de idade, nomeadamente nas multinacionais e que muitas destas empresas preocupam-se com o que estas poderão vir a fazer e organizam cursos de preparação para a reforma. “A reforma é um choque para muitos, porque habituaram-se a uma vida de trabalho, a uma rotina e a um certo prestígio que está associado ao emprego”, disse, dando várias sugestões para se ocupar o tempo livre. João Alves dividiu essa “nova vida” em três pilares: pessoal, familiar e social. “É tempo de pôr em dia os exames médicos, as consultas que foram deixando andar, de ter uma actividade desportiva, arranjar passatempos, ler, estar com os amigos, ou mesmo estudar”, aconselhou o também reformado. Ao nível da vida social, João Alves destacou o voluntariado de competências, que consiste na aplicação dos conhecimentos profissionais e experiência de uma vida de trabalho ao serviço da comunidade. “Podem apoiar uma entidade do terceiro sector e fazer tarefas que estas organizações não estão habituadas”, como aspectos administrativos e organizacionais, apoio legal, reparações, ou mesmo angariação de fundos para a instituição, disse, destacando que o voluntário não está a tirar um posto de trabalho, mas a dar apoio à organização. À semelhança de Conceição Zagalo, também este orador realçou a importância que deve ser dada ao voluntariado. “É um compromisso firme, não é um passatempo. É um acordo de vontades, em que devemos definir o modo de colaboração e o tempo disponível e respeitar as vontades da entidade”, sustentou. Em jeito de conclusão, João Alves defendeu que o sénior deve tentar harmonizar a vida pessoal, familiar e social e, além disso reservar tempo livre, manter um espaço para aprender, dar apoio e conselhos e, por outro lado, receber reconhecimento.
Bolsa de Mentores para aproveitar experiência dos seniores
O Núcleo Rotary Desenvolvimento Comunitário Caldas da Rainha pretende criar uma bolsa de mentores para aproveitar a experiência acumulada das pessoas seniores. Propõem-se a promover o aconselhamento de empreendedores e novos empresários na etapa inicial da sua vida profissional, bem como de direcções de IPSS no campo da gestão e animação.
“Esta bolsa de mentores irá trabalhar em parceria com instituições que já estão no terreno”, explicou João Sá Nogueira, presidente do núcleo, dando como exemplos o Banco de Voluntariado, o Centro de Recursos Comunitários da Misericórdia caldense, entidades empresariais, Universidade Sénior e rotários. Querem agregar voluntários, com tempo e experiência, que possam pôr os seus “talentos a render em prol da comunidade”. E, acrescentou, devem ser vistos como amigos dispostos a dar o seu conselho, não como concorrentes.
Para a bolsa funcionar são precisos voluntários, pelo que João Sá Nogueira deixou um apelo a todos quantos tenham tempo e pretendam iniciar uma actividade, não lucrativa, para se inscreverem. O núcleo espera que as instituições possam também dar retorno das suas necessidades e juntar as parcerias entre voluntário e instituição ou empreendedor.
“Pormos ao dispor dos outros experiência, o conhecimento e o saber é uma maneira de ganharmos uma nova vida”, concluiu. O Núcleo Rotary Desenvolvimento Comunitário Caldas da Rainha, foi criado em Abril do ano passado, com o objectivo de melhorar a qualidade de vida da comunidade, através de parcerias e apoio a instituições do terceiro sector. Promove também soluções sustentáveis para as necessidades da comunidade onde se insere.