Bombeiros já transportaram mais de 300 pacientes com suspeitas de covid-19. A prevenção é palavra-chave e ainda não houve positivos na corporação
A função dos soldados da paz já assume particular coragem e nobreza em tempos ditos “normais”, mas assume patamares bastante mais elevados nos tempos que correm, com a ameaça do novo coronavírus a espreitar a cada ocorrência.
Até ao final de outubro, os Bombeiros das Caldas da Rainha transportaram 295 doentes com suspeitas de infeção por covid-19. “Estes homens e mulheres demonstram um grande profissionalismo, não é fácil trabalhar numa ambulância com aqueles equipamentos, e depois ainda existe a parte psicológica e social, porque muitos deles nem são profissionais e colocam em risco as suas vidas e as suas famílias”, realça o comandante Nelson Cruz.
Até à data, e apesar de algumas “ameaças”, nenhum bombeiro caldense testou positivo para infeção pelo novo coronavírus.
Nelson Cruz atribui isso, em primeiro lugar, à atuação e cuidado dos próprios bombeiros. Mas a própria corporação precaveu-se ao máximo.
Nas alturas mais críticas, o acesso ao quartel ficou vedado à população e foram montadas equipas em espelho. O efetivo no quartel foi reduzido a 32, o que obrigou à dispensa de 60 bombeiros, que eram chamados apenas em caso de necessidade.
Foi realizado um forte investimento ao nível dos equipamentos, com o apoio da Câmara das Caldas e da Autoridade Nacional de Proteção Civil. Além dos equipamentos de proteção pessoal, foram montadas cabines de desinfeção para bombeiros e para viaturas. A entrada no quartel obriga a desinfeção de calçado e controlo de temperaturas. Os bombeiros de serviço são ainda encorajados a passar mais tempo em áreas de ar livre.
Em relação ao transporte de doentes não urgentes, a estratégia foi a inversa. A corporação tem diariamente 30 bombeiros afetos a este serviço, que garante transporte a utentes que têm que se deslocar a consultas e tratamentos. “Transportámos mais de 20 mil doentes. Houve algumas consultas e tratamentos adiados ou cancelados, mas nunca podíamos parar”, sustenta Nelson Cruz. A solução foi um sistema em que os bombeiros ficaram responsáveis pelas viaturas, que levavam para casa, de modo a que não houvesse contato deste serviço com o quartel, devido ao número de pessoas envolvidas. “Foi duro para eles”, afirma o comandante.
Parte do sucesso na forma como a corporação tem resistido à pandemia são os cuidados empregues em cada serviço. “Estamos a pecar por excesso. Qualquer serviço em lares, seja qual for o problema, vamos equipados integralmente”, conta o comandante.
“E sempre que temos um alerta para uma situação em que é preciso arriscar mais um pouco, temos tido a sorte de alguém nos informar que atendemos a um caso positivo de covid-19”, acrescenta.
Nelson Cruz lamenta que não haja maior transparência na comunicação nestes casos.