A relação de preço e de proximidade com Fátima levou muitos peregrinos a escolher as Caldas para pernoitar no fim-de-semana de comemoração dos 100 anos das aparições. Na região estiveram visitantes de vários países e de vários continentes. Das Caldas viajou um grupo 30 jovens que esteve a escassos metros do Sumo Pontífice. Mas também houve quem fosse do Oeste ao concelho de Ourém, não para ver o Papa, mas para garantir a segurança dos muitos milhares de crentes, como foi o caso de cerca de 60 bombeiros de várias corporações.
As unidades hoteleiras encheram-se com grupos de várias nacionalidades. No Hotel Cristal estavam pessoas de vários países da América Latina, sendo que um dos grupos que esteve mais tempo veio do Peru. Havia ainda peregrinos da Polónia.
Victoria Lazarte foi uma das responsáveis pela presença do grupo peruano, que pertence à comunidade “Apóstolos de Maria, Rainha da Paz”, com sede em Lima. Diz que já tinha estado em Roma com o Papa, mas a experiência que viveu em Fátima foi diferente, até porque em Roma o Santo Padre está em casa e em Fátima esteve também na condição de peregrino. Por outro lado, a celebração da canonização dos Pastorinhos e dos 100 anos das aparições colocaram as expectativas em alta.
“Vou embora feliz. Fui guarda juvenil do Papa quando foi ao meu país, há 35 anos sei o que é preparar toda esta celebração. Agora pude vê-lo como visitante e gostei muito”, comentou.
A peregrina fala do sentido de união entre os povos e a sensação de segurança que sempre emanou. “Estivemos envolvidos pela paz, pela oração, pelo estarmos juntos”.
O grupo escolheu as Caldas para pernoitar com a ajuda de agências de viagens da especialidade. A decisão foi tomada em Dezembro do ano passado. Com os destinos mais próximos esgotados, Lisboa e Peniche eram a outra opção, mas a distância das Caldas a Fátima era a mais ajustada. “Em Lima faz-se uma hora de viagem para ir à praia, quem faz uma hora de viagem para diversão também o faz para orar”, observou.
Os horários apertados não permitiram conhecer muito das Caldas e só no último dia deram uma volta pelo centro no autocarro. Victoria Lazarte achou a cidade interessante, assim como a iniciativa das bicicletas floridas e diz que enviou muitas fotos para os familiares.
“ESTE LOCAL FAZ CRESCER A FÉ EM NOSSA SENHORA”
No Europeia Hotel estava um grupo da Costa do Marfim. Zamble Laurent que disse ter vivido uma experiência muito boa. “Viemos a um local que materializa a espiritualidade que temos. Ouvimos falar das aparições e dos Pastorinhos, mas perguntamos se realmente aconteceram e estar aqui faz crescer a fé em Nossa Senhora”, contou.
A presença do Papa Francisco foi o factor que mais contribuiu para fazerem a viagem. É o segundo Papa que Zamble Laurent vê, depois de ter estado junto a João Paulo II. “Foi uma experiência que correu muito bem e quis vir novamente para voltar a sentir aquelas sensações”.
O grupo veio com a planificação feita por uma agência de viagens, que tratou da organização dos transferes. A noite de 12 para 13 de Maio foi passada, porém, em Fátima, no autocarro. Zamble Laurent diz que o cansaço é completamente ultrapassado “quando vivemos esta experiência única. É uma graça que sentimos, uma experiência fabulosa”.
O grupo costa-marfinense teve algum tempo para conhecer as Caldas da Rainha, até porque jantou em vários restaurantes locais, e gostaram tanto da calma da cidade como da simpatia das pessoas. “Sentimos respeito, que sorriam para nós na rua, os portugueses são boas pessoas, sempre prestáveis”, considera.
TRINTA JOVENS CALDENSES
Mas nem só os estrangeiros viajaram das Caldas até Fátima em peregrinação. Certamente muitos caldenses o fizeram, entre eles um grupo de 30 jovens de 13 e 14 anos da catequese caldense, e alguns pais, tiveram a oportunidade de estar a escassos metros do Papa Francisco, a quem brindaram com uma tarja na qual desenharam a personagem de banda desenhada Mafalda, cujo criador Quino é argentino, tal como o Papa. “Quisemos brindá-lo com um miminho, humor e alegria, estivemos o mais perto possível, mas mesmo sem lhe poder tocar estes jovens perceberam que só de estarmos todos junto já lhes deu muita alegria”, conta Margarida Varela, catequista que acompanhou os jovens.
Margarida Varela acrescenta que foi uma vivência eclesial intensa. No início havia alguma apreensão dado tratar-se de uma aglomeração de pessoas muito grande, “mas essa apreensão foi ultrapassada porque nos sentimos sempre seguros e acarinhados em casa da nossa Mãe”, explicou.
Os jovens cantaram, oraram, mas Margarida Varela destaca os momentos de silêncio naquele recinto repleto. “O silêncio é maravilhoso, transmite uma paz e uma alegria muito grandes”, observa.
Bombeiros de Óbidos auxiliaram no socorro
Se a esmagadora maioria das pessoas que estiveram em Fátima nos dias 12 e 13 de Maio procuravam viver uma experiência espiritual, havia também uma parte responsável por manter a segurança e também por ajudar os peregrinos. Foi o caso dos cerca de 60 bombeiros das corporações de Óbidos, Peniche, Bombarral, São Martinho do Porto, Benedita e Alcobaça.
Da corporação de Óbidos fizeram parte do contingente quatro bombeiros (Bruno Grazina, Emídio Eusébio, Carlos Antunes e Francisco Gonçalves) para dois turnos de 24 horas com uma ambulância e também o comandante Carlos Silva com a viatura de comando da corporação. A estes juntou-se ainda um bombeiro caldense que esteve no santuário pela Força Especial de Bombeiros, Telmo Pacheco.
“Faço o 13 de Maio há sete ou oito anos e é sempre gratificante lidar com as pessoas porque vêm fazer o seu culto, cansadas, e muitas vezes mais do que assistência o que precisam é de uma palavra amiga”, descreve Telmo Pacheco. Depois é preciso ter também alguma sensibilidade e encontrar um ponto de equilíbrio entre o que as pessoas assistidas precisam e aquilo que querem. “Muitas vezes só querem ser tratados se for no local, não querem ser transportadas para o hospital de campanha para não perderem o lugar”, acrescenta Emídio Eusébio.
Bruno Grazina recorda um episódio em que uma senhora precisou de assistência devido a uma hérnia inguinal, mas queria ver a procissão das velas. “Fartou-se de chorar porque não queria sair dali”.
Para os próprios bombeiros acaba por ser um trabalho muito concentrado e stressante. Apesar dos turnos terem as mesmas 24 horas dos que fazem nas suas corporações, o volume de ocorrências é muito maior. “Durante as celebrações ninguém arreda pé e as pessoas vão ao extremo”, diz Carlos Antunes.
Os soldados da paz elogiam a forma como a operação foi coordenada pela Protecção Civil e a coordenação, quer com as forças da GNR, quer com os escuteiros, que se revelaram muito importantes no encaminhamento das pessoas para os postos de assistência.
Entre estes bombeiros, alguns puderam ver o Papa a poucos metros, outros só o viram quando passou por cima do santuário de helicóptero.
Diferente foi o papel do comandante Carlos Silva, mais longe das operações no terreno. O comandante dos bombeiros de Óbidos conta que esta era uma operação muito complexa “tendo em conta o que se tem passado à escala global com atentados e violência”. O perigo maior era qualquer falso alarme que causasse uma debandada porque apenas com duas saídas apertadas o risco de esmagamento seria muito grande. A segurança revelou-se eficaz, assim como algumas medidas, como a decisão de não utilizar as sirenes, ajudaram a minimizar situações de alarme.
O comandante dos bombeiros de Óbidos disse que não teve oportunidade de ver o Papa. De resto, só entrou no santuário no dia 14 e encontrou-o praticamente vazio.
As cerimónias do centenário das aparições bateram o recorde do evento com maior número de efectivos destacados. Num total de 1228 bombeiros, superou o do tristemente célebre incêndio no Algarve no ano de 2012. Ao longo da operação foram registadas 1670 assistências e não se verificou nenhuma morte.