Plataformas de partilha podem mudar mercado automóvel

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Gazeta das Caldas
Alugar um carro por períodos desde meia hora já é possível em Lisboa e no Porto | D.R.

Já imaginou precisar de um carro, pegar num que está à porta de casa, ou do trabalho (depois de o pedir através de uma aplicação no telemóvel), utilizá-lo e deixá-lo no destino para outra pessoa seguir viagem? No fundo, seria como ter carro, mas apenas durante o tempo em que precisa realmente dele e pagar apenas por isso. Já há quem defenda que a partilha substituirá, no futuro, a aquisição de automóvel. E como o futuro está ao virar da esquina, já existem em Portugal várias plataformas a oferecer esse serviço.

São vários os argumentos que os teóricos utilizam para defender que as gerações futuras não querem estar agarrados a um automóvel.
O primeiro, e talvez o mais significativo, é o encargo que significa ser proprietário de um automóvel. Ao investimento que a aquisição em si acarreta, acrescem seguros, a manutenção, impostos, combustível. Um estudo recente refere que um automóvel, durante o seu tempo de vida útil, pode custar cerca de 6.000 euros por ano ao seu proprietário, incluindo todas as despesas associadas e a depreciação.
A crescente adopção de tecnologias de topo no sector automóvel, não só ao nível das motorizações limpas, como nos sistemas de segurança e de automação, vai também contribuir para um aumento de custo, tornando mais difícil o acesso à compra de carro. As próximas gerações, que têm como o seu espaço não uma cidade, mas o globo, estarão pouco interessadas em ter este encargo sem poder desfrutar dele a tempo inteiro. Desfrutar é outra palavra-chave. Conduzir vai ser coisa do passado, andar de automóvel não será diferente de fazer uma viagem de autocarro, comboio, ou avião, com a introdução do piloto automático.
Há ainda a questão do estacionamento, ou da falta dele, principalmente dentro dos grandes centros urbanos.
Tudo aponta, por isso, para que o automóvel possa ser visto dentro de alguns anos como parte integrante de uma rede de transportes, muito mais do que como um transporte próprio. E, desta forma, as plataformas de partilha de automóveis assumirão um papel importante.
Estas plataformas já existem e não são diferentes das de partilha de bicicletas, por exemplo. Os princípios são os mesmos: o utilizador tem acesso ao automóvel através de uma plataforma online, à qual pode aceder no computador ou em aplicações para smartphone. Poderá escolher a viatura que esteja mais próxima do local onde se encontra, seja num comum lugar de estacionamento ou parques próprios, utilizar e deixar a viatura da mesma forma. O que se paga é a utilização que se dá ao carro e apenas isso, seja por um período de tempo, ou por quilómetro.
O serviço é idêntico ao de um rent-a-car, mas enquanto nestes o mínimo é um aluguer de um dia, na partilha pode-se alugar por períodos tão curtos como meia hora.
Em Portugal já existem pelo menos sete destas plataformas, ainda a dar os primeiros passos e a funcionar sobretudo em Lisboa e no Porto, mas com planos de expansão para o resto do país. São elas a DriveNow, a CarAmigo, a Shareacar, a BookingDrive, a Parpe, a CityDrive e a 24/7 City.
Actualmente os preços rondam entre os 25 e os 29 cêntimos por minuto e incluem seguro e combustível. Nalgumas plataformas até o estacionamento está incluído. Um aluguer de meia hora pode custar menos que 9 euros, o que pode tornar a experiência mais barata que uma viagem de táxi.

DIFERENTES MODELOS DE NEGÓCIO

Entre estas sete empresas há diferentes modelos de negócios. Se algumas detêm as próprias frotas, que se limitam a colocar ao dispor dos seus clientes, noutras a partilha funciona em duas vias.
Nas plataformas Shareacar, Parpe, BookingDrive e CarAmigo, não só é possível ser cliente, como fornecedor. Ou seja, quem tem um carro que não utiliza de forma intensa, pode disponibilizá-lo para aluguer nos períodos em que este está parado.
No fundo, trata-se de uma adaptação do mercado de aluguer de imóveis para o de automóveis. Desta forma, os proprietários de automóveis podem obter deles algum rendimento. O fornecedor da viatura só tem que a manter disponível e funcional e todo o processo de aluguer é tratado pelas empresas.