Associação Nacional dos Produtores de Pera Rocha preocupada com alterações climáticas e aumento das restrições legais do uso de produtos defensivos
A campanha deste ano da pera rocha do Oeste, apesar de se prever uma produção ligeiramente superior a 2023, volta a ficar abaixo do limiar de um ano normal, que ronda as 200 mil toneladas. A análise é da ANP – Associação Nacional dos Produtores de Pera Rocha, entidade sediada na Sobrena, no concelho do Cadaval, que reúne 33 associados que concentram cerca de 80% da produção deste fruto oestino certificado. A exemplo do ano passado, os produtores até tinham um otimismo moderado em virtude dos indicadores que eram percetíveis nos pomares apontarem para uma ligeira subida da produção, mas os dados mais recentes apontam para as 115 mil toneladas, ainda assim mais 15 que no ano anterior. Segundo Filipe Ribeiro, presidente da ANP, “infelizmente tudo indica que vamos continuar com este registo, devido aos problemas fitossanitários que resultam das alterações do clima que são uma evidência e vieram para ficar”. Os invernos amenos dos últimos anos, com ausência de frio, têm provocado fortes consequências na diminuição da capacidade produtiva dos pomares. “Com uma produção inferior, aumentam os custos de produção por cada quilo de pera”. Neste ciclo, os produtores não se podem queixar da falta de água, pois choveu muito e há charcas praticamente cheias. Mas o aumento de humidade provocou mais rugosidade na pera, sem contudo colocar em causa a qualidade do fruto, sendo também melhor o calibre.
Para complicar a gestão dos produtores junta-se a limitação imposta pelo Estado Português no uso dos defensivos agrícolas nos pomares, os produtos fitofármacos autorizados que nos últimos anos têm vindo a reduzir. “Têm saído uma quantidade grande de substâncias do mercado que poderíamos utilizar e as que têm vindo são de uma eficácia mais reduzida”, destacou o responsável à Gazeta. É uma consequência das diretrizes da União Europeia para os estados-membros que, no seu entender, é uma consequência do “fundamentalismo que provoca um desequilíbrio e insustentabilidade da parte da produção”. É uma realidade que abre um precedente contraditório, que era inexistente para este setor agrícola, no entender de Filipe Ribeiro. “A Europa está a deixar de ser um exportador por natureza para o mundo inteiro, passando a ser importador de origens em que muitas vezes a produção não se rege pelas mesmas exigências europeias”. Um desequilíbrio que está a trazer, neste caso particular, mais dificuldades aos operadores agrícolas oestinos, que merece a reprovação da ANP. “Tem-se procurado diabolizar as soluções que temos para o equilíbrio entre pragas e doenças”, lamenta, afiançando que “temos hoje ferramentas que permitem termos um produto com um mínimo de risco para o consumidor”. Com receitas anuais a rondarem os 85 milhões de euros, mais de metade da produção de pera rocha é exportada, sobretudo, para a Europa (50%) e, entre as duas dezenas de países, surgem o Brasil e Marrocos no topo das preferências.
Outra dor de cabeça para os produtores de pera rocha continua a ser o ‘fogo bacteriano’, uma doença incurável causada por uma bactéria, que tem levado ao corte e arranque de pereiras. Entre 2023 e 2024, um estudo concluiu que a doença causou um agravamento da produção de 2 para 5 cêntimos por quilo deste fruto autóctone. A investigação científica em curso tarda em descobrir o antídoto desejado pelos fruticultores.
Quanto à mão-de-obra, os produtores não estão com problemas este ano e a ANP até vê com bons olhos a isenção fiscal para que jovens universitários possam trabalhar nas colheitas. A colheita começou na semana passada e prolonga-se por mais 15 dias. São preocupações que a ANP terá apresentado esta terça-feira ao ministro da Agricultura, convidado para inaugurar o 39º Festival do Vinho Português e 29ª Feira Nacional da Pera Rocha, que a associação organiza em parceria com o Município do Bombarral até domingo na Mata Municipal. Nesta segunda visita de José Manuel Fernandes ao Oeste desde que tomou posse, “tendo em conta a sua experiência pode-nos ajudar a levar a mensagem de preocupação dos produtores aos organismos da União Europeia”. “Será bom [para os políticos] virem ao terreno durante as colheitas, para perceber o que é dramático para os produtores”, desafiou Filipe Ribeiro, que tem esperança na resposta ao setor pelo governante.
Os desafios para o futuro da produção de pera rocha do Oeste são enormes e a área de pomares tem vindo anualmente a decrescer. Há agricultores que estão a arrancar pomares e a virarem-se para outras produções, com destaque para a maçã e, nalguns casos, a produção florestal, surgindo na frente o eucalipto.
A ANP é gestora da Denominação de Origem Controlada ‘Pera Rocha do Oeste’ (DOP) e a produção certificada está circunscrita territorialmente a 29 concelhos, entre Sintra (sul) e Pombal (norte), tendo como limite a Este o município de Torres Novas. ■