Temperaturas mínimas subiram 3 graus no Oeste desde 1971

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Gazeta das Caldas
António Lopes, professor da Universidade de Lisboa, explicou as principais mudanças do clima no Oeste nos últimos 50 anos

As temperaturas mínimas subiram 3 graus no Oeste, com especial incidência nos meses de Primavera nas últimas cinco décadas e os dias e noites com calor excessivo por ano estão a aumentar a um ritmo de dois dias por década. Estas são as principais conclusões apresentadas no primeiro workshop do Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (PIAAC) do Oeste, que decorreu no auditório da OesteCIM no passado dia 19 de Setembro.

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Praia do Rio Cortiço. A subida do nível do mar e a erosão costeira é uma das preocupações do Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (foto de arquivo)

O Oeste PIAAC, apresentado a 11 de Julho deste ano, já está em marcha e no passado dia 19 de Setembro foram apresentadas os primeiros resultados no primeiro workshop que juntou a equipa de técnicos a representantes das câmaras municipais e de agentes económicos da região.
A análise dos dados do histórico climático do Oeste disponível no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), desde 1971 a 2017, resultou já em algumas conclusões que mostram claramente uma tendência para o agravamento das condições climatéricas, o que se traduz tanto no aumento gradual da temperatura média, como na ocorrência de fenómenos extremos.
Ao nível das temperaturas, nas últimas cinco décadas as máximas aumentaram 0,4 graus por cada 10 anos. Quer isto dizer que a média anual das temperaturas máximas é hoje mais elevada em 2 graus Celsius do que era há 50 anos. Já as mínimas escalaram 3 graus, à razão de 0,6 graus por década.
Se no Inverno as temperaturas mínimas não tiveram ainda grande variação, com uma subida média de 0,1 graus por década, a subida de 0,7 graus por década nas mínimas da Primavera (3,5 graus desde 1971) já causa alguma preocupação, principalmente por esta estação ser determinante para a produção agrícola.
Nos meses de Verão, as temperaturas subiram mais nas mínimas do que nas máximas. No entanto, o número de dias e noites com calor excessivo aumentaram a um ritmo de mais dois dias por década. “Trata-se de um ritmo significativo”, alertou António Lopes, professor do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa, durante o workshop.
Estes dados, cuja análise ainda não está concluída, vão permitir a criação de uma cartografia de riscos actuais que advêm das alterações climáticas. Os riscos que vão ser analisados são os incêndios rurais, a erosão do solo, a instabilidade de vertentes, as cheias e inundações e ainda os inundações por galgamentos litorais, a erosão e recuo das arribas.
José Luís Zêzere, também professor do IGOT e outro dos oradores, explicou que a subida do nível do mar é uma realidade, quer as pessoas acreditem ou não nas alterações climáticas, e que isso é algo que “vamos pagar nas próximas décadas”. O especialista comparou este fenómeno a um petroleiro, que por muita força que se faça no leme demora muito tempo a mudar de trajectória. “Mesmo que conseguíssemos eliminar a emissão de gases de carbono, o nível do mar continuaria a subir nos próximos 100 anos, por isso é preciso preparar as pessoas e os territórios para isso, sem dramas”, acrescentou.
Outros riscos que serão analisados serão a ocorrência de ondas de calor, de seca e de tempestades de vento, fenómenos que “vão evoluir nos próximos anos e, na maior parte dos casos para pior”.

IDENTIFICAR VULNERABILIDADES

O PIAAC vai também analisar a evolução da ocorrência de fenómenos climatéricos extremos na região, de modo a preparar as autoridades para a prevenção e a resposta a esses fenómenos.
Este primeiro workshop serviu para os responsáveis pela execução do plano explicarem às entidades presentes como se vai processar o levantamento da informação e o seu processamento.
Nos três primeiros dias de Outubro a equipa do PIAAC vai reunir individualmente com cada autarquia para explicar o método de recolha de informação sobre os eventos climáticos ocorridos no seu território nos últimos 20 anos.
Heitor Gomes, do Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano, contou que há pouca informação sobre estes eventos. No entanto, datar e referenciar a localização destes fenómenos – como quedas agressivas de granizo, cheias, seca extrema, trovoadas, incêndios, trombas de água, tornados, entre outros – será importante para construir um sistema que permita identificar áreas de vulnerabilidades climáticas. Este sistema permitirá, no futuro, responder de forma mais eficaz a estes eventos, uma vez que dentro de uma década é bem possível que se façam sentir com efeitos mais graves.
A recolha de informação será feita até final de Outubro e tratada até ao final do ano.
Até 28 Fevereiro de 2019 a equipa que está a elaborar o PIAAC apresentará o relatório que resultará da recolha de informação, e quatro meses depois será apresentado um conjunto de medidas de adaptação a adoptar pelos municípios para responder às alterações climáticas. Durante esses prazos serão ainda realizados mais dois workshops.
Paulo Simões, primeiro secretário da OesteCIM, fechou a sessão dizendo que os resultados que sairão desde plano serão importantes para a definição de políticas públicas para o Oeste.