Antigas tradições, trabalhos e ofícios do século passado foram recriados pelas ruas das Caldas no sábado de manhã
O Largo Frederico Pinto Bastos, no Bairro da Ponte, foi o ponto de partida para mais uma edição das Tradições da Vila, o evento que convida os transeuntes da cidade a “viajar” no tempo e reviver a história e cultura desta região. Este ano a recriação etnográfica esteve a cargo dos grupos folclóricos da Fanadia, do Guisado, da Sancheira Grande e de A-dos-Francos. Dezenas de elementos destes grupos, acompanhados por bombos e concertinas, formaram um cortejo que percorreu as principais ruas da cidade, com paragens em diversos pontos para apontamentos de dança, desgarradas, recriação de namoros à janela e de pregões. Não faltou a tradicional lavagem de roupa no Chafariz das 5 Bicas e a dança final, com elementos dos vários grupos participantes, no Largo do Termal.
Para além dos trajes, os figurantes utilizam também utensílios de outros tempos e recriam profissões antigas, como foi o caso do amola tesouras, do homem que vende a água, um outro que vende gravatas ou das mulheres que fazem pregões e vendem doces, fruta e tremoços.
“Ainda de me lembro de, na antiga praça do peixe, ouvir um homem a apregoar a venda de semente de nabo, couve ou horto”, explicou Sérgio Pereira, dinamizador do evento e diretor do Rancho da Fanadia, acrescentando que era na rua que se faziam muitas das trocas comerciais e apregoava-se aquilo que se queria vender. A maior parte desses adereços/figurinos são do Rancho Folclórico da Fanadia que, como também possui o museu etnográfico, tem bastante material para exibir.
A cada ano a organização vai introduzindo algumas tradições. Nesta edição, foi convidada a historiadora e presidente da Associação PH -Património Histórico, Isabel Xavier, para falar sobre a Igreja de Nossa Senhora do Pópulo que, realçou, “deve ser vista como uma joia que existe nas Caldas, com características únicas”. Ainda dentro do templo, construído paredes meias com o Hospital Termal, cada grupo apresentou o santo padroeiro da sua localidade. No final cantaram “Miraculosa”, um hino a Nossa Senhora e colocaram um ramo de flores no altar.
Ao contrário do anterior, este ano não foram realizados os quadros etnográficos no Parque D. Carlos I. De acordo com Sérgio Pereira, a experiência não teve o resultado esperado pelo que, optaram por fazer as recriações na rua, ao longo do percurso e com uma maior interação dos transeuntes. “Fizemos uma desgarrada na Rua da Liberdade e todos os grupos dançaram, em conjunto, ao passo que, nos anos anteriores, apenas o grupo convidado costumava dançar”, explicou o responsável. Tal não acontecia porque cada grupo folclórico tem as suas músicas e danças, mas este ano Sérgio Pereira enviou uma mensagem com duas músicas para todos ensaiarem. O resultado foi um “fadinho” e uma “dança de roda”, interpretados por todos os elementos participantes.
“O objetivo é mostrar a cultura popular, que é muito rica. As aldeias que rodeiam as Caldas foram o “caldinho” para o crescimento da cidade”, salientou o responsável, destacando o “carinho” com que são recebidos.
O evento, integrado no projeto RETRATO e que já vai na sua oitava edição, é coordenado pelo grupo da Fanadia e organizado pelos quatro grupos folclóricos participantes, contando com o apoio da Câmara das Caldas e das duas uniões de freguesias urbanas.
O RETRATO – que integra as iniciais de Recriações Etnográficas de Tradições, Trabalhos e Ofícios – consistiu num desafio lançado em finais de 2015 aos grupos de folclore do concelho das Caldas da Rainha, de dentro do próprio movimento folclórico, para desenvolver um trabalho de enriquecimento nas cenas e recriações apresentadas em cada edição. Desde 2016 que as aldeias vêm à cidade recordar cenas do quotidiano dos finais do séc. XIX e princípios do séc. XX. ■