A codorniz-comum foi eleita como Ave do Ano 2020 na Pensínsula Ibérica. A votação decorreu online durante o mês de Janeiro e foi promovida pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves e pela Sociedade Espanhola de Ornitologia/BirdLife.
A codorniz recebeu 7930 votos, ficando à frente do tartaranhão-caçador (ou águia-caçadeira), com 6130 votos e do picanço-real (5156 votos).
Esta foi a primeira vez que se realizou uma votação conjunta.
“A população ibérica de codorniz é a mais importante da Europa Ocidental. Mas se não se fizer nada para valorizar a agricultura extensiva de sequeiro, vai seguir o caminho de outras espécies ameaçadas como o sisão e a águia-caçadeira”, diz Domingos Leitão, director executivo da SPEA.
Em comunicado aquela organização refere ainda que “embora em Portugal ainda seja uma ave comum, a codorniz poderá brevemente deixar de o ser, se não forem implementadas medidas para travar o desaparecimento da diversidade natural dos nossos campos”. Acresce que a área de distribuição da codorniz diminuiu 30% na última década em Portugal, como resultado de alterações nas práticas agrícolas. A expansão das monoculturas, o desaparecimento dos pousios, e a eliminação das sebes e margens dos campos deixam cada vez menos habitat disponível para esta e outras aves típicas de zonas agrícolas.
“Em Espanha a espécie está já em declínio evidente: o número de codornizes diminuiu 70% nos últimos 20 anos”, alerta a SPEA, acrescentando que, em Portugal, não há mais de 100 mil indivíduos desta espécie. “Ao impacto devastador da agricultura intensiva juntam-se a pressão da caça, a contaminação genética (com a introdução da codorniz-japonesa ou de híbridos para fins cinegéticos) e as alterações climáticas”, fazem notar.
A codorniz-comum alimenta-se de sementes, grãos de cereais e pequenos invertebrados, pelo que tem sofrido também com o aumento do uso de herbicidas e inseticidas. “A política agrícola tem de compensar quem pratica uma agricultura responsável e sustentável, contribuindo para a preservação dos valores naturais. Senão, daqui por uns anos poderá ser difícil ver codornizes nos nossos campos, não por serem mestres da camuflagem, mas por estarem a desaparecer”, diz Domingos Leitão.