Dorabela e Paulo Filipe sempre tiveram o hábito de viajar, geralmente para destinos exóticos, durante três semanas no Verão. O ano passado não foi excepção e o casal marcou férias para a Etiópia. Como era costume, sempre que se ausentavam, o cão Tobias ficava em casa aos cuidados de um familiar que o visitava pelo menos duas vezes por dia.
Mas o ano passado, o casal não partiu de férias descansado. “Tivemos medo que ele sentisse muito a nossa falta, porque já estava com 14 anos, era um cão muito velhote”, conta Dorabela. A verdade é que quando regressaram a Portugal, três semanas depois, receberam más notícias: Tobias tinha deixado de andar, arrastava-se pelo chão com uns enormes buracos nas patas. Como se, devido à falta dos donos, tivesse desistido de viver.
“A minha cunhada chegou a levá-lo à veterinária enquanto estivemos fora, que a aconselhou a abater o Tobias porque ele estava em sofrimento, mas decidiram esperar por nós para tomar essa decisão”, acrescenta Dorabela Filipe, que conta que assim que Tobias sentiu novamente a presença dos donos tentou levantar-se e abanou a cauda.
Era agora a vez de Dorabela e de Paulo lutarem pelo seu animal de estimação. Trataram-lhe das feridas e aos poucos conseguiram que voltasse a andar, ainda que curtas distâncias. Mas houve também a certeza que nunca mais podiam ir de férias e deixar o Tobias sem eles.
“Começámos a ver as opções que tínhamos que não incluíssem andar de avião e ponderámos destinos mais perto onde fosse possível ir de carro, uma vez que o Tobias desde pequenino que está habituado a viajar de automóvel connosco”, explica a dona, acrescentando que também foi necessário encontrar uma solução para transportar o Tobias durante os passeios a pé. Inicialmente o casal pensou em comprar um carrinho próprio para cães, mas além de não serem muito práticos de manobrar eram bastante caros. Cerca de 400 euros. Por isso, optaram por comprar um carrinho de bebé usado mas resistente – que suportasse com segurança os 40 quilos do Tobias – e adaptaram-no ao seu cão.
“OS DONOS DEVEM SER CUIDADOSOS PARA QUE MAIS HOTÉIS ACEITEM ANIMAIS”
A escolha do hotel ficou condicionada às unidades que permitiam a entrada de animais de estimação. “Tivemos que aumentar um pouco o nosso orçamento, até porque há hotéis que nos exigem o pagamento de taxas, mas quando assumimos o compromisso de ter um animal também tínhamos noção que o seu bem estar acarreta custos”, disse Dorabela Filipe, acrescentando que os hotéis em geral não têm condições especiais para receber os animais, apenas permitem a sua entrada.
Antes de escolher o hotel, Dorabela teve em atenção outros pormenores, como o piso do quarto. Isto porque Tobias é um cão idoso, que pode descuidar-se facilmente e se o chão for de carpete, por exemplo, torna-se mais complicado limpar o problema.
“Além disso, nunca lhe dou comida dentro do quarto, porque tenho consciência que a comida de cão cheira mal. Opto por dar-lhe de comer junto ao nosso carro”, acrescenta Dorabela, que afirma ter todos estes cuidados precisamente para não dar motivos aos responsáveis dos hotéis para que deixem de receber animais.
Mas há mais condicionantes quando se viaja com um animal. Nem todos os pontos turísticos aceitam a presença de cães, o que significa abdicar de visitá-los ou então ir uma pessoa de cada vez, como Dorabela e o marido chegaram a fazer. Quanto à alimentação, os restaurantes têm que ter obrigatoriamente esplanada para que o cão possa manter-se junto aos donos ou então os piqueniques também são uma boa opção.
Este ano, em Agosto, Tobias visitou a Áustria, Eslovénia e Eslováquia. Antes já tinha ido a Espanha, França, Andorra, Córsega, Gibraltar, Mónaco e Liechtenstein. Tal como as pessoas, também os animais precisam de passaporte para viajar, que deve ser adquirido na veterinária. O do Tobias custou 15 euros.
“A REACÇÃO DAS PESSOAS SUPREENDEU-NOS PELA POSITIVA”
Mas o que mais surpreendeu este casal foi a reacção das pessoas à situação do Tobias. “Estava à espera que gozassem assim que vissem o Tobias num carrinho de bebé, mas embora a primeira reacção fosse soltarem uma gargalhada, imediatamente a seguir mostravam-se solidárias, vinham ter connosco para nos felicitarem e até nos pediam para tirar fotografias com ele”, conta Dorabela Filipe. Além de mal conseguir andar, Tobias também vê e ouve muito mal. Só lhe resta o bom olfacto.
Não só as viagens, mas o simples dia-a-dia de um cão idoso pode tornar-se desgastante para uns (bons) donos. “Nós tratamo-lo como se ele fosse um membro da família e de momento o Tobias está muito dependente de nós, precisa muito da nossa presença”, diz a dona, que passa agora muito mais tempo em casa e sofre frequentemente de dores nas costas devido ao esforço que faz para ajudar o Tobias a subir as escadas ou para colocá-lo em cima do carrinho.
“Mas é um esforço que vale a pena, é a nossa paga ao amor que ele nos tem dado ao longo de 15 anos. Não é por o Tobias ser velhote que deixa de merecer todo o nosso carinho”, acrescenta Dorabela.