A Semana do Zé Povinho

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A 20 de Fevereiro de 2009 Zé Povinho registou pela primeira vez o desempenho de Frederico Silva, jovem prodígio do ténis português e até manifestou, na altura, o desejo de o ver um dia “levantar um troféu do Grand Slam”.
Esse momento chegou, três anos e quase sete meses depois, provavelmente mais cedo do que o próprio Frederico poderia esperar.
O tenista caldense tornou-se no passado sábado o primeiro português campeão deste tipo de torneio (dos mais conceituados do mundo), no US Open de Nova Iorque. Conseguiu-o na variante de pares, no torneio reservado aos juniores, na companhia de um britânico, sinal que a velha aliança ainda dá alguns resultados.
É um feito brilhante – mesmo que a conquista não tenha sido na competição individual – deste prodígio do ténis nacional, grande esperança da modalidade em termos futuros. O próprio jogador confia nas suas capacidades e mostra a ambição reservada aos campeões: quer repetir o feito, mas na competição principal.
Numa altura como esta, em que a insegurança em relação ao presente e ao futuro é tão grande entre os portugueses, sobretudo entre os mais jovens, Zé Povinho arriscaria mesmo dizer que, com esta vitória, Frederico Silva é, pelos dias de hoje, um dos poucos portugueses satisfeitos.
Tal como o fez em Fevereiro de 2009, Zé Povinho volta a deixar o desejo que um dia o Frederico possa vencer novamente um Grand Slam, mas no circuito de elite, como pretende, elevando o ténis português e caldense a uma dimensão inimaginável há poucos anos atrás.

Por estes dias há também um português satisfeito. Ele chama-se Pedro Passos Coelho e é primeiro-ministro de Portugal. É difícil imaginar um governante mais sortudo e mais realizado. Ele tem uma ideologia neo-liberal na qual acredita piamente. Ele está convencido que o empobrecimento dos portugueses conduz a um aumento da competitividade nacional. Ele acredita que baixar as contribuições para a Segurança Social às empresas e aumentá-las aos trabalhadores fará criar mais emprego. Ele tem a convicção de que o aumento do desemprego conduz a uma desejável baixa dos salários e, logo, a uma vantagem comparativa da economia portuguesa na economia mundial. Ele está seguro que é necessário cortar com tudo o que seja público ou do Estado porque isso tornará os portugueses menos dependentes e mais empreendedores e competitivos.
Se as coisas não estão a correr dessa maneira, a culpa é certamente do país, que, sabe-se lá porquê, não encaixa na cartilha neo-liberal. Para o primeiro-ministro isso não é importante. Os parcos manuais de economia política em que ele tem fé dizem que é assim e assim continuará a ser.
Nunca, desde o 25 de Abril, houve um primeiro-ministro e uma equipa de governantes tão felizes, com tanta facilidade em pôr em prática as políticas em que acreditam. Têm uma maioria parlamentar (em coligação) e, sobretudo, têm o respaldo da troika. E assim, com as costas quentes, podem produzir os dislates que bem lhes apetecer. Faz lembrar aqueles miúdos da rua que só fazem maldades quando têm o pai por perto. Este governo tem também um paizinho próximo – a troika.
Alguém acredita que estas medidas de austeridade sucessivas são uma inevitabilidade e se destinam unicamente a pagar a dívida e reduzir o défice, satisfazendo os credores? Não. Estas medidas são ideológicas, são políticas, são um ajuste de contas com o próprio 25 de Abril, vindas da mais juvenil direita ultra-liberal. São políticas que envergonham muitos militantes do PSD e do CDS/PP, que já afirmam por aí que não se revêem neste governo.
Zé Povinho não duvida que o Dr. Passos Coelho é um homem feliz. Ele, o Dr. Vítor Gaspar e os restantes muchachos do seu governo (com excepção do Dr. Paulo Portas que, de forma cobarde, prefere estar ausente quando são anunciadas medidas de austeridade que há bem pouco tempo ele contestava em carta recente aos militantes). Mas Zé Povinho vê os restantes milhões de portugueses bastante infelizes. E revoltados. E por isso não pode deixar de expressar a sua mais profunda indignação para com esta equipa governativa que tantas malfeitorias têm feito aos portugueses.

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