A dupla DAFLA - Daniela Fortunato e Flávia Martins, irá criar murais identitários em todas as freguesias do concelho, num projecto que decorre até meados do próximo ano

Quem, por estes dias, passa pela vila de Óbidos encontra, numa das paredes exteriores do Espaço Ó (junto ao Aqueduto) a imagem de Adelaide Ribeirete, a criadora dos bordados de Óbidos.
O mural, criado pelas artistas obidenses Daniela Fortunato e Flávia Martins, integra o projecto “Caracaia” que pretende, através da realização de murais, materializar a identidade dos lugares.
A dupla, que assina como DAFLA, salienta que, com este projecto, pretende valorizar a expressão em cal e a reaproximação identitária do acto de caiar, utilizando nas suas obras “esta matéria autêntica e sustentável” que as diferencia enquanto artistas.
Na apresentação pública, que teve lugar no passado dia 30 de Agosto, o presidente do Espaço Ó, Ricardo Duque, deu nota da vontade de este projecto se afirme enquanto agente de disseminação e promoção cultural e identitária valorizando os hábitos, os saberes, os costumes e tradições daquele território.
Considerando o elevado número de turistas que visitam Óbidos, a associação está a desenvolver um roteiro artístico por todas as freguesias, de forma a criar mais um motivo para as visitar.
“Acredito que, através da arte conseguimos, potenciar o território, promover experiências em comunidade e acima de tudo contribuir para o desenvolvimento económico e social dos lugares”, disse o dirigente à Gazeta das Caldas.
Todos os murais a realizar no âmbito do “Caracaia” serão realizados pela dupla Daniela Fortunato e Flávia Martins até meados de 2021, altura em que está previsto um festival de rua, agregando vários artistas e fazedores, com intervenções nas várias localidades.

HOMENAGEM À CRIADORA DO BORDADO DE ÓBIDOS

A “Bordadeira”, título da pintura do primeiro mural, é uma homenagem a Maria Adelaide Ribeirete, fundadora do Bordado de Óbidos.
Considerada uma mulher vanguardista para o seu tempo, foi assistente social e deixou obra feita no concelho onde nasceu. Após a recuperação do tecto da igreja de Santa Maria, que colocou em destaque as cores e as formas originais, com a ajuda de um espelho, Maria Adelaide criou, desenvolveu e ensinou a arte do bordado.
Nesta cerimónia, foram vários os populares que quiseram partilhar momentos da vivência com a homenageada.
Maximino Martins, recorda o papel importante que Maria Adelaide Ribeirete assumiu em Óbidos no final dos anos 1950, em que além da responsabilidade pública enquanto assistente social naquele concelho, foi pioneira na arte de bordar e uma inspiração para as jovens daquela época.
Sylvie Simão, que aprendeu com Maria Adelaide Ribeirete a arte do bordado, continua a desenvolver e disseminar esta arte em peças mais contemporâneas, como são exemplo as máscaras criadas durante a pandemia.
De acordo com o vice-presidente da Câmara de Óbidos, José Pereira, “são projectos como estes que nos fazem acreditar que a nossa juventude está activa e disponível para preservar a identidade do nosso território”.
O autarca felicitou as jovens obidenses pelo “excelente trabalho” desenvolvido, assim como o Espaço Ó pelo incentivo ao desenvolvimento conceptual e artístico de projectos que representam e materializam as memórias de uma comunidade. A apresentação contou ainda com a presença de Maria João Ribeirete, sobrinha da criadora do bordado, que reconheceu a homenagem feita à familiar.

Preservar as artes nas ruas

Permitir aos artistas que desenvolvam a sua arte de forma sustentável, num ano conturbado devido à pandemia, está na base do programa “komunotatea”, do Espaço Ó. Este prevê a realização colaborativa de instalações, arte urbana, performances ou espectáculos diferenciadores envolvendo os artistas e fazedores locais com base na formação e nas experiências em comunidade.
“As memórias, as crenças, os valores, as tradições, os costumes, a linguagem, a comunicação, a organização social, a ciência, a tecnologia e a arte nas suas mais variadas formas de expressão constituem um amplo acervo de manifestações culturais que pretendemos preservar e afirmar”, salientou Ricardo Duque.
Moda, fotografia, escultura, pintura, música, gravura, dança, teatro, gastronomia, literatura, joalharia, tapeçaria, entre outras artes serão representadas neste projecto.