Electricidade Estética tem levado arte à antiga Casa da Cultura

0
889
A instalação de Jorge Maciel
A instalação de Jorge Maciel permitia que os espectadores a percorressem e encontrassem os pormenores, entre os quais o próprio autor, com uma máscara de raposa a segurar uma vela. - Isaque Vicente

O Ciclo de Primavera da Electricidade Estética começou a 13 de Março e tem levado arte contemporânea às salas da antiga Casa da Cultura às terças-feiras à noite. Gazeta das Caldas foi espreitar e viu dezenas de pessoas a passear por aquele espaço e a tomar contacto com as obras e com os artistas. Até 24 de Abril à terça-feira a partir das 22h00, na antiga Casa da Cultura junto ao Céu de Vidro, é possível apreciar mais duas sessões.

Numa sala vê-se uma motosserra suspensa no tecto por um fio. Esse fio segura também um tronco, que está junto à lâmina. Ouve-se o som do motor.
Se a motosserra cortar o troco e cumprir a sua função, irá cair no chão e desfazer-se toda. Mas se não o cortar, nunca faz o que deveria fazer.
“To do, or not to do [fazer ou não fazer]” é o nome da peça de Ivo Andrade, que explora nesta mostra os paradoxos.
É também da sua autoria uma mesa onde um serrote sem punho corta a madeira que irá cumprir essa função de se transformar no punho do próprio instrumento. Esta peça aborda a questão do ovo e da galinha. Ambas fazem parte da série “To persist and to pervail”, que utiliza objectos do quotidiano para criar os tais paradoxos.
Noutra sala encontramos uma grande instalação de Jorge Maciel, intitulada “A linha do horizonte vai de uma ponta da paisagem até à outra e esta mesma linha é interrompida por planos inclinados que se encontram e se cruzam de forma aleatória com planos de rampa criando assim universos de degradês paralelos…”.

- publicidade -

O nome é uma descrição da obra que Jorge Maciel, no seu caos harmonioso, fez com materiais usados que recolheu, como é o caso de telhas, tijolos e madeiras. É uma forma “de deslocar a arte do pedestal e trazê-la à terra”, disse o autor à Gazeta das Caldas.
Esta instalação, que desenhou no espaço, sem esboços, permitia que o espectador a percorresse por caminhos toscos, que abanavam e rangiam. Ao longo da mesma íamo-nos deparando com pormenores como recantos ou bonecos.
Quando as pessoas entram na instalação encontram “uma construção de uma narrativa que não é objectiva e fica na dúvida: é um telhado ou não? Estamos ao nível do solo?!”.
Durante a noite o autor preconizou um happening, com uma máscara de raposa, atrás de um biombo, a segurar uma vela que alumiava uma folha com o nome da exposição.
Jorge Maciel demorou sete dias para concretizar este trabalho. O artista elogiou o esforço da Electricidade Estética, notando que “devia haver maior apoio institucional ao trabalho deles, que é constante e de qualidade” e que “era importante os caldenses aderirem mais a este tipo de iniciativas não formais”.
Patrícia Faustino, da Electricidade Estética, disse à Gazeta das Caldas que este ano tem notado a presença de vários professores da ESAD na assistência. “A afluência tem-se mantido”, com centenas de pessoas por noite, maioritariamente jovens estudantes.
O segredo destes eventos é não terem temáticas, nem serem exposições colectivas. “Damos aos artistas liberdade para usarem o espaço”, explicou.
Nesta noite as salas cinzentas, que nas escadas ganharam um novo corrimão de ferro feito pelos próprios artistas, receberam ainda obras de Luísa Abreu (“X”), Filipe Feijão (“escultura”) e José Carlos Teixeira – “Being Other (a new community)”.
Na próxima terça-feira, 17 de Abril será possível apreciar o trabalho de Edgar Massul, Marta Soares, João Vinagre e Ana Bataglia Abreu e na última sessão do ciclo (que congrega trinta nomes) apresentam-se as obras de Ana Rita Manuel, Thierry Ferreira, Cristina Assunção e Maria Pereira, bem como a performance do colectivo Ir Ó Shima.
Depois, segue-se o Gato Vermelho neste mesmo espaço, em Maio, e as Noites da Lua Azul em Junho, no centro histórico da cidade.
A Electricidade Estética é uma associação cultural privada, sem fins lucrativos, que organiza eventos de arte contemporânea nas Caldas.

[caption id="attachment_115055" align="alignnone" width="850"]Máscara de Raposa A instalação de Jorge Maciel permitia que os espectadores a percorressem e encontrassem os pormenores, entre os quais o próprio autor, com uma máscara de raposa a segurar uma vela. – Isaque Vicente[/caption]

- publicidade -