O alemão Freddy Batteur é músico e recebe artistas de todo o mundo no Bouro

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Freddy Batteur no estúdio no Casal do Pomar onde grava as suas canções
Freddy Batteur é um músico alemão que vive no Bouro, desde os anos 90. O percussionista, que é também produtor musical, recebe na sua casa músicos de todo o mundo. Gazeta das Caldas apresenta este autor que se divide entre a Alemanha e a região e que dá a conhecer o concelho caldense a amigos das mais variadas nacionalidades.

Natacha Narciso
nnarciso@gazetadascaldas.pt

As primeiras viagens a Portugal foram feitas em 1984 quando Freddy Batteur fazia parte da equipa que assegurava que nada faltava nos ensaios ou actuações da banda alemã, Guru Guru (criada em 1968). Naquela época, os grupos de rock viajavam em grandes autocarros e ficavam alguns dias pelas localidades onde actuavam.
Após uma dessas viagens Freddy Batteur decidiu percorrer durante três meses a Península Ibérica. Esteve em Montegordo com os seus amigos, actuaram em Armação de Pêra. Muitas das actuações eram jam sessions com improvisação que contavam com a participação de músicos locais.
Após alguns dias de descanso, lazer e muita música, Freddy fez uma viagem até à região Oeste. Conta que estava sentado num café em S. Martinho quando alguém lhe perguntou se estava interessado em comprar uma casa próximo da praia do Salgado, na Serra da Pescaria. “No dia seguinte, estava a fazer a escritura”, contou o músico que assim começou a ficar ligado a Portugal e à região. Nos anos 90, Freddy trabalhou com vários músicos portugueses: o cantor Beto (falecido em 2010) ou com o baixista Mário Carreira que actualmente trabalha com Mikael Carreira.
Na Alemanha, Freddy teve vários grupos e, como baterista, trabalhou como freelancer, tendo feito gravações de bossa nova com big bands e colaborou com grupos que se dedicavam à new wave.
“Eu era o que se pode chamar o músico bombeiro pois ligavam-me ao sábado à tarde para tocar à noite e eu ia!”, contou o baterista que, em 1995, veio a Portugal com a sua banda de então e chegou a fazer a primeira parte do concerto de Pedro Abrunhosa, em Alcobaça, quando o cantor estava em digressão com o seu álbum Viagens.
No ano seguinte, Freddy trabalhou para o projecto Lusonics, constituido por músicos alemães que viviam em Porto Covo. Um deles, Manfred Preaker era o baixista de Nina Hagen que veio viver para Portugal no início da década de 90. “Gravámos várias canções, algumas delas em português que passaram nas rádios locais”, contou referindo-se a Rapariga de Lisboa e a Noites de Verão.
Foi também nos anos 90 que Freddy conheceu uma francesa com quem foi viver no Bouro já com a ideia de “fazer algo nesta propriedade, dedicado às artes”, contou o músico, que entretanto vendeu a sua primeira casa na Serra da Pescaria e comprou no Bouro a propriedade designada Casal do Pomar.
Gosta da vida livre que sente sempre que regressa a Portugal, mas refere que há uma enorme diferença entre a vida na Alemanha e aqui em Portugal. No entanto, “sempre que chego ao Bouro, sinto que foi uma decisão certa ter adquirido esta propriedade”, disse Freddy Batteur que, entretanto, fez uma paragem forçada na sua carreira de músico, motivado por um acidente “em que fui atingido nas costas por um caçador”. Foi operado várias vezes mas, o incidente obrigou-o a largar a bateria durante pelo menos 15 anos.
A partir de 2004, decidiu iniciar uma segunda carreira como escritor de canções. Escreve-as em várias línguas e consegue compor em alemão, português, inglês e francês. Algumas são entoadas pelo músico, outras por cantores nacionais e internacionais.
Um dos pontos altos foi a produção conjunta com o cantor Dennis Le Gree da canção de Freddy, Love will change it all. A produção foi da Canoa Studios e as filmagens do vídeo para o tema foram feitas em Óbidos. Os arranjos estiveram a cargo de Luís Pinto, músico que faz parte da banda Anjos.

Usufruir da liberdade no Oeste

Aos 64 anos, Freddy continua a trabalhar com músicos de várias nacionalidades e que convida para conhecer de perto o Oeste. Fá-lo não só pelo prazer da música, como para usufruírem de “um lugar onde as pessoas se sentem em segurança e livres”, disse o alemão que costuma receber músicos dos EUA, Alemanha, Inglaterra e País de Gales. Alguns dos convidados actuam em grandes palcos onde há tanta pressa e controlo de segurança que eles “agradecem-me uns dias calmos onde podem efectivamente descansar, passear e fazer música sem grandes pressões”, disse o baterista.
“Alguns vêm para cá para preparar novos álbuns e até já se apresentaram em actuações nos Silos”, contou o baterista.
Actualmente Freddy está a trabalhar com o seu amigo Rudy Valentino Jr. que é presença regular no Casal do Pomar. Estão a trabalhar numa nova versão da canção, Tears and Pain, escrita por Freddy Batteur. Além de músico experiente, Rudy é também engenheiro de som e em 2006 ganhou Grammy para melhor engenheiro de som com o cantor jamaicano Toots.

Um hectare de arte e natureza

A casa de Freddy Batteur tem um hectare e os seus amigos não pagam pela estadia. “Eles deixam sempre obras artísticas, consoante o que cada um sabe fazer”, disse o músico que quer que a visita ao Bouro possa proporcionar-lhes verdadeiro descanso e principalmente paz de espírito.
No Casal do Pomar os hóspedes têm a possibilidade de apanhar fruta das árvores enquanto fazem uma pausa nas gravações ou nas composições.
A propriedade dispõe de várias áreas anexas, incluindo uma eira que, no futuro, poderá ser fechada com uma tenda, passando a ser um espaço para concertos.
Freddy diz que não é rico e que a recuperação da propriedade é fruto do seu trabalho, feito ao longo de 27 anos.
“Prefiro investir aqui do que comprar um apartamento em Lisboa”, disse o músico. O viajante do mundo diz que gosta de viver entre duas realidades bem distintas: tudo muito organizado e feito no imediato “como é próprio do espírito alemão” e a forma de ser portuguesa, “muito mais calma”, onde se houve com muita frequência a expressão “talvez se possa fazer amanhã”.