Jorge Pereira de Sampaio venceu o Prémio Fundação Engenheiro António de Almeida, com um livro sobre a poetisa Virgínia Victorino, que viveu 10 anos nas Caldas da Rainha
Qual é o significado deste prémio da Fundação Engenheiro António de Almeida com o livro “Virgínia Victorino – vida e obra”?
Trata-se de uma distinção exclusiva para académicos e é uma honra receber um prémio com o nome de Joaquim Veríssimo Serrão. Ele foi um exemplo do que deve ser um historiador. Veio várias vezes a Alcobaça, a meu convite. Por isso, este é um prémio de carreira e é gratificante, pois é a primeira vez que concorro a uma distinção da academia. O meu livro foi distinguido ‘ex-aequo’ com o “Templários em Portugal. Homens de Religião e de Guerra”, de Paula Pinto Costa.
Fale-nos sobre Virgínia Victorino. Quem foi esta mulher?
Virgínia Victorino nasceu em 1895 em Alcobaça e foi poetisa e dramaturga. Foi a escritora que mais vendeu em Portugal na década de 20 do século XX, mas foi esquecida até muito recentemente. Escreveu três livros de poesia “Namorados”, “Apaixonadamente” e “Renúncia”. O primeiro teve doze edições em Portugal e duas no Brasil. Ando a estudá-la há cerca de 30 anos. Era uma intelectual da sua época que viajou muito e que era recebida por várias personalidades, incluindo o Papa quando foi a Roma. Fazia parte de um grupo de mulheres intelectuais europeias, tendo sido muito apreciada também no Brasil. Foi retratada por vários artistas.
“Vírgínia Victorino foi uma intelectual e uma das mais importantes mulheres das Letras Portuguesas”
Em que áreas se destacou esta alcobacense emancipada?
Em 1914, partiu para Lisboa onde, no Conservatório Nacional, fez os cursos superiores de Piano, Canto, e geral de Harmonia e de Italiano. Durante quatro décadas, lecionou as cadeiras de Português, Francês e Italiano no Conservatório. Foi uma das primeiras colaboradoras da Emissora Nacional, onde dirigiu o Teatro Radiofónico. Destacou-se também como dramaturga pois escreveu seis peças, todas representadas pela Companhia Rey Colaço/Robles Monteiro, no Teatro Nacional D. Maria II. Foi agraciada pelo Governo Português com o grau de Oficial da Ordem de Cristo, em 1929 e com a Comenda da Ordem de Santiago, em 1932 e, do Governo Espanhol, recebeu a Cruz de Afonso XII, em 1930.
“Gostaria de apresentar o livro e o documentário sobre esta autora nas Caldas da Rainha, assim que possível”
Qual é a ligação de Virgínia às Caldas da Rainha?
Após a sua vida profissional, ela retirou-se e veio viver para as Caldas com a sua amiga, Maria Manuel Lima de Carvalho, cuja casa era no edifício onde fica a Óptica do Parque. Frequentava o café Central e a Pastelaria Machado. Também deveria ter uma rua com o seu nome nas Caldas, já que viveu durante uma década na cidade.
Já se realizaram outras iniciativas sobre esta autora?
Sim, foi feito um congresso internacional em 2018, organizado pela ADEPA em Alcobaça. Nessa altura foi feito e apresentado um documentário sobre a sua vida. Na sessão participou a vereadora Maria da Conceição Pereira, por causa da presença da autora nas Caldas. Gostaria de apresentar o livro e o documentário nas Caldas, assim que possível. Se houver gente que se lembre dela, gostaria de continuar a reunir elementos sobre a passagem de Virgínia Victorino nas Caldas da Rainha. Morreu em Lisboa, em 1967. O seu nome foi dado a uma rua nessa cidade e, de resto, o mesmo já aconteceu na localidade que a viu nascer.

Perfil
Jorge Sampaio
Investigador
Jorge Pereira Sampaio é historiador de arte e autor da primeira tese de doutoramento na área da História da Cerâmica Portuguesa defendida em qualquer país de Língua Portuguesa. Foi diretor do Mosteiro de Alcobaça desde agosto de 2010 até março de 2015. É responsável pelo Museu de Cerâmica de Alcobaça, da sua família, que recebeu uma Menção Honrosa da APOM como Coleção Visitável em 2018. Foi distinguido com o Prémio Colecionador do Ano, póstumo, para o seu pai, Luís Pereira de Sampaio. A investigação sobre Virgínia Vitorino (1895-1967) é o seu 40º livro, tendo escrito inúmeras obras sobre a história de Alcobaça no século XX. Esta obra tem 330 páginas e mais de 800 notas de rodapé