
Jornalista | DR
A Gazeta das Caldas está quase a entrar para a curta lista dos jornais portugueses centenários – que inclui pouco mais de 30 publicações em todo o nosso país. Revelador é o facto de, à exceção de dois ou três títulos, a esmagadora maioria desses periódicos com cem ou mais anos de vida, serem edições locais ou regionais, publicações que fazem da relação direta com as populações a sua arma principal, ao longo de anos e anos. Jornais onde a proximidade não é retórica, é uma prática diária, edição a edição, sempre com o sentido jornalístico centrado nas pessoas, nas ruas, nos pequenos bairros, nas praças onde o tempo marca cada dia, nas histórias, pequenas ou grandes, nas polémicas locais, nos problemas de todos.
Se há algum segredo na resiliência de publicações como a Gazeta das Caldas, esse segredo reside na fantástica capacidade de adaptação ao tempo tecnológico, sem nunca tirar os olhos do essencial: a vida das pessoas, as notícias que lhes dizem respeito, a ligação ao desenvolvimento da terra, do concelho, da região. Que importa se é papel ou digital? Se escrito à mão, numa máquina de dactilografar ou num computador? Se as fotos saem a cores ou a preto e branco? Nada! Interessa só o faro pelas notícias que tocam os leitores, que cortam a direito na defesa do interesse das populações, às vezes de forma apaixonada mas estimulante, interpelando o sentido cívico e crítico, apelando a compromissos colectivos, democráticos.
A história da Gazeta das Caldas segue lado a lado com a história do país mas sempre com o foco na região onde se publica, desde 1925: o entusiasmo regionalista no impulso fundacional, a passagem pelos anos da ditadura, o apoio incondicional aos valores de abril, a luta ecológica em Ferrel, ao lado dos que se opuseram à construção de uma central nuclear logo em 1976, a transição serena para o novo século e, por estes dias, os desafios todos do nosso tempo, desafios que interpelam hoje os jornalistas de todos os meios de comunicação social em qualquer parte do mundo.
O percurso de sucesso de uma publicação regional faz-se também da soma das vontades das pessoas que a dirigem e lhe dão sentido e coerência, que são capazes de satisfazer o interesse dos seus leitores ao longo de muitos anos, de forma regular, sem desvios nem desatenções. Aqui, na Gazeta das Caldas, é espantosa a dedicação do seu director, o José Luís – à frente do jornal em quase metade destes 95 anos – e de jornalistas como o Carlos Cipriano e outros com ligação mais recente ao jornal mas igual entrega e entusiasmo.
A Gazeta que conheci, há quase 40 anos, e onde publiquei textos durante os meus tempos de estudante, era um espaço de liberdade, de cultura e de conhecimento, que agregava pessoas, ideias, acções, num tempo único e irrepetível: o das longas tertúlias no café Central, das ‘piscinas’ na Praça da Fruta, pela madrugada fora, debaixo do cacimbo típico das noites caldenses, dos passeios animados pelos mil recantos do Parque, das múltiplas atividades na Casa da Cultura, das ideias em permanente ebulição, de uma inesgotável energia colectiva comprometida com uma ideia de cidade. É dessa mesma energia que ainda se alimenta hoje a Gazeta das Caldas, quando sai para a rua todas as semanas, orgulhosa da sua região, fiel aos seus leitores, de sol sorridente ao peito, apontada ao seu primeiro século de vida e a todo o futuro que vem a seguir.
Parabéns!