Empresas e instituições apresentam iniciativas que mereceram apoios da União Europeia ao longo dos últimos anos. Incentivos ajudaram a fortalecer os negócios, a criar mercado e a afirmar produtos
O Centro de Informação Europe Direct Oeste e Lezíria do Tejo promoveu uma visita a um lote de empresas que obtiveram financiamento a projetos por parte da União Europeia.
A iniciativa, destinada a jornalistas e subordinada ao tema “A União Europeia na nossa Região – A Política de Coesão e o Desenvolvimento Local”, permitiu tomar contacto com algumas iniciativas privadas de âmbito diverso, desde o setor primário à indústria de ponta, procurando evidenciar o impacto dos fundos europeus na economia do Oeste.
O périplo iniciou-se na Granja de Cister, projeto que nasceu em 2009 no seio da Cooperativa Agrícola de Alcobaça, sinalizado em conjunto com a Câmara no âmbito da regeneração urbana. “O objetivo inicial era assegurar a ligação do mundo rural à cidade, através de um espaço na possível remodelação do Mercado Municipal, o que não for possível”, recordou o diretor de serviço da cooperativa, Ricardo Santos.
Em resposta ao desafio, a instituição resolveu abrir a Granja de Cister, junto à cooperativa, e avançar com outra iniciativa, a marca “Somos da terra”, virada para a criação de roteiros turísticos. Os projetos foram financiados, respetivamente, pela CCDR e pela Leader Oeste e em 2014 Alcobaça ganhou, com a Granja de Cister, um showroom dos produtos agrícolas da região.
“Na agricultura estamos ao nível do que de melhor se faz no mundo”
Ricardo Santos (Granja de Cister)
“Vincamos aqui a ideia de que os materiais não têm fim de vida”
Telmo Faria (Hotel Rio do Prado)
Passados seis anos, a Granja é uma referência de Alcobaça. “Na agricultura estamos ao nível do que de melhor se faz no mundo. Investiu-se muito no processo produtivo, mas continuamos a comunicar mal ao consumidor, que precisa perceber todo o respeito que o agricultor tem pela natureza”, sustenta Ricardo Santos, explicando que na loja se vende “o que de melhor se produz na região”, nomeadamente os queijos da Flor do Vale, outra das empresas alvo da visita da comitiva “europeia”.
A queijaria, no Valado de Santa Quitéria, foi licenciada em 2014, tendo feito, no ano passado, uma evolução no sistema de ordenha, com projeto candidatado e “que está ao nível mais avançado do que há no mundo”, frisa Jorge Silva, explicando que as vacas são ordenhadas por robot, o que “dá tranquilidade aos animais”.
Aquela empresa do concelho de Alcobaça vende diretamente num raio entre Leiria e Torres Vedras e tem um efetivo de 500 animais, sendo que 60% da produção de leite é para transformação. No ano passado, transformou mais de um milhão de litros de leite e já começou a exportar queijo curado para França.
Indústria de ponta
Fundada em 1954 em Santa Catarina, a Ivo Cutelarias tornou-se, no ano passado, a maior empresa do setor a nível nacional, vendendo para 92 países.
Com 174 funcionários, é a única empresa do país a fazer forja por indução. Fez um dos maiores investimentos em painéis solares, o que permitiu reduzir a fatura energética. Depois, direcionou o investimento em máquinas a laser 2D e 3D num novo pavilhão, que veio complementar a parte artesanal e industrial de uma empresa liderada por António Peralta e que vai já na terceira geração.
Entre 2012 e 2019, a Ivo realizou investimentos totais de 8,7 milhões de euros, com incentivos totais de 2,5 milhões de euros, o que permitiu fortalecer a atividade. Em 2012, a Ivo Cutelarias tinha 136 funcionários e um volume de negócios de 5,1 milhões de euros e viu esses valores dispararem para 174 funcionários e vendas de 8,5 milhões de euros no ano passado.
Outra das empresas da região na vanguarda do que melhor se faz a nível internacional é a Barros & Moreira, SA, grupo com quatro unidades industriais que se dedicam, sobretudo, à produção de torneiras, injeção de plásticos e móveis de casa de banho.
Antes da pandemia, a empresa do concelho de Óbidos tinha 170 colaboradores, número que baixou para 140. Carlos Barros, CEO do grupo, acredita que melhores dias virão. “Estamos a recuperar e a diversificar a atividade”, nota o empresário, revelando que a expetativa era “de que este iria ser o melhor ano de sempre”. “Tivemos o melhor trimestre de sempre no início do ano, mas, depois, veio a covid-19 e os números baixaram”, frisou o responsável de uma empresa que, entre outros apoios, se tem candidato ao reforço e consolidação da internacionalização.
Economia circular
É difícil encontrar adjetivos adequados para descrever o Rio do Prado, unidade hoteleira no Arelho (Óbidos), que se destaca pela ligação com a natureza e é resultado de uma aposta marcante na economia circular por parte de Telmo Faria, o qual, depois de 12 anos à frente da Câmara, decidiu dar um novo rumo à vida e regressar às origens. Foi num terreno da família, com a Lagoa de Óbidos como pano de fundo, que criou um hotel icónico e que apresenta um conjunto de suítes que dispõem de lareira interior e exterior e todas as comodidades que se possam imaginar. Os preços variam, mas podem atingir os 345 euros para a suíte com spa. “É o nosso produto mais caro e o mais vendido”, assume o empresário, que recorreu a fundos europeus para construir o hotel. E não só…
Tendo em conta a sustentabilidade e o ambiente, a decoração do Rio do Prado é resultado de desperdícios de floresta ou de obras de construção civil. “Vincamos aqui a ideia de que os materiais não têm fim de vida”, sintetiza Telmo Faria, que fala, orgulhoso, do restaurante Maria Batata e da biblioteca, com espólio da Fundação Calouste Gulbenkian e mais de cinco mil livros.
E se é de turismo de qualidade que falamos, então podemos dar um salto até à Quinta do Rol, na Lourinhã, onde nasceu uma “clínica” de equitação, que também aproveitou os fundos da União Europeia. De uma quinta de atividades artesanais, criou-se uma empresa especializada em fruta (pera rocha e maçã de Alcobaça), aguardente, espumante e vinho. Mas também direcionada a um centro hípico, com 20 cavalos, onde se aposta em lições de dressage, quase exclusivamente para estrangeiros.
“Procurámos encontrar nichos de qualidade para subir os preços”, resume o proprietário, Melo Ribeiro, sublinhando que os clientes de equitação são, sobretudo, originários de Suécia (60%), Alemanha e Inglaterra, frequentadores da Quinta do Rol entre os meses de março e novembro.
E na restauração…
Ao longo dos últimos anos têm-se multiplicado os restaurantes de qualidade na região. Na visita do Centro de Informação Europe Direct Oeste e Lezíria do Tejo foi possível comprovar as receitas de duas unidades: uma na Ribafria, o Olhó Frango Assado, e outra na Lourinhã, o Vestigium.
A história do Olhó Frango Assado começou em 2011, com o serviço de take-away, depois de a família de Sónia Rosário começar a vender frango assinado no Mercado de Santana.
Com apoio de Fundo Social Europeu e do FEDER, a empresa conseguiu comprar um espaço próprio e passou a receber “grupos” e “outro tipo de clientes”. Hoje em dia, o restaurante tem cinco postos de trabalho e já partilha o espaço com o Come – The Steakhouse, um restaurante dedicado, sobretudo, às carnes maturadas.
Na Lourinhã, o Vestigium beneficia da proximidade com o mar e o campo para apresentar pratos de peixe e carne de grande qualidade. E, se é alguém que aprecia o produto verdadeiramente local, então não perca o “Lourinhanossauros beef”, para duas pessoas, neste restaurante de estilo familiar que se equipou com contributo de fundos europeus e se evidencia, entre outros pormenores, pelas carnes maturadas, que chegam a estar 40 dias para serem servidos…