
Dois meses e meio depois, aquele que é considerado o maior mercado ao ar livre do país reabriu, no passado domingo, sob fortes medidas de segurança. O espaço de três hectares foi totalmente vedado e foram definidas quatro entradas. A organização permitiu a presença no mercado, em simultâneo, de mil pessoas, para além dos feirantes e as entradas foram controladas por militares da GNR e funcionários da Junta de Alvorninha, que obrigaram os visitantes a higienizar as mãos nos dispensadores de álcool gel instalados
Foram dois longos meses e meio de espera para os feirantes como Dina Henriques. Há 22 anos que esta riomaiorense vende no mercado de Santana e, por isso, no regresso à actividade, no passado domingo, tornou-se um momento marcante.
“Este é o nosso meio de subsistência. Só tenho este mercado e estava algo ansiosa pelo regresso”, admitiu à Gazeta das Caldas a vendedora, enquanto auxiliava o filho na abordagem a um cliente. “É tudo a 5”, explica a feirante, ao mesmo tempo que entrega um saco a um cliente a quem acaba de vender peças de roupa interior.
Aquele que é considerado o maior mercado ao ar livre do país reabriu e com apertadas regras de segurança. Os três hectares da feira foram vedados e definidas quatro entradas, sendo limitado a cerca de mil o número de pessoas no interior da feira, onde só entravam clientes com máscara. Militares da GNR e funcionários da Junta de Alvorninha controlavam as entradas e obrigavam as pessoas a higienizar as mãos nos dispensadores de álcool gel instalados.
Vítor Guedes chegou a Santana às primeiras horas da manhã, oriundo de Santarém. E gostou do que viu. “Parece-me seguro e cabe-nos a todos cumprir as regras. Mas creio que depende mais dos clientes do que dos feirantes. Se as pessoas tiverem o civismo estes mercados podem manter-se”, opinou o cliente, que acompanhou um amigo que veio comprar enchidos para um restaurante.
Devidamente protegidas por viseiras, as holandesas Marjolein e Nanja Engeln não passam despercebidas no mercado. Este casal holandês radicou-se na Boavista, na Serra do Bouro, onde gere o glamping Terra dos Anjos e não tem dúvidas. “Ainda bem que reabriu. Este é o melhor mercado da região”, afiança Marjolein, que, faz questão de indicar o mercado de Santana aos turistas que recebem. “Eles ficam encantados, pois encontram aqui muito do que é a cultura portuguesa”, nota esta antiga polícia na Holanda.
Do vizinho concelho de Alcobaça chegam inúmeros vendedores, como Marília Mateus, de 61 anos,
que vem da Cela, juntamente com o marido, José Eduardo, “desde que Santana abriu”, há um quarto de século. Estes produtores tinham “saudades dos clientes, do conviver com as pessoas”, e, além disso, atravessaram “dois meses e tal sem ganhar nenhum”. Por isso, o regresso deixou-lhes um sorriso na face, ainda que escondido pela máscara que exibem. “Isto está bem organizado. Torna-se um pouco difícil trabalhar com as máscaras, mas é o melhor para a nossa saúde e para a saúde dos nossos clientes”, frisa a mulher, que recordou, depois, os primeiros tempos no mercado: “Começámos a vender aqui há 25 anos, quando isto abriu. Começámos no campo da bola e fomos andando cá para baixo”.
UM EXEMPLO
Para a Câmara Municipal das Caldas da Rainha, o regresso do mercado de Santana pode servir de exemplo para outras feiras.
“Dada a dimensão do mercado era necessária uma envolvência da Câmara e, globalmente, correu muito bem”, salienta Tinta Ferreira, não escondendo que “há alguns pormenores para melhorar, nomeadamente no sentido de pedir aos compradores que cumpram a regra de distanciamento social”.
O autarca deixou uma “palavra de apreço aos vendedores, que fizeram um esforço para estar à altura do momento” e assumiu que pretende “tentar replicar a fórmula no Mercado semanal” das Caldas, num “esforço de potenciar a actividade económica e ter uma dose de equilíbrio em termos sanitários”.
Junta de Alvorninha agradece apoio da Câmara

O presidente da Junta de Alvorninha, José Henriques, chegou cedo na madrugada de domingo ao Mercado de Santana, para se assegurar de que a reabertura decorria dentro do que estava planeado pelas autoridades. A meio da manhã, o autarca fez à Gazeta das Caldas um balanço positivo dos trabalhos de reordenamento do espaço e deixou um “agradecimento público” à Câmara Municipal pelo “apoio logístico” fornecido.
“Foi uma operação complexa para a Junta, porque o recinto é muito grande e para cumprir o plano de contingência implicou fazer algumas alterações”, resumiu o autarca, agradecendo a disponibilidade dos meios da Câmara. “A Junta tem os meios que tem e, nesta fase, a ajuda da Câmara foi importante”, reconheceu José Henriques, mostrando, igualmente, agrado pela forma como o público aceitou as novas regras de acesso ao Mercado.
“Apesar de tudo, as pessoas tiveram rotação dentro do recinto, mas elas não estão habituadas a ter o tempo contado para fazer compras”, notou o autarca, deixando também elogios aos feirantes, que se mostraram “colaborantes” em toda a operação de reabertura.
“O pedido que, de certo modo, fizeram para a reabertura do mercado é perfeitamente compreensível. Os feirantes vivem do negócio, pelo que merecem uma palavra de apreço neste período”, considerou o presidente da Junta de Alvorninha, entidade que tem a responsabilidade de gerir aquela estrutura.
“A saúde pública está primeiro e tivemos de tomar estas medidas para bem de todos e o regresso tem de ser calculado, para não sermos forçados a dar passos atrás”, completou o autarca.