Associativismo, tecnologia e a renovação geracional como garantes da agricultura

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Os oradores partilharam, durante mais de três horas, a sua visão para uma agricultura de futuro
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Conferência promovida pelo PSD, nas Caldas, juntou diversos produtores e políticos para falar dos desafios que se colocam ao setor

“Temos um défice agro-alimentar de cerca de 5,5 mil milhões de euros. Devemos contribuir para a autonomia estratégica da União Europeia, aumentando as nossas exportações e diminuindo as nossas importações”. Quem o defende é o ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, para quem a valorização do agricultor é fundamental, aumentando o seu rendimento. O governante, que participou numa conferência sobre o futuro da agricultura, que juntou 140 pessoas na noite de 28 de novembro, nas Caldas da Rainha, partilhou algumas das respostas que a tutela tem para o setor, desde logo o aumento do prémio base para o jovem agricultor e a renovação geracional.
Este governo já aumentou o prémio de instalação, que é agora de 25 mil euros se não for em exclusividade, de 50 mil euros em exclusividade, e de 55 mil euros numa zona vulnerável. “O apoio que era de 208 mil euros passou para 400 mil euros”, salientou o membro do governo que está a trabalhar também na possibilidade de empréstimos a taxas de juro mais baixas e que, no caso dos jovens agricultores, possa ser de zero.
José Manuel Fernandes defendeu a utilização de programas europeus para a realização de investigação massiva sobre problemas no setor, mas também a possibilidade do PRR abarcar a agricultura.
Os programas operacionais de cada CCDR, que têm vindo a ser feitos pelo ministro da Coesão passarão a contar também com o da Agricultura na sua definição.
“Se queremos agricultura de precisão não podem ser os fundos da PAC a levar a internet a cada território, têm de ser os da política de coesão”, salientou, acrescentando que o ministro da Coesão vai ajudar a rever o programa, para que as adegas cooperativas e as empresas de transformação também possam ser financiadas pelo Compete 2030.
O aproveitamento da água também foi aflorado pelo governante, que deu nota da abertura de um concurso para charcas, no valor de 9 milhões de euros, com apoios de 50 a 75%.
Também presente presente na conferência, o antigo secretário de Estado da Agricultura, José Diogo Albuquerque, falou do regadio de Óbidos, que viria a ser aprovado durante a sua governação. Destacou a estratégia interministerial “Água que nos Une”, de gestão sustentável da água, que considera que será “estruturante para o país”, aumentando a sua área regada e, por conseguinte, permitindo a diminuição do défice da balança comercial.
“Sinto que os nossos produtores necessitam de mais apoio no terreno”, manifestou o agricultor e autarca, Rui Henriques, que tem muitos jovens agricultores na sua freguesia. O elevado preço da produção desmotiva estes jovens que, “quando vêem que o lucro não permite pagar as suas contas, acabam por desistir”, partilhou.

A agricultura e a tecnologia
O fruticultor e dirigente associativo, Jorge Soares, deu o exemplo do projeto Maça de Alcobaça como resultado do associativismo, defendendo a sua importância. Este projeto representa um consórcio de 500 famílias, pequenos e médios produtores que atualmente têm uma produtividade na ordem das 30 toneladas por hectare. Foi também criada uma Indicação Geográfica Protegida, um “chapéu”, que permite à associação gerir a marca coletiva. Na sua opinião, as exigências, sobretudo ambientais, que se colocam ao setor frutícola são também o que o diferencia.
Jorge Soares defendeu uma maior organização dos agricultores e a existência de mecanismos financeiros e estruturantes. Uma opinião corroborada por António Gomes, ex-dirigente da Associação Interprofissional de Horticultura do Oeste e gestor da Biofrade, de agricultura biológica. “Temos de tirar o máximo de proveito dos nossos produtos hortícolas, que são de altíssima qualidade”, realçou.
A ligação da agricultura à tecnologia foi evidenciada por Ricardo Cardoso, CEO de empresas tecnológicas, dando nota das melhorias ao nível da produção e rentabilidade. “É importante que se consiga monitorizar para tirar melhores produções, uma melhor gestão da água, fazer uma nutrição mais adequada às necessidades das plantas”, exemplificou, destacando que, neste momento, começa a haver uma maior apetência, por parte dos agricultores, para a tecnologia.
E porque a agricultura também passa pela formação, Paula Malojo, diretora da Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Cister (EPADRC) realçou a necessidade de existência de um trabalho de transversalidade entre ministérios, bem como da criação de Centros Tecnológicos Especializados na área agrícola. Defendeu ainda que o ministério da Educação deve de olhar para os técnicos especializados, que são considerados de necessidade temporária, sem vínculo às escolas, e que não encontram formação adequada nos centros de formação para professores. Do ministro veio a garantia de “tentar corrigir algumas injustiças com as escolas profissionais”.
A conferência, que contou com a moderação do presidente da Câmara de Óbidos, Filipe Daniel, insere-se num conjunto de iniciativas do PSD que têm por objetivo trazer os governantes aos territórios para que possam “transmitir o que está a ser feito e como”, explicou o presidente da distrital, Hugo Oliveira, destacando a capacidade de execução do atual governo. ■

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