Fruta desconforme pode dar origem a novos produtos e transformar-se em energia

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João Silva, da Cooperfrutas, a apresentar o composto orgânico que produzem com resíduos vegetais
Aproveitar a fruta sem valor comercial e trasformá-la noutros produtos, assim como as folhas e galhos em substrato, é o objectivo do projecto Pro Energy. Universidades e organizações de produtores do Oeste estão a trabalhar em conjunto para criar novos produtos e produzir energia, reduzindo os custos com a produção e trazendo mais conhecimento à fileira.
A Cooperfrutas, sediada em Alcobaça, é um exemplo prático da valorização do produto e economia circular, com a criação e comercialização de puré de fruta e de substrato vegetal.

O destino de uma pêra ou maçã com defeito ou de calibre baixo não tem que ser o lixo ou servir de alimento para animais. Esta fruta “feia” pode ter valor comercial transformada em polpa ou sumo, mas também aproveitados os seus ingredientes que poderão ter anti-oxidantes, corantes e fibras dietéticas.

Os resíduos que não podem ser transformados para criar novos alimentos, são encaminhados para valorização energética, através do processo de digestão anaeróbia, produzindo biogás.

Todas estas possibilidades estão a ser estudadas no projecto Pro Energy, liderado pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA) e que integra a Granfer (Óbidos), Campotec (Torres Vedras), Cooperfrutas e

João Silva, da Cooperfrutas, a apresentar o composto orgânico que produzem com resíduos vegetais
A fruta com defeito ou pequena, com baixo valor comercial, pode dar origem a outros produtos alimentares
As folhas e ramos são aproveitados para criar composto vegetal

(ambas de Alcobaça). A sua apresentação foi feita no passado dia 23 de Agosto, promovida pela Associação de Produtores da Maçã de Alcobaça, no âmbito da Feira dos Frutos.

De acordo com Joana Rodrigues, bolseira do ISA, as operações que geram mais bio resíduos são a escolha e calibração de frutos, onde são eliminados, em cada um deles, 4% a 6% dos frutos. No caso de processamento dos alimentos, o desperdício ainda é maior. Por exemplo, para a produção de saladas ou de fruta cortada pronta a comer, 40% a 50% da matéria prima é eliminada. Uma investigação universitária já permitiu a confecção de uma sopa com, pelo menos, 60% de inclusão desses resíduos (folhas de alface ou rúcula, casca de cenoura ou cebola) e “o painel de provadores aceitou bem o produto”, disse Joana Rodrigues.

O projecto Pro Energy arrancou em 2017 e o diagnóstico já foi feito. Os investigadores estão agora na fase de ensaios à escala laboratorial e depois pretendem levar uma unidade móvel de digestão anaeróbica para a Campotec.

“Será já na agro-indústria, à escala piloto, que vamos trabalhar, para depois implementar à escala regional”, explicou a investigadora.

No caso da valorização energética serão utilizados, não só os resíduos das frutas e hortícolas, mas também os efluentes das explorações pecuárias, nomeadamente suiniculturas. O biogás produzido poderá ser integrado como fonte de energia na própria agro-indústria e o composto resultante utilizado como fertilizante.

O projecto que tem um financiamento de 371 mil euros (apoiados por fundos comunitários) decorrerá até Setembro de 2020.

O exemplo da Cooperfrutas

A Cooperfrutas é um exemplo ao nível das boas práticas de aproveitamento e valorização dos produtos. Esta organização de produtores, sediada em Alcobaça, começou há meia dúzia de anos um plano de racionalização de energia eléctrica, com o objectivo de reduzir os custos da energia e as emissões de dióxido de carbono (CO2). Criaram e instalaram um software próprio em vários locais da central, que lhes permitiu ver os consumos afectos à calibragem, embalamento. “Conseguiu-se uma análise da energia, quantificar os custos e benefícios e implementar um plano estratégico”, explicou o representante da Cooperfrutas, João Silva. Já este ano juntaram-se a várias organizações de produtores para comprar a energia em conjunto, possuindo assim um maior poder negocial.

Os telhados da central fruteira estão cobertos por 1020 painéis fotovoltaicos, cuja venda da energia produzida permite uma redução de 12 a 15% de custos energéticos, que andam na ordem dos 400 mil euros anuais.

Além disso, conseguem reduzir 85 toneladas de co2 por ano, o que equivale a dizer que plantam, anualmente, 18 hectares de floresta.

Esta central fruteira tem uma produção anual na ordem das oito mil toneladas e espera chegar às 15 mil toneladas dentro de três anos. A fruta que não tem valor comercial é vendida para a indústria dos sumos e usada na criação de purés, de maçã, pera rocha e mistura dos dois frutos.

As folhas e ramos de árvore que vêm dentro das caixas de fruta que chegam à central são recolhidas para compostagem. A organização desenvolveu uma máquina onde, além destes resíduos, também coloca fruta podre e relva do jardim, que depois são triturados e ficam em depósito durante algumas semanas até se transformar em composto orgânico.

A Cooperfrutas estabeleceu uma parceria com uma associação de pessoas com deficiência que, de 15 em 15 dias, em que um conjunto de utentes desloca-se à central fruteira e embalam o resíduo orgânico, que depois é vendido em 35 lojas do distrito de Leiria, sobretudo floristas e garden centres. Por ano são produzidas cerca de oito toneladas de composto.

Esta organização possui 95 produtores dos concelhos de Caldas da rainha, Alcobaça e Rio Maior e trabalha sobretudo com pera e maçã, sobretudo, mas também pêssego e ameixa.